O cineasta e escritor pernambucano Josias Teófilo, de 35 anos, foi catapultado ao status de principal intelectual da direita conservadora no campo cinematográfico brasileiro nos últimos anos. Com os documentários O Jardim das Aflições, sobre a vida e a obra do filósofo Olavo de Carvalho (falecido em janeiro), e Nem Tudo Se Desfaz, sobre a ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência, tornou-se uma espécie de voz dissonante no meio cultural. Contudo, em entrevista a VEJA, Teófilo admite que o governo de Bolsonaro não entendeu a importância do setor para a sociedade e que a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito deste ano poderá “ensinar” a direita sobre a importância da valorização da cultura para o país. “O governo [Bolsonaro] culturalmente foi nulo. Não só não ajudou a indústria cultural, como tentou atrapalhar em tudo que pôde”, afirmou ele.
Em seu primeiro discurso após a vitória nas urnas no último domingo, dia 30, Lula disse que o povo quer “livros em vez de armas, quer ir ao teatro, ver cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta a nossa alma”. O presidente eleito também assumiu um compromisso público de retomar o Ministério da Cultura, extinto sob a gestão de Bolsonaro. “Se ele incentivar a volta dos cinemas e das produções culturais será ótimo, inclusive para a direita. Eles vão ver como a esquerda atua nessa área e poderão aprender”, afirma Teófilo. “Mas, eu espero que o faça sem dirigismo estatal, sem impor pautas e temas, com editais de incentivo temáticos, sobre LGBT e periferias, por exemplo.”
O documentarista também criticou o ex-secretário especial da Cultura do atual governo, o ator Mário Frias. “Ele conseguiu o objetivo dele, que era se eleger, mas para isso ele destruiu a política cultural do Brasil”, afirma. “A direita tem de começar a enxergar importância na cultura. Eles pensam que não teve efeito na derrota deles, mas teve sim.” Entre 2019 e 2021, durante o atual governo, o montante captado por mecanismos de incentivo para produções audiovisuais foi 480,3 milhões de reais, um volume inferior em 54% frente ao período entre 2016 e 2018, que engloba o último ano de mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e os dois anos do governo de Michel Temer (MDB).