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Sem reunião com Bolsonaro, Tereza trata à distância o veto chinês à carne

Ministra da Agricultura reclamou a interlocutores de não ter sido recebida pelo presidente para tratar da questão; China é o maior comprador do produto

Por Victor Irajá, Luisa Purchio Atualizado em 26 out 2021, 10h22 - Publicado em 25 out 2021, 11h06
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  • A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, esperava ser chamada pelo presidente Jair Bolsonaro para discutir a crise da carne bovina aberta com a China e, a partir disso, ir até o país asiático negociar pela liberação do produto. A ministra, entretanto, reclamou a interlocutores que não foi recebida pelo chefe para discutir alternativas e, a partir disso, tenta solucionar o fim do embargo à distância. Com dois casos de “vaca louca”, o país asiático, maior comprador do produto brasileiro, colocou embargo para compra do produto brasileiro desde o dia 3 de setembro. Alguns especialistas e parlamentares creditam a demora da liberação chinesa a uma retaliação política pelo governo brasileiro não demonstrar empenho e preocupação, por meio de declarações públicas, em solucionar o atentado ao consulado da China no Rio de Janeiro, ocorrido em setembro.

    Os dois bovinos identificados com Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), o nome técnico da doença que pode contaminar humanos, foram casos específicos e isolados e não apresentam risco de surto. Porém, para seguir o protocolo sanitário entre os dois países, o Brasil comunicou os casos à China e iniciou o embargo autoimposto – como é praxe no contrato internacional. Tanto a China quanto os produtores brasileiros têm interesse em retomar o comércio do produto, porém há um atraso provocado pelos trâmites e protocolos burocráticos.

    Por um lado, os chineses precisam rever a documentação e do outro os brasileiros precisam explicar o que ocorreu e mandar a documentação que sustenta estes argumentos. Tudo isso foi ainda agravado por dois feriados chineses que somaram 15 dias neste meio tempo. “As autoridades sanitárias precisam fazer essa avaliação com muito critério e muita seriedade. Nós vimos durante a pandemia da Covid-19 a preocupação deles com trabalhadores de frigoríficos, eles são bastante atentos ao tema de segurança sanitária”, diz Larissa Wachholz, especialista em relações comerciais sinobrasileiras e sócia da consultoria de investimentos Vallya.

    “Não acho que há uma grande crise sendo formada, me parece que existe um alinhamento de interesses dos dois países em liberar isso o mais rápido possível. O Brasil é responsável por uma parte importante de toda a carne consumida na China, no ano passado 10% veio do Brasil. Se a China ficar sem essa carne, seria um impacto grande para o consumidor”, diz Wachholz, que até o meio deste ano era braço direito de Tereza Cristina no Ministério. Apesar de o país ter conseguido com êxito repor os seus estoques de suínos após a crise da peste africana, o consumidor chinês de maior renda tem poder aquisitivo e o desejo de consumir carne bovina. Com o embargo chinês à Austrália que ocorre desde o ano passado, a China não pode recorrer ao seu antigo principal fornecedor do produto.

    Para o Brasil, por sua vez, a China é um cliente importante e rentável. Este ano, houve recorde de exportações de carne bovina para a China, com 177 mil toneladas vendidas em setembro. Com o embargo, o volume caiu bastante e o preço da arroba do boi no interior (15 kg do animal) caiu de 330 para aproximadamente 250 reais. Apesar de esta redução ainda não ter chegado no consumidor brasileiro, os especialistas estimam que a carne bovina deve ficar até 15% mais barata na gôndola. “O preço deve começar a recuar neste final de mês”, diz Vlamir Brandalizze, especialista em agronegócio da Brandalizze Consulting.

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