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Garota-prodígio quer reduzir desigualdade de gênero na ciência

Encontro voltado para meninas traz inspirações de jovens mulheres que trabalham com tecnologia para incentivar participação feminina na ciência

Por Leticia Fuentes 4 fev 2018, 21h05
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  • Desde criança, Lara Franciulli, de 17 anos, sempre gostou de estudar. Com apenas 12 anos, recebeu medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática e foi convidada a participar da etapa internacional, na Argentina, onde conquistou o bronze. Até hoje, foram mais de dez classificações no pódio de algumas das principais competições científicas do Brasil, além de diversos convites internacionais. O último deles veio da Organização das Nações Unidas (ONU), que incluiu a jovem na delegação brasileira na 21ª Assembleia da Juventude, nos Estados Unidos.

    Na última quinta-feira, Lara esteve em São Paulo para falar sobre tecnologia com garotas de seis a dez anos no encontro UberMeninas, organizado pela Uber em conjunto com a plataforma Força Meninas. O evento busca inspirar jovens a aprenderem sobre ciência e liderança.

    “Sempre reparei que havia poucas meninas nas olimpíadas científicas em que participava”, diz Lara enquanto segura um par de óculos de realidade virtual que ela mesma fez, usando papelão e lentes descartáveis. Ela pré-montou mais de 100 unidades desse dispositivo para distribuir às participantes do evento.

    A jovem, que tem uma mãe professora de matemática e um pai que trabalha com revisão de texto, sempre recebeu muito apoio dentro de casa para estudar. Mas, com o tempo, descobriu que a maioria das meninas não era incentivada a seguir carreiras relacionadas a ciência e tecnologia. “Percebi que essa é a minha missão: plantar uma sementinha para que elas vejam como é possível mudar o mundo com tecnologia e queiram fazer parte disso.”

    Lara começou a se envolver com temas relacionados à desigualdade de gênero ainda nova. Participou de diversos eventos internacionais para discutir a atuação feminina na ciência, inovação e tecnologia. Sua trajetória exemplar chamou atenção do Mind The Gap Brazil em 2017, um evento organizado pelo Google para promover maior participação de mulheres na computação. Ela e outras 100 garotas foram convidadas a visitar a sede da gigante tecnológica em Belo Horizonte (MG) e participar de palestras, workshops e atividades com engenheiras e programadoras que desenvolvem tecnologias para a empresa.

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    “Foi ali que eu decidi que queria trabalhar com computação para o resto da vida”, diz Lara, que está cursando o último ano do ensino médio. O sonho – um pouquinho alto, ela diz – é estar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) ou na Universidade de Stanford, ambas nos Estados Unidos, ainda no ano que vem. Mas, enquanto a conquista não vem, a jovem busca compartilhar seus conhecimentos com o maior número de pessoas possível.

    Trabalho voluntário

    Desde pequena, Lara acompanha os pais como voluntária na ONG Núcleo Assistencial Fraternidade, voltada para crianças de alta vulnerabilidade. “Tenho fotos dela com seis anos de idade ajudando a entregar panetones para as famílias. Ela não é só matemática, faz parte dela querer ajudar e realmente fazer a diferença”, conta Ana Elisa Franciulli, mãe da jovem.

    Aos 12 anos, Lara assumiu uma turma de 15 alunos entre oito e dez anos para dar aulas sobre higiene, meio ambiente e comportamento. Foi então que ficou sabendo de um evento sobre liderança feminina organizado pela plataforma Força Meninas e decidiu levar 20 das suas alunas para participar. “Na época, até falei que não conseguiríamos pagar a entrada de todas as garotas. Mas a Lara insistiu e resolveu mandar uma mensagem para as organizadoras. Entramos em contato com a Déborah e ela aceitou na hora”, afirma Ana Elisa.

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    Déborah De Mari é a fundadora do Força Meninas, que, junto com a Uber, organizou o evento em Lara palestrou para garotas. A plataforma se define como um negócio de impacto social que busca, por meio da internet e workshops presenciais, compartilhar informações sobre como incentivar e formar novas líderes.

    Tecnologia

    No caso do UberMeninas, o encontro convidou 100 garotas de seis a dez anos para participar de um “dia de inspiração”. Por isso, além de Lara, foram convidadas outras figuras femininas jovens que trabalham com tecnologia – como Valentina Schulz, de 13 anos, que é ex-participante do MasterChef Kids e faz muito sucesso com seu canal no YouTube.

    Segundo a Uber, as jovens selecionadas para participar do evento são filhas dos motoristas – ou das motoristas – mais bem avaliados do aplicativo. Antes do encontro, os pais também participaram de um pequeno workshop com a equipe do Força Meninas para discutir como incentivar as filhas a se tornarem futuras cientistas e líderes, estimulando as capacidades e as competências emocionais das garotas.

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    “Essa faixa etária [das meninas] com a qual decidimos trabalhar é aquela que chamamos de idade do fortalecimento”, explica Déborah. “É na pré-adolescência que os jovens, em geral, têm as maiores quedas de autoestima – mas, no caso das meninas, essa queda pode ser até três vezes maior.” Por isso, segundo ela, o evento quis reunir garotas que ainda não entraram ou estão prestes a entrar nessa fase. Dessa forma, a autoestima delas pode ser trabalhada para minimizar a turbulência dessa etapa da vida, em que as meninas começam a se deparar com questões relacionadas às pressões estética e psicológica com maior intensidade.

    “Discutir tecnologia com essas jovens é essencial, porque se elas não conseguem entrar no mercado, as mulheres começam a ficar cada vez mais à margem da sociedade. Isso, por sua vez, gera problemas econômicos e desperdiça um potencial que poderia estar sendo aproveitado para produzir tecnologia de qualidade”, adiciona a fundadora do Força Meninas. “O objetivo, então, é criar uma sinergia: colocar essas meninas em contato com outras garotas que estão crescendo agora e que já são capazes de impactar a vida das pessoas por meio da tecnologia.”

    “Tudo que eu fiz e tudo que eu quero fazer pode ajudar muita gente”, diz Lara Franciulli. “Minha missão é levar isso para elas, para que elas possam ter essa oportunidade também.”

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