Com a taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) próxima a 100% em estados como Amapá, Pernambuco e Maranhão, a produção de novos respiradores se torna vital para aumentar a capacidade dos hospitais e salvar as vidas de pacientes diagnosticados com covid-19. Em meio à pandemia, a compra de novos respiradores se tornou uma dor de cabeça para os governos e principalmente para os cidadãos, que precisam dos aparelhos. Em São Paulo, o Ministério Público apura irregularidades na compra de 3 mil respiradores da China a preço médio de 180 mil reais cada, quando modelos similares são encontrados por 60 mil no mercado. No Rio, a compra de 500 carrinhos de anestesia — que não podem ser utilizados nas unidades de saúde — em vez de respiradores fez o governador Wilson Witzel (PSC) romper o contrato com o Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas), responsável pela construção de sete hospitais de campanha no estado. Os preços inflacionados, a compra de aparelhos inadequados e até mesmo de respiradores quebrados são fatores que atrasam o atendimento adequado aos pacientes e aumentam a angústia da população, que vê o vírus se alastrar pelo país e os sistemas de saúde dos estados entrarem em colapso.
Para ampliar a produção de respiradores no país e suprir a demanda do Ministério da Saúde pelo equipamento, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), uma organização social financiada com recursos dos Ministérios da Ciência Tecnologia, Inovação e Telecomunicações, Educação e Saúde, se uniu à Constanta, empresa nacional chave na fabricação desses equipamentos e responsável pela manufatura da Intermed em um projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I). O Ministério da Saúde assinou contrato com a Intermed para aquisição de 4.300 respiradores. O investimento federal para a aquisição dos equipamentos é de R$ 258 milhões, um custo de médio de 60 mil reais por aparelho.
Seguindo as normas de rastreabilidade instituídas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), testes e avaliações da qualidade dos produtos, hoje feitos manualmente, serão automatizados com o desenvolvimento de dispositivos e sistema dedicados. Com a tecnologia, o potencial de produção passará de quatro para 110 respiradores por dia, um aumento de 2.600%. O crescimento no ritmo de produção será escalonado, ou seja, de maneira gradativa. A expectativa é entregar todos os 4.300 equipamentos para o Ministério da Saúde até o mês de julho.
“Fortalecer uma indústria da saúde inovadora é essencial para o enfrentamento à pandemia. Nesse momento precisamos apoiar mais do que nunca o setor produtivo nacional e inovação é o melhor caminho. A Embrapii, com recursos oriundos do MCTIC e MEC, tem exatamente esse papel. Este projeto vai aumentar o potencial de atendimento do SUS, trazendo um cenário de maior segurança aos brasileiros”, destaca José Luis Gordon, diretor de Planejamento e Gestão da Embrapii. A instituição vai financiar 50% do projeto com recursos não reembolsáveis. “Nós fazemos toda a parte de eletrônica dos equipamentos e com essa nova demanda, passaremos a realizar a integração e a montagem de parte do aparelho. Estamos contratando mais de 50 pessoas e iremos implantar um outro turno para conseguir atingir essa meta”, explica Roberval Tavares, CEO da Constanta, responsável pela manufatura da Intermed, uma das quatro empresas fabricantes de respiradores no Brasil e que firmou o contrato com o Ministério da Saúde.