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Por que a versátil WEG se tornou a bola da vez da bolsa de valores

Com atuação em mais de 130 países e participação em diversos segmentos, empresa é referência na indústria nacional e, agora, das carteiras de investimentos

Por Felipe Mendes Atualizado em 20 set 2020, 15h15 - Publicado em 20 set 2020, 08h00
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  • Assim como todo bom jogador de futebol polivalente, que atua em diversas faixas do campo, tem mais chances de se encaixar no esquema tático de um treinador, a versatilidade da fabricante de motores catarinense WEG faz dela um bom exemplo do desenvolvimento econômico do país. Mas não só isso. A empresa também é uma aposta constante na carteira dos investidores no Ibovespa, principal índice que mede o desempenho dos papéis listados na bolsa de valores de São Paulo. Se, em abril de 2019, a companhia detinha 53.390 acionistas pessoa física, um ano depois esse número pulou para 219.109. Um crescimento espontâneo acima de 300%. Não à toa, a fabricante catarinense é a segunda corporação com maior alta em valor de mercado dentre as companhias de capital aberto no Brasil em 2020, com uma evolução de 57,3 bilhões de reais entre janeiro e a última sexta-feira 18, segundo dados da Economatica – somente a varejista Magazine Luiza valorizou-se mais no mesmo período: 64 bilhões de reais. A ação da WEG é cotada em 61,99 reais. A XP Investimentos considera este patamar próximo ao cenário-base, em que o preço-alvo por ação é de 68,90 reais. Ou seja, a empresa se tornou cara para novos entrantes. Mas, no cenário otimista, ainda haveria fôlego para que o papel chegue a 89,60 reais.

    O que anima tanto os investidores está além de sua operação diversificada. Os números sólidos no balanço e a forte agenda de inovação são fatores cruciais para a companhia figurar na carteira de muitos acionistas. No primeiro semestre do ano, mesmo com os efeitos da pandemia de coronavírus e com determinados segmentos da indústria patinando, a fabricante de motores continuou apresentando números robustos frente a 2019. A receita líquida da empresa, por exemplo, saltou 25,1%, para 7,8 bilhões de reais. O lucro líquido, por sua vez, disparou 37,2%, para 954,4 milhões de reais. E a geração de caixa da companhia cresceu 35,3%, para 1,3 bilhão de reais. Não menos importante, o retorno sobre o capital investido no período foi de 21,6%, avanço de 3,2 pontos percentuais na passagem anual. “Trabalhamos com um sistema de expansão modular, que nos permite adequar a capacidade das fábricas de acordo com a demanda. Por isso, conseguimos fazer algumas postergações em investimentos para evitar capacidade ociosa e maximizar o nosso retorno sobre o capital investido”, diz André Luiz Rodrigues, executivo-chefe de finanças da WEG.

    Fundada em 1961, em Jaraguá do Sul, interior de Santa Catarina, a empresa passou de uma pequena fábrica de motores elétricos para uma companhia robusta, com fornecimento de sistemas elétricos industriais completos. A WEG desenvolve produtos empregados em segmentos de infraestrutura, siderurgia, papel e celulose, mineração, saneamento, alimentos e bebidas, sucroalcooleiro, energia renovável, dentre outros. Com mais de 32.000 funcionários em 42 operações espalhadas por 12 países, 33 centros de pesquisa tecnológica e pontos comerciais em 36 nações, a companhia consegue fornecer equipamentos para quase 140 países. Segundo Rodrigues, a WEG colhe os frutos da visão de seus três fundadores: Werner Woigt (1930-2016), Eggon Silva (1929-2015) e Geraldo Werninghaus (1932-1999). Nos anos 1970, os antigos sócios, cujas iniciais deram origem ao nome da empresa, mapearam uma expansão global com o intuito de marcar território. “Eles sempre tiveram um pensamento vanguardista de que uma indústria, para ser bem-sucedida, precisa estar exposta à competição internacional”, diz Rodrigues.

    Hoje, 42% da multibilionária receita da companhia vem do Brasil. Mas a atuação diversificada permite que 26% de seu faturamento seja proveniente da América do Norte, 15% da Europa, 6% da Ásia-Pacífico, 6% de América Central e América do Sul (excluindo-se o Brasil), e 5% da África. Até por isso, casas de análise, corretoras e bancos olharam com suspeitas o potencial da empresa para passar sem grandes danos pela pandemia de Covid-19. Os resultados surpreenderam. “Num primeiro momento, a pandemia nos trouxe muita preocupação. Ela começou na China, onde temos quatro bases industriais e cerca de 2.000 funcionários. Depois foi se alastrando para a Europa e para as Américas, onde temos diversas plantas. Então, decidimos postergar parte dos investimentos por conta da incerteza no cenário macroeconômico”, diz o diretor financeiro. “Com a retomada da economia ao decorrer do segundo trimestre, identificamos uma recuperação da demanda em diversos segmentos. Com isso, esperamos atingir algo em torno de 80% do nosso planejamento de investimento inicial para o ano.”

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    A empresa será uma das beneficiadas do novo marco legal do saneamento básico, que prevê a universalização do acesso à água potável e tratamento da coleta de esgoto até o fim de 2033. Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, o Brasil receberá até 800 bilhões de reais em investimentos no setor nos próximos anos. Para Rodrigues, os aportes em projetos de água e esgoto demandarão mais motores elétricos, bombas para captação de água e tintas industriais, tal como outros produtos do portfólio da WEG. “Independentemente de ser um grande avanço para o Brasil, o novo marco do saneamento representa um potencial enorme para a WEG nos próximos anos”, diz ele. “Estamos muito confiantes que os investimentos vão acontecer e que a iniciativa privada entrará nesse jogo.”

    Outro fator que faz os olhos dos investidores brilharem ao ouvirem falar o nome da companhia catarinense é sua agenda de inovação. Recentemente, a WEG abriu a carteira e fez importantes aquisições que culminaram na criação de uma divisão digital. Para entrar no caminho da indústria 4.0, a companhia adquiriu o grupo PPI-Multitask, que é voltado à integração de sistemas de automação industrial; e as startups V2COM, de telemedição para energia elétrica; Mvisia (especializada em soluções de inteligência artificial aplicada à visão computacional para a indústria) e BirminD, de automação de dados. As aquisições aliadas ao desenvolvimento de tecnologia interno da companhia deram origem à WEG Digital Solutions e à plataforma IoT WEGnology. “Sem inovação, jamais poderíamos estar competindo no mercado internacional da forma como nós competimos, sendo o número três do mundo em fornecimento de motores elétricos de baixa tensão, com uma excelente participação na China e nos EUA”, afirma. Hoje, cerca de 1.700 funcionários da empresa trabalham na área de desenvolvimento e pesquisa.

    Para o Brasil voltar a crescer, o executivo pede que as reformas estruturantes avancem. Em suas palavras, “uma nação rica só se constrói com tecnologia e indústria forte”. A verdade é que, para boa parte da indústria brasileira, a última década foi preocupante. Segundo números da Confederação Nacional da Indústria, o índice de confiança do empresário está se recuperando passado o baque inicial do novo coronavírus. Na última amostra do ICEI, que mede a confiança da indústria de zero a 100 pontos, os números evoluíram de 57,0 pontos em agosto para 61,6 pontos em setembro. É o maior patamar para o mês desde setembro de 2010, quando o indicador alcançou 63,3 pontos. “Se as condições forem favoráveis, vamos continuar contribuindo com vigor para o crescimento do Brasil. A agenda de reformas precisa avançar, com destaque para uma reforma tributária que simplifique o sistema tributário e desonere a exportação para trazer competitividade à indústria brasileira”, diz Rodrigues. “A reforma administrativa e o prosseguimento da agenda de privatizações também são fatores importantes para colocar o Brasil nos trilhos novamente.”

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