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Novo Mustang mostra que mercado de carros sofisticados segue aquecido

O primeiro lote se esgotou em 24 horas no Brasil - um fenômeno à prova de pandemia

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h53 - Publicado em 7 Maio 2021, 06h00
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  • Economistas seguem debatendo os possíveis efeitos da pandemia do novo coronavírus. Além dos clássicos modelos de recuperação (em forma de V, onde há queda e melhora igualmente rápidas; U, com retomada mais lenta; ou L, uma crise duradoura), muitos especialistas apostaram em um modelo em K, segundo o qual haveria um rápido declínio geral seguido por uma divisão acentuada entre vencedores, aqueles que retomariam a boa fase logo, e os perdedores, em queda livre. Não foi exatamente o que ocorreu no setor automobilístico como um todo, atingido pelo fechamento de fábricas e por problemas logísticos. No entanto, os privilegiados que pertencem ao topo do K, ou seja, cujos negócios não foram tão afetados ou até prosperaram com a Covid-19, garantiram o sucesso de um nicho valioso: o de carros de luxo.

    Nem mesmo o câmbio desfavorável afugentou os apaixonados por possantes estrangeiros. De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), as marcas badaladas mantiveram o mercado de carros premium (acima de 200 000 reais) bastante aquecido. Os modelos Audi, BMW, Land Rover, Mercedes-­Benz e Volvo tiveram alta de mais de 10% nas vendas em 2020, o ano da pandemia, em comparação a 2019. A Ferrari, sonho máximo de consumo dos apaixonados por supermáquinas, também cresceu, ainda que de forma ínfima (0,1%). A leitura dos dados vai além da demanda reprimida e do simples fato de muitas pessoas passarem quase imunes à crise. Há razões comportamentais.

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    TOTEM - No chão: a Ford fechou fábricas e agora aposta nos importados – (Marcelo Gonçalves/Folhapress/.)

    “A pandemia provocou mudanças de filosofia de vida”, disse a VEJA João Oliveira, presidente da Abeifa. “Alguns já poderiam comprar um carro premium, mas ficavam adiando. Agora, decidiram realizar esse sonho.” Nesse contexto, a procura surpreendeu. Sem poder viajar ou frequentar lugares caros, muitos economizaram e viram uma boa oportunidade para trocar de carro. Além disso, a indústria se adaptou à era digital, com feirões on-­line e ofertas via WhatsApp. Nessa corrida, um ícone americano já começou 2021 pisando fundo no acelerador: o Ford Mustang, cujo lançamento mais recente, o Mach 1, teve sua pré-venda de oitenta unidades esgotada no Brasil em menos de 24 horas, em 17 de abril, dia em que a marca do imponente cavalo completava 57 anos.

    Os primeiros brasileiros a desembolsar 499 000 reais receberão seus Mustangs a partir de junho. “O sucesso não surpreendeu, pois se trata de um grande ícone global”, afirma Antonio Baltar Júnior, diretor-executivo da Ford. Há, de fato, enorme mística em torno do primeiro muscle car (carro musculoso, em tradução livre do inglês) ou ainda pony car (carro pônei), termos usados para definir automóveis superpotentes de duas portas, criados originalmente entre as décadas de 60 e 70. Com aparência jovial e agressiva, o Mustang é um influencer de longa data. Segundo a Ford, já estrelou mais de 7 000 séries e filmes e teve suas fotos postadas mais de 13 milhões de vezes no Instagram.

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    A quarta geração do Mach 1, um clássico lançado em 1969, que até então havia sofrido duas modificações, em 1974 e 2003, acelera de zero a 100 quilômetros por hora em 4,3 segundos, com velocidade máxima de 250 quilômetros por hora, limitada eletronicamente. Chega ao Brasil em oito combinações de cores, entre elas o amarelo clássico e o laranja original, com referências históricas como a faixa preta com friso colorido no capô e nas laterais. Em 2020, o Mustang foi o esportivo mais vendido no mundo (mais de 80 000), sendo 350 no Brasil.

    arte Mustang

    Os feitos ajudam a aliviar a crise na montadora americana, que recentemente tomou diversas medidas drásticas, como o fechamento de toda a sua linha de montagem brasileira — as fábricas de São Bernardo do Campo (SP), Camaçari (BA) e Taubaté (SP) já foram desativadas e a última, em Horizonte (CE), encerrará as atividades no fim do ano. Mais de 4 bilhões de dólares devem ser pagos em indenizações. Para piorar, assim como toda a indústria, a Ford sofre com a escassez de semicondutores, apelidada de “crise dos chips”, que paralisou a produção de montadoras em diversas partes do mundo.

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    Para sair do atoleiro, a empresa focará sua produção em picapes e SUVs, como a Ranger, produzida na Argentina, e o Bronco Sport, no México, e apostará em modelos cada vez mais tecnológicos e conectados. “Para o futuro, ainda planejamos acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados”, afirma Antonio Baltar Júnior. O Mustang Mach 1 faz parte dessa estratégia. A pressão dos pneus e o nível de combustível, por exemplo, podem ser checados em um aplicativo de celular. Há ainda um sistema de alerta contra acidentes, capaz de detectar pedestres, carros parados ou a saída da pista. Um clássico remodelado, afinal — e à prova de crises.

    Publicado em VEJA de 12 de maio de 2021, edição nº 2737

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