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Felipe Miranda: O investidor entre a sorte ou azar de principiante

A pessoa física foi vencedor de 2020; porém, é preciso parar de julgar por resultado e sim olhar processo e mensuração de probabilidades para operar

Por Felipe Miranda *
Atualizado em 15 jan 2021, 13h55 - Publicado em 15 jan 2021, 13h46
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  • Muito investidor se considera sempre um idiota. Eu mesmo pertenço ao grupo. Se ele comprou e subiu, deveria ter comprado mais. Já se comprou e caiu, era óbvio: não deveria ter comprado.

    O viés de retrospectiva recompõe um passado inexorável e passível de antecipação. Previsões sobre o futuro costumam ser um pouco mais complicadas. A onipotência sobre o que deveríamos ter feito extrapola-se também para o futuro. O excesso de confiança é outro desvio cognitivo muito bem documentado na literatura.

    O investidor pessoa física em Bolsa foi o grande vencedor de 2020. Não é uma opinião. Tampouco uma atribuição de virtudes, quando, talvez, haja um bocado de aleatoriedade. É apenas um fato objetivo, uma constatação estatística.

    Dados oficiais da B3 mostram investidores estrangeiros e institucionais locais batendo em retirada do mercado acionário brasileiro no meio da pandemia. Não os julgo. Um choque intenso e inesperado eleva os parâmetros de risco e requer realocação dos portfólios. Se aumenta muito a volatilidade, os modelos cospem a necessidade de refúgio em caixa, dólar, ouro e outros seguros clássicos.

    Ao mesmo tempo, o investidor de varejo, trancado em casa e com um problema grande para resolver diante de juros reais negativos na renda fixa tradicional, foi comprador aos 80.000, 70.000, 65.000 pontos do Ibovespa.

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    Ele é o grande ganhador de dinheiro do ano. As interpretações emergentes são maravilhosas. Gente importante declarou que “o investidor PF deu aula para o institucional e o gringo.” Será mesmo? Faz sentido? Seria análogo a dizer que, no último semestre, dei aulas de automobilismo para Lewis Hamilton.

    Há algo particularmente preocupante em investimentos: julgar pelo resultado, não pelo processo e pela mensuração de probabilidades. Se esse for o critério, o melhor investidor dos últimos 10 anos foi aquele que se alavancou para comprar tudo que podia em bitcoin. Teria ele adotado uma boa estratégia? Ou apenas apostou num cenário de baixíssima probabilidade (e muito risco) que acabou se materializando?

    Felipe Miranda/ Empiricus
    Felipe Miranda, fundador da Empiricus (Instagram/Reprodução)
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    Enquanto julgarmos pelo resultado, estaremos condenados a enaltecer apenas a virtude de correr para o risco. O líder do ranking vai ser sempre um irresponsável que apostou no improvável. Quantos outros improváveis não ficaram pelo meio do caminho? A narrativa de heroísmo é típica das neuroses freudianas elementares. O narcisismo e a onipotência encontram terreno fértil em momentos de bull market. Os gênios se multiplicam.

    Em termos de resultado, comecei a investir em Bolsa da pior forma possível. Acreditei em turnaround de empresa de TV a cabo. Deu nabo. Estive certo de que os chineses comprariam a Tec Toy. Aliás, como os chineses já compraram quase tudo na B3… Já pensei que a Embratel era um satélite que só quer me amar, para morrer em solidão, que nada. Sobraram raspas e restos, mas eles me interessam. O sucesso é um mau professor. São os erros que nos fazem aprender e nos preparar para a próxima rodada.

    Enquanto vermos competência onde há aleatoriedade, apenas alimentaremos falsos heróis. Precisamos mais da mídia especializada e de equipes sérias de análise do que de YouTubers celebridades. Os heróis acabam morrendo de overdose.

    *Felipe Miranda é economista pela FEA/USP, fundador da Empiricus e autor de “Princípios do Estrategista”, publicado pela Intrínseca

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