Apesar de meses de cortes no número de empregados, a indústria não consegue enxugar os gastos com a folha de pagamento em ritmo satisfatório. Segundo a consultoria Tendências, a folha de pagamento real por hora trabalhada mantém a tendência de perda de fôlego, com alta de 2,9% nos 12 meses encerrados em agosto, contra um aumento de 4,9% no mesmo mês de 2013. Entretanto, a taxa de crescimento ainda é muito superior à da competitividade, que aumentou apenas 1,2% nos 12 meses encerrados em agosto.
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Entre os principais motivos dos entraves para reduzir os gastos com a folha de pagamento está o alto custo das demissões e a escassez de mão-de-obra qualificada, segundo Rafael Bacciotti, economista da Tendências responsável pelo levantamento baseado em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “A população economicamente ativa vem diminuindo ao longo dos últimos trimestres e há um problema de qualificação da força de trabalho”, diz Bacciotti.
O poder de barganha dos trabalhadores também diminuiu. A desaceleração do ritmo de crescimento da folha de pagamento na indústria mostra que houve uma redução no ímpeto das negociações. Segundo o economista, os trabalhadores já não conseguem mais aumentos na mesma proporção que conseguiam antes. “A folha nominal também traz movimento de desaceleração nos aumentos”, diz Bacciotti, que acredita que a inflação em alta nos últimos meses não tenha impactado o crescimento da folha de pagamento da indústria.
Cortes em alta – Em crise, a indústria corta vagas há 35 meses consecutivos, de acordo com dados da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), realizada pelo IBGE. No entanto, a folha de pagamento só encolheu entre junho e agosto, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Enquanto o número de empregados diminuiu 2,7% no ano, a folha de pagamento cresceu 0,4%.
Segundo Rodrigo Lobo, economista da Coordenação de Indústria do IBGE, os gastos com demissões explicam o aumento das despesas com a folha, apesar do corte de funcionários. “Faz parte da composição da folha de pagamento a renda proveniente de demissão”, diz Lobo.
A Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também do IBGE, mostra que a tendência de corte de postos de trabalho na indústria se manteve em setembro. O parque industrial das seis principais regiões metropolitanas do país cortou 59.000 pessoas em apenas um mês. As demissões somam 238.000 vagas em um ano. “No ano, a indústria é a atividade que ostenta a maior perda de pessoal”, diz Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.
A piora no mercado de trabalho no setor industrial, segundo Leandro Horie, economista do Dieese, reflete as quedas na produção e no PIB industrial nos últimos anos. “Desde 2009, a indústria, tanto em termos de emprego quanto de produção, oscila dentro de uma média. Quedas são seguidas de recuperação, mas ela volta ao patamar de antes da crise internacional e não sai disso.” Segundo ele, há também uma crise estrutural, devido à falta de inovação, câmbio desfavorável, falta de competitividade e vazamento de demanda para importados. “O custo da mão-de-obra é o menor dos problemas”, diz Horie.
(Com Estadão Conteúdo)