A atividade econômica acelerando, a arrecadação do governo subindo e a geração de postos com carteira assinada captados pelo Caged são sinais que há uma retomada na economia, mas, o desemprego preocupa. No trimestre encerrado em fevereiro, mais 400 mil pessoas entraram na fila do desemprego, na comparação com período anterior, encerrado em novembro, chegando a um contingente recorde de 14,4 milhões de desempregados, a taxa de 14,4%. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, na comparação com fevereiro do ano passado — o período pré-pandemia — a taxa de desemprego subiu 2,7 pontos percentuais, quando foi estimada em 11,6%. Os dados da ocupação mostram melhor esse impacto. Houve uma redução de 7,8 milhões de pessoas efetivamente trabalhando entre fevereiro do ano passado e agora.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta sexta-feira, 30, em fevereiro do ano passado, quando o primeiro caso de coronavírus chegou ao país, 93,7 milhões de pessoas estavam efetivamente trabalhando. No mesmo período deste ano, são 85,9 milhões. Ou seja, se no ano passado, mais da metade da força de trabalho estava ocupada (54,5%), agora, 48,6% milhões estão trabalhando. O retrato da comparação entre um ano e outro mostram a severidade dos efeitos da crise sanitária na economia e a importância de estímulo e proteção de emprego para a retomada, já que este é o motor da economia, como gosta de dizer o ministro Paulo Guedes.
A explicação para o descompasso entre a taxa de desemprego e os indicadores econômicos é tecnicamente simples, apesar de parecer contraditória. Com indicadores de retomada, mais pessoas passam a buscar emprego. Pela metodologia da Pnad Contínua, o IBGE considera desempregados os brasileiros que estão sem emprego mas procurando uma ocupação. Além disso, há uma questão burocrática que impacta diretamente nos indicadores de emprego: contratar e demitir é custoso e demorado, por isso a movimentação do mercado de trabalho é mais lenta que de outros indicadores. Na comparação com o trimestre encerrado em novembro, a taxa de ocupação é estável, na casa dos 48%.
“Embora haja a estabilidade na taxa de ocupação, já é possível notar uma pressão maior com 14,4 milhões de pessoas procurando trabalho. Não houve, nesse trimestre, uma geração significativa de postos de trabalho, o que também foi observado na estabilidade de todas as atividades econômicas, muitas ainda retendo trabalhadores, mas outras já apontando um processo de dispensa como o comércio, a indústria e alojamentos e alimentação. O trimestre volta a repetir a preponderância do trabalho informal, reforçando movimentos que já vimos em outras divulgações – a importância do trabalhador por conta própria para a manutenção da ocupação”, comenta a analista da Pnad Contínua, Adriana Beringuy.
Um ano de perdas
A analista destaca que quase todos os indicadores se mantiveram estáveis frente ao trimestre imediatamente anterior, mas, na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, houve redução na maior parte deles, seja de posição no mercado de trabalho ou de grupamentos de atividades, refletindo os efeitos da pandemia. Apenas a categoria de trabalhadores por conta própria, que totaliza 23,7 milhões de pessoas, apresentou crescimento (3,1%) na comparação com o trimestre anterior (setembro a novembro de 2020), significando a adição de 716 mil pessoas neste contingente. Em relação ao mesmo período do ano anterior, o indicador apresentou uma redução de 824 mil postos.
As demais categorias apresentaram estabilidade em relação ao trimestre anterior. Os trabalhadores do setor privado com carteira de trabalho assinada foram estimados em 29,7 milhões de pessoas. Os empregadores e trabalhadores do setor privado sem carteira assinada somam 9,8 milhões de pessoas. E os empregadores são 3,9 milhões de pessoas.
Na comparação com igual trimestre do ano anterior, porém, houve queda de 11,7%, ou menos 3,9 milhões postos de trabalho para empregados no setor privado com carteira de trabalho assinada; de 1,8 milhão de pessoas entre empregadores e trabalhadores do setor privado sem carteira assinada e de menos 552 mil empregadores. “O trimestre encerrado em fevereiro de 2020 ainda era um cenário pré-pandemia e qualquer comparação com este período vai mostrar quedas anuais muito acentuadas. Isso explica o porquê da estabilidade no trimestre e alta no confronto anual”, esclarece Beringuy.
Na comparação com o trimestre móvel anterior, mais 721 mil pessoas (0,7%) entraram na força de trabalho – pessoas ocupadas e desocupadas -, estimada em 100,3 milhões. Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, houve redução de 5,7 milhões de pessoas. “Essa expansão da força de trabalho veio principalmente do crescimento da desocupação. Apesar do acréscimo de 721 mil, o indicador está praticamente estável, tanto que a variação é de apenas 0,7%”, destaca a analista.
Já a população fora da força de trabalho – que não estava nem ocupada nem desocupada na semana de referência – manteve-se estável em 76,4 milhões, quando comparada com o trimestre de setembro a novembro de 2020. Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, houve expansão de 15,9% com o acréscimo de 10,5 milhões de pessoas.
Adriana explica que esse é um indicador que cresceu muito em 2020, em função do afastamento das pessoas do mercado de trabalho, voltando a retrair a partir de outubro e agora ficou estável. “Essa população fora da força foi afetada pelas restrições de funcionamento das atividades econômicas e pelas medidas de proteção. Muitas deixaram de procurar trabalho, outras perderam o trabalho e não viam condições de se reinserir, parando de exercer pressão no mercado de trabalho. Quando confrontamos com fevereiro de 2020, a população fora da força de trabalho é muito maior em função da própria dinâmica que a pandemia trouxe para o mercado de trabalho”, observa a analista.