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Mulheres no manche: companhia aérea forma sua primeira turma de pilotas

Profissionais falam sobre como é ser mulher no mundo da aviação, onde só 5 a cada 10 condutores de aeronaves são do sexo feminino

Por Thaís Augusto Atualizado em 13 jul 2018, 18h43 - Publicado em 13 jul 2018, 17h26
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  • A cada 100 pilotos das 34 principais companhias aéreas do mundo, apenas 5 são mulheres, segundo dados da International Society of Women Airline Pilots. Aos poucos, porém, a estatística começa a mudar.

    Na Avianca, o número estava abaixo da média. “Nos demos conta de que menos de 2% de nossos pilotos eram mulheres”, afirma o presidente da empresa, Frederico Pedreira. Para contornar o problema, a companhia criou um programa chamado Donas do Ar, que nesta quarta formou a primeira turma exclusivamente feminina de pilotas do Brasil. 

    A formatura do projeto elevou o quadro de comandantes e co-pilotas para 34, o que corresponde a 5% do totalO número ainda é baixo perto dos 644 homens que conduzem aviões na companhia. Mas representa um aumento de 161%: antes, havia apenas 13 co-pilotas e comandantes.

    Outras companhias aéreas brasileiras também têm mulheres nas suas cabines. A Azul é a que tem a maior quantidade de pilotas: são 53 no total. Na Gol, são 30 copilotas e seis comandantes. Na Latam, 29 pilotas – oito delas comandantes. Os números representam 3%, 2% e 2% de mulheres pilotas, respectivamente.

    Jaqueline Guglielmi, de 40 anos, é comandante e trabalha na área há 22 anos. Há sete anos, ela foi a primeira mulher a pilotar na Avianca. “Sempre foi um meio totalmente masculino, mas acabei me acostumando com isso. Pensei em desistir logo que me formei, quando a aviação não estava no seu melhor momento. Fui fazer faculdade, me ocupar com outros trabalhos, mas aquilo não era o que eu queria.” 

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    Primeira formatura de co-pilotas da Avianca
    Comandante Jaqueline Guglielmi participa de formatura de copilotas (Thaís Augusto/VEJA.com)

    Ela relata que entrar na área é uma das partes mais difíceis. “Muitas meninas começam como comissárias, mas gostariam de ser pilotas também”, explica. 

    A copilota Gizelle Hashimura, de 29 anos, conta que nem imaginava que poderia estar no comando do manche de um grande avião. “Sempre soube que queria trabalhar com a aviação. Descobri que poderia ser pilota apenas quando trabalhei como agente de aeroporto, no check-in. Depois disso, fui em frente. Trabalhei como comissária para me inserir nesse mercado porque não tenho ninguém da família na área.”

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    Primeira formatura de co-pilotas da Avianca
    Gizelle Hashimura se formou co-pilota nesta quarta-feira (Thaís Augusto/VEJA.com)

    Hashimura conta que, no início, não teve apoio da família. “As barreiras começam em casa. Por desconhecimento e por não saber que era possível. Eu era a única menina no meu aeroclube [centro de formação de pilotos]. Tudo isso te intimida”.

    Atualmente, a copilota é mãe de uma menina de três anos. “No começo, foi muito difícil. Fico fora de casa por três, quatro dias, por causa da nossa escala. Ela chorava, eu chorava”, relata. “Mas hoje ela vê um avião e fica feliz. Acho que estou plantando uma sementinha nela de que estou correndo atrás do meu sonho, quando entro na cabina me sinto feliz, realizada. Isso faz valer a pena”.

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    Segundo Hashimura, as dificuldades de ser uma mulher na aviação não acabam na contratação. “As pessoas não estão acostumadas. Tem passageiro que ainda fica surpreso, dizem coisas como ‘se eu soubesse que o piloto era uma mulher, não teria entrado nesse avião'”, diz.

    A hoje copilota Camila Rondina, de 23 anos, conta que, para ela, ser uma mulher jovem traz alguns percalços. “Consegui meu primeiro emprego na aviação com 19 anos. Todo mundo olhava para a minha cara de criança e era difícil passar credibilidade.” Ela também explica que, em alguns lugares, ser pilota é mais difícil: “A região Centro-Oeste do país é um pouco diferente do Sudeste, tem mais machismo. Eu tomei alguns ‘nãos’ sutis, mas entendi que foram porque eu era mulher”.

    Primeira formatura de co-pilotas da Avianca
    A copilota Camila Rondina: cara de menina dificultou inspirar confiança (Thaís Augusto/VEJA.com)
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    Menos horas

    Segundo Pedreira, desde 2016, todos os processos seletivos da empresa devem ter, ao menos, 30% de candidatas mulheres. A maior parte das companhias aéreas exige que a candidata tenha ao menos 500 horas de voo para participar de um processo seletivo para ser copilota. Para tentar atrair mais mulheres para seu quadro, a Avianca baixou a exigência para 300 horas de voo. Caso a pilota seja contratada, recebe treinamento adicional de 200 horas por conta da companhia para se equiparar aos demais pilotos.

    Salário e benefícios também são ofertados sem diferenciação. A média de idade das formandas varia entre 25 a 33 anos.

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