Em um evento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu, nesta quinta-feira, 9, que o governo federal falhou em oferecer aumentos a servidores públicos federais — pauta que enfrentava resistência do próprio ministro, em contraposição direta ao que desejava o presidente Jair Bolsonaro, o qual desde o fim do ano passado bate o pé para conceder aumento a policiais, uma de suas grandes bases de apoio. “O governo federal não conseguiu dar aumento de salários, mas reduziu impostos para 200 milhões de brasileiros, ao invés de ajudar só o funcionalismo, que ajudou nessa guerra”, afirmou o ministro. “Logo ali na frente, vai ter aumento para todo mundo, vamos fazer reforma administrativa. Mas agora está em guerra também”, prometeu Guedes.
No mês passado, durante participação no Fórum Econômico Mundial, o ministro havia sinalizado uma nova “licença para gastar”, afirmando que seria possível conceder até 5% de aumento para as carreiras do funcionalismo federal ainda neste ano.
Em meio ao vai-não-vai da concessão de reajustes, o governo cogitou dar aumentos de 5% para todos os funcionários públicos em âmbito federal. O custo da medida era avaliado em mais de 6 bilhões de reais. Informado por Guedes da impossibilidade de realizar a benesse em ano eleitoral, Bolsonaro flertava com a concessão de benefícios apenas para as categorias de segurança pública sob o guarda-chuva da administração federal — Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, por exemplo.
Essa pauta não é recente. Em janeiro, durante a consolidação do projeto que baseia o Orçamento de 2022, o ministro empenhou-se frontalmente em limitar o alargamento dos gastos para este ano. Segundo Guedes, os aumentos generalizados seriam viáveis em um contexto cuja reforma administrativa estivesse aprovada. No Palácio do Planalto, comentava-se que o presidente fazia pressão para conceder um aumento de 10% para todos os servidores, ao custo de 30 bilhões de reais, e encontrava resistência em Guedes. “Um reajuste generalizado hoje é uma falta de compromisso com o combate à inflação, com a responsabilidade fiscal, com as futuras gerações”, ressaltou ele ao presidente.