O presidente Jair Bolsonaro corre contra o tempo. Após anunciar a exclusão do nome do presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, como conselheiro da petroleira, o governo busca um novo nome para tomar posse em seu lugar — como conselheiro e diretor-presidente. Especulações para a vacância não faltam. Nos bastidores, trava-se uma disputa intensa para a escolha. A balança já esteve pendendo para o Centrão, base da estrutura do governo Bolsonaro, mas, com as recusas de Rodolfo Landim (à presidência do conselho) e Adriano Pires (como diretor-presidente), o jogo de forças tem sido redesenhado, com a volta dos militares e o ministro da Economia, Paulo Guedes, à mesa.
O preferido de Guedes para a posição é seu secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Caio Mário Paes de Andrade. Sem forças para exigir um presidente que atenda aos anseios do mercado financeiro, Guedes vê seu candidato se embrenhar no Congresso em busca de um apoio mais próximo a Bolsonaro. Segundo informações da coluna Radar Econômico, de VEJA, Paes de Andrade tem feito campanha junto a Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República. Guedes, por sua vez, tem preferido ficar alheio à disputa. “Esse é um problema do presidente e do ministro Bento”, afirma aos secretários e assessores, em alusão ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
O nome do assessor de Guedes pode enfrentar resistências, tanto internamente quanto entre o empresariado. Um importante empresário relatou a VEJA, em condição de anonimato, sua preocupação com a possível escolha de Paes de Andrade para o posto. Apesar de reconhecer que Paes de Andrade tenha um bom currículo, o secretário especial não tem conhecimento do setor de óleo e gás (demanda prevista em estatuto para cargos de diretoria) e, portanto, não teria atributos para assumir o posto de presidente da petroleira. “Basta olhar o currículo. Tem ótimos executivos para serem escolhidos. O presidente não pode escolher alguém que não entenda sobre o setor”, ressalta.
Com formação em comunicação social pela Universidade Paulista, pós-graduação em administração e gestão pela Universidade de Harvard e mestrado em administração de empresas pela Universidade Duke, nos Estados Unidos, Paes de Andrade tem liderado uma verdadeira revolução digital dos serviços públicos no país. Anunciado em agosto de 2020 como substituto do ex-secretário especial Paulo Uebel, ele é um dos principais responsáveis pela expansão dos serviços digitais do governo em plena pandemia de Covid-19 — antes disso, Paes de Andrade era o presidente da estatal Serpro. “A pandemia nos forçou a acelerar mais a parte de atendimento ao cidadão do governo federal. Hoje, nós temos mais de 3 mil serviços do governo federal que estão disponíveis no meio digital”, disse ele, em entrevista a VEJA, no fim de 2021.
“Quando nós chegamos aqui esse programa ‘gov.br’ era incipiente e confuso, mas nós conseguimos colocar ele nos trilhos ao ponto de evoluirmos de 1,8 milhão de pessoas cadastradas através de um login único para mais de 115 milhões de cadastros. Até o meio de 2022, nós vamos estar com a população brasileira praticamente toda conectada ao Estado por meio do ‘gov.br’. Isso é uma vitória gigante para o Brasil, que vai nos fazer acelerar também a implementação da identidade digital”, divulgou. “Quando você junta o ‘gov.br’, o PIX e open banking, você muda completamente o perfil de crédito das pessoas e o perfil de crédito de quem quer dar crédito para as pessoas.”
O trabalho da secretaria comandada por Paes de Andrade no Ministério da Economia fez o Brasil ser reconhecido pelo Banco Mundial, em outubro de 2021, como o sétimo país com a mais alta maturidade em governo digital no mundo. O resultado foi medido no GovTech Maturity Index 2020, um ranking que avalia o estado atual da transformação digital do serviço público em 198 economias pelo mundo. Na tabela, liderada pela Coreia do Sul, o Brasil ficou à frente de países como Estados Unidos e Canadá. Paes de Andrade também é um dos principais responsáveis, por parte do governo, pela proposta de uma reforma administrativa, capaz de modernizar o serviço público e que está parada no Congresso.
Quando questionado sobre a intriga com a oposição pela aprovação do projeto, Paes de Andrade disse que a reforma administrativa é suprapartidária. “O Brasil precisa fazer uma reforma do Estado. A gente acredita em alternância de poder e que algum dia a oposição estará aqui, mas ela não vai conseguir fazer a gestão do país. O Estado vai se autoconsumir para pagar salário, numa burocracia absurda”, diz ele. “O nosso sistema de gestão pública é extremamente complicado. Ele foi sendo construído ao longo de muitos anos e absorvendo uma série de idiossincrasias momentâneas de diversos períodos históricos e isso está tudo junto até hoje, ao ponto de nós termos um Estado que pesa demais no orçamento federal, estadual e municipal. Precisamos modernizar o Estado, as grandes democracias do mundo já passaram por isso.”
Estatal
Paes de Andrade, no entanto, não corre sozinho nessa disputa. Os nomes dos executivos Márcio Weber, atual conselheiro da petroleira, Decio Oddone, ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e atual CEO da Enauta, e de Vasco Dias, conselheiro da Cosan, estão no pleito, segundo fontes de mercado. Questionados por VEJA, tanto Weber quanto Oddone preferiram desconversar sobre a hipótese. A reportagem não conseguiu contato com Dias. No caso de Paes de Andrade, a falta de experiência no setor será um grande empecilho, conforme VEJA destrinchou há algumas semanas, quando seu nome entrou no radar do governo para a posição. Segue a incógnita.