O ano de 2020 foi totalmente atípico para o mundo inteiro, seja para o bem, ou para o mal. A pandemia do novo coronavírus que assolou países de todos os continentes transformou profundamente a economia, a cultura e os hábitos da sociedade. O reflexo dessa mudança radical pôde ser observado no sobe e desce de alguns setores e empresas mundialmente conhecidas. A consultoria britânica de marcas Brand Finance divulgou rankings de marcas mais valiosas do mundo em 2020, divididas por segmentos. O que se viu, na prática, foi um expressivo crescimento das companhias ligadas à tecnologia e uma queda no valor de empresas vinculadas ao comércio, como as marcas de vestuário.
Ainda que a Nike tenha sido a marca de vestuário mais valiosa do mundo pelo 7° ano consecutivo, seu valor de marca caiu 13% em relação ao ano anterior, para 30,4 bilhões de dólares. Em função da pandemia e das medidas de isolamento social, a gigante de calçados fechou diversas lojas na América do Norte, Ásia e Europa, o que comprometeu os rendimentos em 2020. No entanto, a companhia ainda mantém uma vantagem considerável para a segunda colocada do ranking, a italiana do mercado de luxo Gucci, que possui um valor de marca de 15,6 bilhões de dólares, uma queda de 20% na comparação com o último levantamento.
A tônica para o setor de moda foi de diminuição das vendas e do fechamento de lojas físicas. O comércio eletrônico, por sua vez, não foi capaz de reverter essa tendência de queda. O valor total das 50 marcas de vestuário mais valiosas do mundo diminuiu 8%, caindo de 301,9 bilhões de dólares, em 2020, para 276,4 bilhões de dólares em 2021. “A perturbação econômica global e generalizada causou uma queda acentuada na demanda e o fechamento de lojas induzido pelo bloqueio forçou as marcas a se digitalizar rapidamente ou enfrentariam terríveis consequências nas vendas e lucros”, analisou Richard Haigh, diretor administrativo da Brand Finance, em comunicado.
Completam o top 10 das marcas de vestuário mais valiosas do mundo a francesa Louis Vuitton, Adidas, Chanel, Zara, Uniqlo, H&M, Cartier e Hermès.
Se, do lado das marcas de vestuário, o ano de 2020 foi de segurar os investimentos e contabilizar os prejuízos pelo fechamento global da economia, na área de tecnologia, as companhias tiveram motivos de sobra para comemorar. O isolamento social acelerou a transformação digital na sociedade, uma vez que as pessoas precisaram ficar trancadas em suas casas. Pela primeira vez, a Brand Finance incluiu os mecanismos de busca no ranking das marcas de mídia mais valiosas do mundo. O resultado foi permitir ao Google assumir a liderança da classificação com folga, tendo um valor de marca de 191,2 bilhões de reais, uma valorização de 1,4% em relação ao ano anterior.
“Significativamente melhor em inovação do que seus rivais, o Google mudou o mercado de mecanismos de pesquisa, liderando a revolução da mídia digital de uma forma que distingue a marca acima de todas as outras”, afirma Haigh.
O Facebook, até então no topo da lista e enfrentando problemas de reputação na Europa, ficou com a segunda colocação, avaliado em 81,4 bilhões de dólares, uma alta de 2,1%. Chama a atenção, no ranking, o barulho que o aplicativo chinês TikTok fez no mundo inteiro. Após sua primeira avaliação de marca, alcançou a 8° posição do ranking, com um valor de 18,7 bilhões de dólares. Já as empresas de mídia ligadas à televisão, filmes e séries tiveram um 2020 mais complicado. Ainda que o consumo tenha aumentado, a pandemia atrasou os projetos e paralisou as produções.
A rede americana CBS foi a marca que registrou a maior queda no ranking, com uma diminuição de 49% no valor, para 5,9 bilhões de dólares. A também americana NBC viu seu valor de marca cair para 8,4 bilhões de reais, o que representou, percentualmente, uma queda de 44%. A redução na receita de publicidade é um dos fatores que explicam esse movimento. Até mesmo a Disney, que ocupava a terceira colocação do ranking em 2020, caiu duas posições em 2021 e, agora, tem valor de marca avaliado em 8,7 bilhões de dólares, queda de 8,7%. A Netflix, por sua vez, foi na contramão das concorrentes e firmou posição no mercado de streaming, obtendo 37 milhões de novos usuários e um crescimento de 8,7% no valor de marca, avaliado em 24,9 bilhões de dólares.
O top 10 de marcas de mídia mais valiosas do mundo é composto por Google, Facebook, WeChat, Tencent, Disney, Instagram, Netflix, TikTok, YouTube e NetEase.
Brasil
A Brand Finance também lançou projeções para marcas brasileiras. Segundo a consultoria, as empresas nacionais podem perder até 16% de valor de marca, ou 9,5 bilhões de dólares, em relação a 2020. Lideram o ranking brasileiro os bancos Itaú e Bradesco. “As marcas bancárias podem perder até 20% de seus valores de marca após a pandemia, já que toda a indústria negocia a alta volatilidade nos mercados de capitais globais”, explica Eduardo Chaves, diretor da Brand Finance Brasil. “Combinado com os principais ventos contrários econômicos em todo o país, significa que os bancos terão de confiar na força de suas marcas mais do que nunca, se quiserem enfrentar a tempestade com sucesso”, completou.