“É uma bolha”. Esse foi o comentário que a Elliott Management, uma das maiores gestoras de recursos dos Estados Unidos, fez em carta recente enviada para seus clientes a respeito da Nvidia. Segundo a carta, a que o Financial Times teve acesso, a Elliott é “cética” de que a as “big techs” — grandes companhias americanas de tecnologia — seguirão comprando unidades de processamento da Nvidia em volumes tão altos, além de classificar o tema da inteligência artificial como “superestimado”, com várias aplicações que ainda não estão prontas.
A visão da Elliott, uma empresa da Flórida com 70 bilhões de dólares sob gestão, é contundente, mas não unânime. Na visão de interlocutores de mercado que estudam e investem em ações americanas, a dúvida a respeito da alta demanda pelas ações de tecnologia é legítima, mas ainda não pode ser classificada como bolha.
“As ações das companhias desse setor se valorizaram muito porque os fundamentos estão muito bons, com crescimento de 15% a 20% ao ano”, afirma Guilherme Bellizzi Motta, analista de ações do Santander. “A competição para a Nvidia chegará, porque os clientes dela com computação em nuvem desenvolverão soluções dentro de casa, mas há poucos motivos para a ação não estar no ponto em que está.”
Os índices americanos de ações S&P 500 e Nasdaq tiveram um relevante desempenho ao longo de 2024, carregados justamente pelos papéis do setor de tecnologia. Enquanto o S&P 500 acumula alta de 33,7% até o dia 1 de agosto, o Nasdaq Composite avança 34,1%. No entanto, para se ter uma ideia da representatividade das “big techs” nos índices, se todas as ações do S&P 500 fossem redistribuídas para terem o mesmo peso dentro do índice, o resultado em 2024 seria muito diferente: o S&P 500 Equal Weight Index, indicador que reequilibra a participação dos papéis no S&P 500, avança apenas 5,2% no ano.
“A Nvidia é uma incógnita. É difícil apontar com confiança qual será o lucro da empresa em cinco ou dez anos”, afirma João Vitor Valladares, sócio da Arbor Capital, gestora cujo foco são os investimentos internacionais em ações. “Mas o momento da companhia hoje é conhecido, com um monopólio em GPU (unidade de processamento gráfico), que é o coração da corrida da inteligência artificial.”
Nos últimos 12 meses, as ações da Nvidia sobem 140%, enquanto os papéis da Alphabet, dona do Google, avançam 30%; a ação da Meta, dona do Facebook e Instagram, tem ganho de 55,4%, enquanto a Amazon acumula valorização de 30,5%. A estrondosa valorização da Nvidia na bolsa americana acompanha resultados fortes que a empresa vem divulgando, acima das expectativas dos investidores. No primeiro trimestre fiscal de 2025, balanço mais recente divulgado, em maio, a companhia reportou uma receita de 26 bilhões de dólares, alta de 262% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto o lucro líquido cresceu impressionantes 628%, a 14,9 bilhões de dólares.
“O que a empresa está fazendo é fantástico, mas dizer que ela continuará assim e será a melhor companhia do setor no futuro é muito difícil”, afirma um gestor com ampla experiência em investimentos internacionais, que pede para não ser identificado. “Hoje em dia, no caso de Nvidia, é preciso prever um evento para justificar o preço, como, por exemplo, acreditar que a inteligência artificial fará dela uma empresa sem limites.”