Está difícil para que os investidores estrangeiros voltem a acreditar no país. Mas os números provam que as recentes apresentações de projetos para alterar o sistema de impostos e o funcionalismo podem servir de gás para que o Brasil colha os louros de investimentos externos. Segundo um relatório divulgado pelo Tesouro Nacional nesta segunda-feira, 28, em agosto, o país foi o que registrou menor alteração negativa em relação à percepção de risco de se investir no país em comparação com outros países emergentes. Não por acaso. O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, parecem ter se acertado e entrado em linha com o Congresso Nacional para o avanço das reformas, tendo como foco a desoneração da folha de pagamentos e fomento à criação de empregos. Apesar da pandemia de Covid-19 ainda ser uma pedra no sapato, o Brasil colheu o menos pior entre os péssimos resultados dos países emergentes no quesito. A confiança do estrangeiro caiu somente 1,3% em agosto em relação ao mês anterior, enquanto o México e o Peru amargaram redução de 18% e 17% seguindo os mesmos critérios.
Mas, vá lá, o cenário só não é mais problemático porque, nos últimos meses, graças à gestão errática da pandemia por parte de Bolsonaro, o país foi o que mais viu ruir seu respaldo em relação a risco no exterior. O Brasil ocupa a primeira colocação em relação aos demais países da América do Sul apresentados no relatório do governo na percepção de cenário para este mês — cujos dados devem ser divulgados em outubro. Apesar de ter a menor alteração negativa entre os comparados, o Brasil amarga 250 pontos base, utilizados como critério para a consolidação do risco, enquanto países como Chile e Peru contemplam 76 e 86 pontos, respectivamente, apesar de uma piora nas projeções de cenário para setembro. A aproximação recente de Bolsonaro com os partidos do Centrão, o acalmar do presidente e o natural arrefecimento da pandemia, com consequente aumento de consumo decorrente da reabertura econômica, também parecem, aos poucos, atrair o capital estrangeiro para o Brasil. De acordo com o Tesouro Nacional, o aumento na participação de não residentes no país em investimentos no país passou de 9% para 9,4%, fluxo positivo de 20,1 bilhões de reais.
O governo aponta os resultados como consequência da aversão ao risco no mercado externo, diante de dúvidas sobre a recuperação econômica e novos estímulos fiscais. De acordo com o levantamento do governo, agosto foi marcado pelo tom positivo no mercado externo. Os mercados acionários reagiram positivamente graças, segundo o relatório, às ações de tecnologia e ao noticiário positivo a respeito dos avanços nas vacinas para a Covid-19. Para setembro, porém, nem tudo são flores. A preocupação com a possibilidade de uma segunda onda de Covid-19 na Europa e as discussões políticas nos EUA levaram a um cenário de maior aversão ao risco, segundo o relatório do Ministério da Economia. Para piorar, o mercado não reagiu bem às formas tortas de financiamento do programa que substituirá o Bolsa Família, o Renda Cidadã.
Como mostra o Radar Econômico, o Banco Central (BC) teve que se mexer para evitar que o dólar decole depois do anúncio de que o governo usaria recursos originalmente destinados ao pagamento de precatórios e oriundas do novo Fundeb, o fundo para educação. O BC injetou 877 milhões de reais para segurar a moeda americana que, às 16h, era negociada a 5,62 reais, em alta de 1,22%. A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, afundava mais de 1,83% no mesmo momento. Vale lembrar que a ideia original da equipe econômica envolvia congelar reajustes nas aposentadorias e pensões para financiar o natimorto Renda Brasil — agora, Renda Cidadã. O ministro da Economia teve que tirar outras formas de pagar o novo programa do governo, sem descumprir o teto de gastos. A solução, ao que parece, não foi bem tragada pelo mercado.