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Mercado de livros retoma na crise e empresas se unem para aquecer setor

Vendas registram altas e editoras e livrarias apostam em lançamentos e papel de lojas físicas para alavancar resultados no fim do ano

Por Felipe Mendes Atualizado em 4 nov 2020, 15h31 - Publicado em 4 nov 2020, 14h28
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  • Distração e fonte de inspiração nos momentos mais sombrios, o livro recuperou sua força em meio à pandemia do novo coronavírus. Segundo dados da consultoria Nielsen BookScan em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, o Snel, as vendas do produto cresceram nos últimos meses, o que tem pressionado positivamente os indicadores do ano. Em setembro, por exemplo, o avanço em faturamento foi de 7% em relação ao mesmo período do ano anterior. No acumulado entre janeiro e a primeira semana de outubro, entretanto, o cenário ainda é de redução:  queda de 4,68% em volume e de perda de 5,26% em receita, para 1,25 bilhão de reais. A diferença na passagem anual poderia ser muito maior, mas o comércio eletrônico, que foi o principal canal de vendas enquanto as livrarias físicas estiveram de portas fechadas por conta das medidas restritivas, tem sido decisivo. Agora, o desafio é trazer o consumidor de volta às lojas físicas. Para isso, editoras e livrarias estão no último estágio para anunciar uma parceria inédita, que se chamará “Tudo Começa na Livraria”.

    O objetivo do setor é fisgar o cliente com uma proposta atraente para a comercialização de lançamentos no país, já que a venda de novos títulos anda devagar. O esforço, segundo empresas do setor, se faz necessário para recuperar o potencial perdido com os novos títulos que chegam ao mercado neste fim de ano. O evento, que irá acontecer entre os dias 3 e 5 de dezembro, é uma iniciativa conjunta das redes Travessa, Livraria da Vila, Martins Fontes Paulista e das editoras Companhia das Letras, Record, Sextante, entre outras. Na ocasião, os títulos lançados serão comercializados com 20% de desconto sobre o preço sugerido no ponto de venda. “A ideia é fazer um grande barulho em relação aos lançamentos que estão por vir. Vamos fazer uma série de eventos, como palestras com autores e lives para quem não puder acompanhar presencialmente”, diz Alexandre Martins Fontes, diretor-executivo da editora WMF Martins Fontes e dono de duas unidades da rede de livrarias que leva seu sobrenome.

    O slogan da campanha é importado de uma ação parecida na Espanha. “Os livros lançados na pandemia foram um fracasso. O mercado editorial sobreviveu. A queda não foi tão ruim quanto imaginávamos no começo. Mas percebemos que as livrarias físicas são fundamentais para o processo de conhecimento dos livros que chegam ao mercado”, reitera Martins Fontes. Entre janeiro e o início de outubro, 29.189.964 foram vendidos nos diversos canais de venda do país. A perda de 4,68% em relação ao ano anterior não assusta o setor, que vê espaço para crescer na reta final de 2020.

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    EXPANSÃO – Unidade da Livraria Leitura no Shopping Recife: empresa ignora o momento incerto e inaugura operação de 1.100 metros quadrados no Nordeste – (Leitura/Divulgação)

    Para Marcos da Veiga Pereira, presidente do Snel e sócio da editora Sextante, o e-commerce tem sido importante para a disseminação do livro na pandemia. No entanto, se por um lado essa penetração do mercado virtual traz maior volume, por outro impacta no preço-final, já que a política de descontos na internet é mais agressiva se comparada às lojas físicas. Em 2020, o desconto médio dos livros vendidos é de 21,34%, um avanço de 3,72 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior. “Nos últimos meses, Amazon, Americanas, Submarino e Magazine Luiza fizeram promoções que impactaram em maiores descontos ao consumidor. A tendência é que, com a Black Friday, isso continue acontecendo”, diz ele.

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    Com o mercado em efervescência, algumas redes voltaram a pensar em expansão. Maior companhia em número de unidades do país, são 77 atualmente, a Livraria Leitura estima uma perda de 25% em sua receita deste ano. Como suas lojas estão localizadas em aeroportos, rodoviárias e shopping centers, boa parte das unidades não retomou o mesmo patamar de vendas do período pré-pandêmico. “Algumas capitais, como São Paulo e Belo Horizonte, ainda estão com faturamento abaixo de 70% do que seria o considerado normal. Em aeroportos e rodoviárias, estamos vendendo cerca de 50% em relação ao que vendíamos no ano anterior”, diz Marcus Teles, proprietário da Leitura. Mesmo assim, o executivo pensa em ampliar sua capilaridade no país. A rede está prestes a abrir mais dois pontos de venda até o fim deste ano. E não deve parar por aí. Para 2021, são previstas 13 inaugurações. Em meio à pandemia, o e-commerce da rede, que foi reativado em 2019, manteve crescimento de 50% de um mês para o outro — algo que ajudou nesse processo foi o atendimento por meio do WhatsApp. “É mais fácil vender pelo WhatsApp do que em uma ligação telefônica. É um serviço mais completo, que tem sido muito útil”.

    Além da Leitura, a Livraria da Vila abrirá três pontos de venda, sendo que dois deles serão ainda em 2020, no ParkShopping, em São Caetano do Sul, e no Shopping Eldorado, em São Paulo. A outra unidade será inaugurada em meados de março de 2021, no Shopping Anália Franco, também na capital paulista. Para Samuel Seibel, presidente da rede, a ideia é aproveitar as oportunidades que aparecem. “Sempre estamos atentos a ouvir e avaliar oportunidades que surjam. Pensando nisso, achamos conveniente dar esse passo, mesmo nesse momento de redução no fluxo de clientes na livraria física”, declara Seibel.

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    Mercado

    As “oportunidades” surgem graças à vacância deixada pela Livraria Saraiva. Outrora um colosso do mercado, a companhia tem reduzido seu tamanho drasticamente nos últimos meses em busca de um reequilíbrio operacional. Se em abril eram 74 unidades físicas, hoje são 39. Antes de simplesmente fechar as operações, a empresa tentou se desfazer de algumas unidades por meio de venda, num processo de abatimento das dívidas, mas não conseguiu. Em recuperação judicial, a Saraiva tenta se desfazer de ativos para arcar com suas pendências financeiras. Nesta quarta-feira, dia 4, o jornal Valor Econômico informou que a venda do e-commerce da marca, que alcança cerca de 1 milhão de clientes ativos atualmente, não interessou potenciais compradores como Magazine Luiza, Mercado Livre e Amazon. A negociação é tida como fundamental para a sobrevivência da rede. De acordo com seu pedido de recuperação, a dívida da empresa é avaliada em 675 milhões de reais.

    Quem também não anda bem das pernas é a Livraria Cultura. Recentemente, a editora Globo solicitou a falência da rede na Justiça. Tanto Cultura como Saraiva vivem um roteiro parecido, com destino incerto e potencial dramático elevado. Para um especialista do setor, a situação vivida pelas tradicionais redes do mercado é similar à história contada no livro Crônica de uma Morte Anunciada, do escritor Gabriel García Marquez. Ambas as companhias não conseguem arcar com os pagamentos previstos em seus planos de recuperação e, por isso, têm sofrido represálias constantes das editoras, que já nem desconsideram-nas para a distribuição de seus novos títulos. Para Veiga Pereira, há um processo de substituição em curso por parte do consumidor. “Algumas redes como Leitura, Livraria da Vila e Travessa estão ganhando mais espaço nesse momento”, reconhece. “Infelizmente, a Saraiva e a Cultura estão com seus acervos desfalcados. O que leva as pessoas às livrarias físicas hoje é um catálogo de novidades.”

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