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O que os pedidos de seguro-desemprego dizem sobre as eleições nos EUA

A sinalização aos trabalhadores da indústria foi fundamental para o favoritismo de Biden em estados que na última eleição escolheram Trump

Por Luisa Purchio Atualizado em 6 nov 2020, 02h21 - Publicado em 5 nov 2020, 15h34
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  • Dados divulgados nessa quinta-feira, 5, pelo Departamento de Trabalho dos EUA mostraram que o desemprego diminui lentamente nos Estados Unidos e permanece bastante acima dos patamares pré-pandemia, o que ajudou a influenciar a decisão do americano nas urnas destas eleições. Na semana encerrada em 31 de outubro, o número de pedidos de auxílio desemprego  foi de 751 mil, levemente abaixo dos 758 mil revisados da semana anterior. Já as reivindicações contínuas na semana encerrada no dia 24 de outubro caíram 538 mil, para 7,29 milhões, na sexta queda consecutiva. Os números são inferiores aos estimados pelos economistas, que previam 735 mil pedidos de auxílio e 7,2 milhões em reivindicações contínuas.

    Nesta semana de pleito eleitoral, a população decidiu quem será o próximo chefe da Casa Branca em meio a um contexto peculiar de crise econômica. A forma como o presidente americano Donald Trump, reagiu à pandemia, principalmente no tocante às políticas de estímulo econômico, influenciaram diretamente no voto do americano. Os EUA encerraram o ano passado em uma situação de pleno emprego, com o nível de desemprego em torno de 3,5%, o menor em quase 50 anos, e em setembro deste ano o índice estava em 7,9%. A política ambiguamente liberal e protecionista de Donald Trump, que diminuiu os impostos às empresas e travou uma guerra comercial com a China, foi benéfica para as empresas do país, principalmente para aquelas que sucumbiam com o aumento da concorrência internacional. “Trump fez uma série de exigências para a volta da indústria americana com uma política ‘antiglobalista'”, diz Tharcisio Bierrenbach, consultor em cenários econômicos e finanças, residente na Flórida.

    Nas eleições dos Estados Unidos de 2016, a decadência do chamado “circuito da ferrugem”, termo que se refere às indústrias manufatureiras do país, era tanta que os estados onde grande parte dessas indústrias se localizam, como Pensilvânia, Wisconsin e Michigan, até mudaram o seu posicionamento eleitoral, tradicionalmente democrata desde os anos 1980, para votar no candidato Trump, que prometia “fazer a América grande de novo”. Com o empresário na Casa Branca, essas indústrias começaram a voltar com o aumento das encomendas dos produtos propriamente americanos, o que proporcionou a geração de empregos.

    Com o surgimento da Covid-19, no entanto, o quadro mudou, e a situação de pleno emprego foi por água abaixo. Um dos primeiros pontos que pesam contra Trump foi ignorar a gravidade da Covid-19, com discursos políticos às recomendações das autoridades sanitárias. Além disso, a política econômica não resolveu por completo os problemas do país, que encerrará o ano com uma retração de 4,2% no PIB de acordo com as últimas projeções do FMI. “A forma como Trump enxergou a pandemia desagradou a população e, economicamente, o país vai terminar o ano muito pior do que começou. Isso aconteceu em todo o mundo, mas aqui é os Estados Unidos”, diz Bierrenbach.

    Para Daniel de Toledo, advogado especialista em direito internacional, residente no Texas, o cheque de auxílio emergencial dado pelo governo federal à população gerou um efeito colateral: as empresas passaram a ter dificuldade de encontrar mão de obra, uma vez que passou a ser mais interessante economicamente para uma família americana ficar em casa e receber os auxílios governamentais do que sair para trabalhar, o que lhe renderia menos na ponta do lápis. Por isso, a situação por trás dos números seria mais grave. “Na verdade não existe falta de posto de trabalho nos EUA. Esse foi um tiro muito mal dado por Trump. Ele sempre criticou essas medidas governamentais, que são características dos democratas, e colocou-as em prática. Em ano eleitoral, ele tinha certeza que a política de sustento garantiria votos, mas foi uma escolha mal feita”, diz ele.

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    Outra decisão de Trump que teria sido equivocada foi a suspensão dos vistos Hs, sendo o H1 dedicado temporariamente a imigrantes que possuem habilidades especiais, e o H2 para quem pode realizar trabalhos sazonais, para os quais falta mão de obra americana, como colheita e limpeza de estradas em temporada de neve. “Trump baniu esse visto com a expectativa de criar empregos para os americanos, mas as empresas, principalmente de tecnologia, não encontraram pessoas capazes de realizar o trabalho e ficaram sem a sua mão de obra”, diz Toledo.

    Nesse contexto, a proposta neokeynesiana democrata, que visa mais gastos públicos para investir em infraestrutura e, assim, gerar empregos, se destacou. A ela, se somaram as propostas de Biden para proteger a hegemonia industrial do país e incentivar a produção local, com a criação de milhões de novos empregos e, ainda, a criação de impostos para empresas que terceirizam para outros países a fabricação de produtos. Dessa forma, em estados do “circuito da ferrugem”, como Michigan e Wisconsin, decisivos nessas eleições, Joe Biden ganhou do republicano Trump e se aproxima da confirmação de sua conquista do cargo mais poderoso do mundo.

     

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