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Mercado de feiras e conferências retoma atividades com novas estratégias

Enquanto a imunização em massa não ocorre, empresas de eventos, setor fortemente abalado pela crise, sobrevivem com modelos digitais e híbridos

Por Sabrina Brito Atualizado em 4 jun 2024, 14h03 - Publicado em 4 dez 2020, 06h00
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  • Os negócios que dependem da presença física de pessoas são os mais prejudicados pela pandemia. Não por acaso, no topo do rol de setores abalados está o mercado de feiras e eventos. Se meses atrás ele encontrou certo alívio com a parcial reabertura, agora as perspectivas voltaram a ficar sombrias. Pesquisas recentes mostram que 61% da força de trabalho do setor está desocupada e que 31% das empresas fecharam as portas, de forma temporária ou definitiva — um dado extremamente preocupante. O novo coronavírus atingiu o coração de uma indústria de 250 bilhões de reais de faturamento anual, que emprega 6 milhões de pessoas direta e indiretamente e que representa 4,5% do produto interno bruto. Enquanto a crise persistir, só resta aos sobreviventes se adaptar.

    Adaptação, na prática, significa realizar shows, eventos e feiras de forma digital ou híbrida, mesclando vídeo com plateia reduzida. Brenda Valansi, presidente da produtora de eventos culturais ArtRio (realizada também presencialmente em outubro), define assim o desafio: “A agilidade é um fator decisivo. Ser digital não é copiar o modelo presencial. Trata-se de um ambiente novo, com um novo tipo de conexão que demanda outra linguagem”, diz ela, cujo evento recebeu 8 100 pessoas nos doze dias de realização, com todas as prevenções para evitar a propagação do vírus. Embora existam exemplos positivos, não é (definitivamente) um momento fácil — e os números mostram isso. Somente o cancelamento de feiras, congressos e eventos corporativos resultou em perdas de mais de 80 bilhões de reais. Pior. Segundo Jamil Abdala, presidente da União Brasileira de Feiras e Eventos de Negócios, antes que a situação se normalize, a queda da arrecadação bruta será três ou quatro vezes maior.

    No esforço para conter os danos, eventos on-line cresceram consideravelmente. Com isso, empresas que já estavam inseridas na estratégia tiveram mais sucesso do que outras. É o caso da Atmo, que realiza transmissões ao vivo há quinze anos. Nos últimos meses, o serviço cresceu 400% e as receitas dobraram. Mais do que uma medida emergencial, a tecnologia demonstrou ser capaz de impulsionar o setor de formas pouco exploradas. Sabendo ser impossível fazer o show presencial com o cantor Daniel e o grupo Roupa Nova, a Opus Entretenimento organizou uma live com os artistas para promover o espetáculo, que será realizado no ano que vem. Resultado: a ação virtual atiçou as expectativas dos fãs e resultou na venda de 60% dos ingressos.

    RETOMADA - Expo São Paulo: evento para ensinar o setor a driblar a crise -
    RETOMADA – Expo São Paulo: evento para ensinar o setor a driblar a crise – (Bruno Ferrer/Divulgação)

    Outro ajuste viável é o modelo híbrido, que combina a presença física com a transmissão de vídeos. Em São Paulo, em outubro passado, ocorreu a Expo Retomada, basicamente um evento para apontar o paradigma de futuros eventos. Foram reunidos expositores e clientes em potencial, com visitas escalonadas e live streaming (exibição pela internet). A oportunidade, porém, não é uma panaceia para todos os problemas do setor. De acordo com Milena Palumbo, diretora-geral da GL Events Brasil, que administra o São Paulo Expo e outros espaços de exposição, o problema dos eventos híbridos é que eles ainda não geram tanta receita: “Apenas 5% deles conseguem se monetizar com a mesma envergadura dos físicos”.

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    Notícias conflitantes sobre a possibilidade de novas restrições em São Paulo e outras capitais brasileiras esfriaram os ânimos dos mais otimistas quanto à retomada. A regressão traz instabilidade a todo o mercado, que está ávido por eventos e negócios. Ainda assim, mesmo que tudo volte à normalidade nos próximos meses, o setor deve levar de dois a três anos apenas para recuperar as perdas de 2020. O fato é que as empresas que têm conseguido se manter em pé são aquelas com maior fluxo de caixa, sem o qual não é possível preservar o negócio ou se adaptar. As muito endividadas ficaram pelo caminho, inclusive provocando o desmantelamento de uma cadeia de mão de obra especializada. Marcelo Bohrer, coordenador do Fórum de Turismo da Grande Florianópolis, afirma que mais de 50% das prestadoras de serviço perderam as condições de atuar, o que levou a um fechamento precoce e ocasionou demissões. “Isso significa um retrocesso de cerca de dez anos na formação e especialização de empresas do setor”, conclui Bohrer.

    Nem todos, porém, estão tão pessimistas. Paulo Ventura, diretor superintendente do Expo Center Norte, um dos maiores espaços para eventos de São Paulo, acredita que o mercado deve voltar mais forte do que nunca no ano que vem, a depender da retomada das atividades. “Dificilmente as pessoas deixarão de comparecer a feiras, congressos e convenções”, diz. Brenda Valansi, que advoga a importância da adaptação, acha que o primeiro semestre de 2021 ainda será bastante desafiador, principalmente para exposições que demandam grande público. A opinião de Valansi está alinhada com a da maioria dos profissionais entrevistados por VEJA, que concordam ser praticamente impossível realizar eventos com aglomeração até que a população tenha sido imunizada pelas vacinas que estão em desenvolvimento. Trata-se de uma corrida contra o tempo. Felizmente, organizadores e público têm boas chances de vencê-la.

    Publicado em VEJA de 9 de dezembro de 2020, edição nº 2716

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