Em julho de 2022, o Brasil deu um passo significativo rumo à modernização de sua infraestrutura de telecomunicações, com a ativação da primeira antena comercial de internet móvel projetada para operar aqui com a tecnologia 5G. Brasília, a capital do país, foi escolhida para estrear a novidade. O episódio marcou o início da implantação da 5ª geração de redes móveis no país. A tecnologia oferece velocidades de internet mais altas e menor tempo de resposta entre dispositivos, além de permitir que mais aparelhos se conectem à rede simultaneamente. Se, para os usuários comuns, isso melhora experiências como assistir a vídeos ou participar de jogos on-line, para as empresas a 5G estimula a integração de máquinas na linha de produção, gerando ganhos de eficiência. Dois anos depois, o Brasil já colhe bons resultados com o avanço da nova tecnologia de comunicação, mas ainda resta um longo caminho até que possa se beneficiar de todo o seu potencial transformador.
A rede 5G foi ativada em todas as capitais brasileiras ainda em 2022. Agora, conforme o cronograma da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), as operadoras têm até julho de 2025 para cobrir as 51 cidades com mais de 500 000 habitantes. Um ano depois, a cobertura deverá alcançar os 152 municípios com população superior a 200 000. Segundo a Conexis, o sindicato das empresas de telecomunicações, cerca de 70% da meta para 2025 já foi cumprida.
![GettyImages-2025059216.jpg AUTOMAÇÃO - Linha de produção com robôs: mais integração de equipamentos](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2024/07/GettyImages-2025059216.jpg.jpg?quality=90&strip=info&w=1024&crop=1)
“O Brasil se destacou na adoção da nova tecnologia nesses dois anos, em especial pela implementação da 5G pura, que oferece uma qualidade de rede muito melhor”, diz Juarez Quadros, ex-ministro de Comunicações e ex-presidente da Anatel. “5G pura” é o nome popular dado à rede construída apenas com a tecnologia de 5ª geração, sem depender de estruturas remanescentes da 4G, que tendem a tornar a conexão mais lenta. O país se tornou o primeiro da América Latina a implantar o serviço. E conta hoje com uma das conexões 5G mais velozes do mundo. Segundo uma pesquisa da Ookla, empresa americana de conectividade, a 5G do Brasil foi a quinta mais rápida em 2023, atrás das de Emirados Árabes Unidos, Coreia do Sul, Malásia e Catar.
Há problemas, no entanto. As principais operadoras de telefonia do país (TIM, Vivo, Claro e Oi) foram multadas há pouco num total de 5,6 milhões de reais pela Secretaria Nacional do Consumidor por supostas propagandas enganosas quando a 5G “pura” ainda não era oferecida no país, antes de 2022. A avaliação do órgão é que as empresas não informaram devidamente os consumidores sobre limitações de desempenho. As empresas podem recorrer.
Em termos de cobertura do serviço, o Brasil ainda está longe de figurar entre os líderes mundiais, como Estados Unidos, Coreia do Sul, Índia e países europeus, onde alcança a maior parte do território. Atualmente, a 5G chega a 589 cidades brasileiras — cerca de 11% do total. Pelos planos da Anatel, apenas em 2029 a tecnologia estará disponível em todo o país. A TIM lidera o processo de implantação, segundo um levantamento da consultoria Teleco, oferecendo a 5G para 321 cidades. Em seguida, vêm a Claro, com 254 cidades, e a Vivo, com 229. Segundo as operadoras, um dos maiores obstáculos para a expansão do serviço é a defasagem das leis municipais. Muitas cidades, por exemplo, exigem licenciamento ambiental para instalar as antenas. As empresas argumentam que a legislação foi criada para lidar com tecnologias anteriores, que demandavam equipamentos maiores. Como as antenas 5G são mais compactas, não prejudicam tanto o meio ambiente e, por isso, deveriam ser dispensadas da exigência. “A infraestrutura de comunicação muitas vezes esbarra na própria lei do município”, diz Marcos Ferrari, presidente da Conexis.
A Anatel aposta ainda em redes privadas de 5G, criadas por empresas de vários ramos em parceria com operadoras, e já licenciou 66 delas desde 2022. Na fábrica da Huawei em Sorocaba (SP), por exemplo, a rede liga empilhadeiras autônomas a câmeras com inteligência artificial. A empresa diz que a integração oferecida pela 5G privada elevou em 25% a eficiência da operação e reduziu o ciclo de produção de dezessete para sete horas. Não à toa, um estudo de 2021, feito pela consultoria Delloite para o então Ministério da Economia, indicou que a 5G poderia gerar ganhos anuais de 590 bilhões de reais ao país até 2031, decorrentes do aumento de produtividade. A indústria de transformação é a que mais lucraria, capturando 233 bilhões de reais. Isso, claro, se novas leis municipais permitirem.
Publicado em VEJA de 26 de julho de 2024, edição nº 2903