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Mulheres, mães e profissionais de sucesso

Apesar de 50% saírem do emprego após a licença-maternidade, muitas seguem ocupando cargos altos em grandes empresas ou abrem o próprio negócio.

Por Marina Monzillo Atualizado em 8 mar 2018, 14h00 - Publicado em 8 mar 2018, 07h26
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  • Elas não se consideram heroínas, muito pelo contrário. Admitem as dificuldades, mas, acima de tudo, estão seguras de suas escolhas. São mulheres, mães e profissionais de sucesso. Ocupam cargos de gerência ou diretoria em grandes empresas ou abriram o próprio negócio. Superaram a barreira que a maternidade muitas vezes simboliza na vida profissional de uma mulher: 48% das mulheres que tiram licença-maternidade não estão mais empregadas depois de um ano, segundo estudo da FGV EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getulio Vargas) de 2017.

    Com trajetória na área de marketing de grandes empresas, Mariana Gorski foi uma dessas profissionais que deixou o mundo corporativo após o nascimento do primeiro filho. Ela seguiu a tendência de empreendedorismo que existe entre as mães e transformou o hobby de confeiteira em um negócio. “Quando saí de licença-maternidade, não pensei em parar. Mas quando meu filho tinha cinco meses, fui para o Rio de Janeiro a trabalho e lá recebi a ligação de que ele estava com 39 graus de febre. Foi o gatilho para eu pensar no que fazia mais sentido para mim”, conta ela, que hoje tem mais um filho, quatro unidades da Confeitaria Dama e uma retirada mensal bem maior do que o último salário como funcionária.

     

    O primeiro choque ao empreender foi descobrir que ter a própria empresa não significa ser mais dona do seu tempo. “Você deixa de ter uma estrutura a seu favor. Vira tudo, faz banco, é a proprietária.” Para ela, o lado bom foi poder envolver a família no trabalho: os filhos participam de grandes momentos da confeitaria, como Páscoa e Natal. “O negócio agrega, não afasta os filhos. No mundo corporativo, especialmente no marketing, muitas vezes você é até proibido de contar o que está fazendo”, compara ela.

    CLT e mãe em tempo integral

    Mas existem casos de mulheres que continuaram no regime CLT e viram a carreira florescer mesmo após a licença-maternidade e a presença de filhos pequenos em casa. Alice Oliveira, diretora de marketing da empresa de tecnologia Dell, por exemplo, chegou a receber uma promoção durante o período que estava em casa. “Engravidei em 2009. Voltava em fevereiro, mas em dezembro me ligaram falando de oportunidades internas. Disseram: ‘se tiver interesse, esperamos você’. Não perdi espaço. Não teve aquela história de não saber o que fazer comigo quando eu voltasse”, conta ela que, mesmo com esse suporte, teve medo. “Porque não é a mesma mulher que volta. Sabia que com a maternidade vinha junto um processo gigantesco de transformação”, diz ela, que no início de carreira chegou a ouvir de um chefe que não seria promovida a um cargo de gerência por ser mulher.

    Empregos em companhias que possuem uma cultura pró-mulher, que não enxergam a licença-maternidade como um problema e desenvolvem programas de liderança feminina, levando a diversidade de gêneros como algo positivo é o que essas mães executivas têm em comum. Luciana Bianchini Soares, hoje gerente-sênior de marketing da Unilever, passou por três gestações trabalhando na Natura, uma empresa que possui, entre outros benefícios, uma creche em suas dependências para os filhos de funcionárias. “Foi um ano e meio de licença-maternidade no total. Não tive receio de estagnar ou ser demitida. Havia uma consistência no meu trabalho, um histórico de performance que jogava a meu favor”, afirma ela, que subiu de cargo meses após as duas primeiras pausas e, no retorno da terceira, recebeu a proposta de um novo emprego, onde também tem incentivo para fazer home office e horários flexíveis.  “Para mim, não faz sentido parar. Tenho orgulho do que faço, me torna uma pessoa mais interessante e um exemplo para os meus filhos. E sou mãe full-time como todas as outras, eu me organizo”.

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    Ser para os filhos um modelo de mulher batalhadora e independente parece fortalecer as profissionais no ambiente de trabalho. Tatiana Sztutman, gerente de RH estratégico da corretora Easynvest, reforça esse aspecto que o lado profissional pode ter. Ela fez o caminho inverso das mães empreendedoras e resolveu fechar sua confecção de roupas e voltar para o mercado quando teve um bebê. “Precisava de uma estabilidade financeira, que a minha marca não dava. Pensava: ‘meu filho não pode saber que sou instável’. Foi ele nascer e me encontrei e me realizei profissionalmente.” Ela conta que o compromisso com uma rotina de emprego fez com que adotasse uma rotina maior também em casa, o que foi bom para a criança. “Equilíbrio de dedicação existe, mas não no mesmo dia”, acredita ela.

    A engenheira química Silvia Malaman, líder da Unidade Industrial da Monsanto de São José dos Campos e mãe de trigêmeos, concorda. “Minha irmã diz: ‘não sei como você dá conta’. É com muito planejamento. Faço priorizações. A vida é sazonal”. Com seis pós-graduações no currículo, ela parece ser uma supermulher, mas reforça que conta com apoio do marido, o que parece ser também outro aspecto fundamental na trajetória dessas mulheres de sucesso. “Mas acho que abro mão de mim mesma às vezes, sim. No sentido de parar para olhar o longo prazo, porque o curto prazo é sempre cheio”, opina.

    Luciana diz ter bom senso e maturidade para entender que, de fato, se abre mão de muitas coisas quando se escolhe ser profissional e mãe. “Se tivesse tido um filho só, talvez já tivesse em outro estágio da carreira ou poderia frequentar happy hours. É preciso coragem para assumir as escolhas”.

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    Alice acredita que não dá para estar no trabalho pensando no filho e com o filho pensando no trabalho. “Faço tudo com intensidade, com entrega, mas todo mundo tem limites, saber pedir ajuda enobrece. Isso tira a sua culpa e dá serenidade. A vida profissional é consequência de quem você é”.

    Mais escolaridade, mais possibilidade

    A rotatividade no mercado de trabalho brasileiro é considerável, segundo a professora Cecília Machado, uma das autoras da pesquisa de gênero no mercado de trabalho da FGV EPGE, entretanto, os números de desligamentos no mercado formal após a licença-maternidade são “robustos” e se mantêm durante três, quatro anos após o benefício. Entre profissionais de alta escolaridade (acima do ensino médio), o índice é menor, 35%, contra 53%, por exemplo, de quem tem o ensino fundamental completo. Como o investimento da empresa em funcionárias mais qualificadas costuma ser maior, há mais interesse na retenção. E consequentemente, elas são mais bem remuneradas e têm mais facilidade em montar uma estrutura para cuidar dos filhos.

    A situação institucional do país não ajuda quem faz dupla jornada: há muita informalidade e o serviço de creche é relativamente caro e está longe de ser universal. “A licença-maternidade existe para reter a mulher no mercado de trabalho e é positiva, mas faltam outras políticas, a flexibilização da legislação, com jornadas parciais ou compensação de horários, por exemplo”, diz a professora.

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