O escândalo contábil da Americanas mexeu com o mercado das varejistas. Enquanto a empresa amarga uma crise que parece não ter fim, o Magazine Luiza, um de seus principais concorrentes, está na maré contrária. A empresa fundada por Luiza Helena Trajano passou por maus bocados no último ano, mas o deslize da concorrente fez a sua sorte mudar. O Magalu é o maior beneficiado do caos que transbordou para todo o setor nos últimos dias, e segue descolado dos efeitos negativos que o rombo tem gerado nas demais varejistas.
A varejista aumentou seu valor de mercado em 3,5 bilhões de reais desde a revelação do rombo da Americanas. Passou de 20,22 bilhões de reais em 11 e janeiro para 23,76 bilhões de reais em 18 de janeiro, segundo levantamento do Trademap. A varejista é a única de um grupo de dezenove empresas do setor que registrou ganhos nesse período.
O Magazine Luiza seria o maior beneficiado em caso de falência da Americanas, podendo registrar aumento no seu volume de 18% neste ano, seguido pelo Grupo Via, com aumento de 15% e Mercado Livre, com 11%, detalha uma análise realizada pelo banco Citi.
Segundo analistas entrevistados por VEJA, a valorização do Magazine Luiza está relacionada principalmente a dois fatores: migração de investidores e expectativas de expansão. “O Magalu tem atraído um fluxo de investidores e fundos que tinham posição em Americanas e querem continuar alocados neste setor”, avalia Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
A oportunidade de adquirir parte da Americanas durante o processo de recuperação judicial também tem influenciado na valorização da varejista nos últimos dias. O professor Juan Luiz Vazquez, da FGV Direito Rio, explica que o processo de recuperação judicial costuma ser bastante atrativo para fusões e aquisições, pois não há sucessão da dívida para o adquirente. “Essa valorização do Magalu está relacionada a expectativa do mercado de aquisição de uma parte da Americanas, e consequentemente, ao processo de expansão”, diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos.
Ano para deixar para trás
Depois de vivenciarem o auge durante a pandemia quando os juros estavam baixos e o consumo da população estava estimulado, as varejistas enfrentaram dias difíceis no último ano impactadas pela inflação e juros altos, que corroeram a renda e encareceram a toma de crédito para a população. O valor de mercado do Magazine Luiza que era de 48,12 bilhões em 2021 caiu para 18,29 bilhões em 2022 e as ações acumularam desvalorização de mais de 60%. A situação da varejista fez empresária Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, aparecer em vídeo fazendo um apelo aos consumidores para ir “o mais rápido possível” em uma loja, oferecendo facilitação no pagamento com crédito pré-aprovado nas compras no carnê.