Se não acabou, o mercado financeiro deu uma pausa em sua lua de mel com a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL). Após as declarações do presidenciável sobre a reforma da Previdência e a respeito de privatizações de estatais, os investidores recuaram em seu otimismo em relação ao um eventual governo do capitão. Esse foi o principal fator que derrubou a bolsa e elevou a cotação do dólar.
A moeda americana fechou em alta de 1,42%, cotada a 3,764 reais. Já o Ibovespa, principal indicador de ações da B3, Bolsa de Valores de São Paulo, registrou queda de 2,80%, fechando aos 83.679 pontos. Esta foi a maior queda do índice desde 10 de agosto deste ano.
As principais ações sofreram forte desvalorização durante o pregão. A Petrobras caiu 2,76%, cotada a 26,08 reais, enquanto a Vale teve perda de 3,07%, a 55,89 reais. O Banco do Brasil, cujos papéis têm oscilado muito neste período eleitoral, registrou queda de 4,23%, a 37,35 reais.
Segundo Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, as declarações feitas por Bolsonaro acabaram com o humor do mercado financeiro.
Na noite de terça (9), o candidato afirmou que não apoiará a reforma da Previdência que tramita no Congresso e que, caso assuma a Presidência, encaminhará uma nova reforma, “mais consensual”. Ele também declarou que não deve privatizar as empresas de geração de energia — o que afeta diretamente a maneira como o mercado vê a Eletrobras. A estatal, inclusive, registrou perdas de 8,36%, cotada a 24,55 reais.
“Essas declarações podem ser retóricas de campanha, pois o país vive um momento delicado, com ânimos bastante exaltados. Ainda é difícil extrair qualquer conclusão das palavras dele”, afirma Rostagno. “De qualquer forma o mercado não gostou do que o Bolsonaro disse. Por isso, está corrigindo um excesso de otimismo.”
Rostagno também adicionou um outro fator para explicar o desempenho da bolsa e do real. No exterior, investidores estão mais preocupados com a consequência de um acirramento da guerra comercial travada pelos Estados Unidos contra a China. Os países voltaram a trocar farpas nesta quarta. “Existe a ideia nos EUA de que, enquanto continuarem a aumentar as taxas alfandegárias, a China vai recuar. Eles não conhecem a história e a cultura chinesas”, afirmou Zhong Shan, ministro do Comércio da China, em comunicado.
Segundo o analista, isso fez o dólar se valorizar perante as moedas de países emergentes devido a um movimento de proteção dos investidores. “É um momento de alta da aversão ao risco”, diz ele. “O crescimento das tensões entre China e Estados Unidos formam um cenário externo mais negativo”, conclui.