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Fórum CLAUDIA: equidade salarial pode levar 100 anos

Presidentes mulheres de empresas debatem presença feminina e desafios no mercado de trabalho no Fórum CLAUDIA #EuTenhoDireito 

Por Leandro Nomura
Atualizado em 6 mar 2018, 20h15 - Publicado em 6 mar 2018, 19h12
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  • Reunidas em São Paulo para o Fórum CLAUDIA #EuTenhoDireito, cerca de 20 presidentes mulheres de empresas brasileiras debateram sobre a presença feminina no mercado de trabalho e os principais desafios na carreira, como maternidade e assédio.

    Para Tânia Cosentino, responsável pela operação no país da empresa francesa Schneider Eletric, “a equidade salarial e de gênero, ou seja, o mesmo número de homens e mulheres na direção das empresas, vai levar 100 anos”.

    De acordo com ela, o diferença salarial entre homens e mulheres hoje é de 20% em todo o mundo. “No setor elétrico, é ainda maior, de 31%”, diz. “É extremamente injusto e não é sustentável”.

    Para diminuir essas disparidades, Cosentino defende a criação de cotas para mulheres nos cargos mais altos das empresas, a exemplo do que já acontece em países europeus, como França e Noruega. “Uma mulher sozinha não vai ter voz”, diz. “Na França, 40% do board precisa ser formado por mulheres. Se não for assim, as decisões podem ser questionadas em juízo”, conta.

    Dados apresentados por Denise Damiani, engenheira elétrica e conselheira de administração, mostram que, no Brasil, apesar de as mulheres serem 60% das alunas de graduação, apenas 4% estão no cargo de CEO.

    Ela acredita, no entanto, que o intenso debate nos últimos anos sobre o empoderamento feminino no mercado de trabalho pode diminuir de décadas, como apontam as pesquisas, para apenas 8 anos a meta de igualdade salarial entre homens e mulheres e a paridade nos cargos de direção. “Já estamos no momento de inversão da curva”, diz ela.

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    No PayPal, por exemplo, 54% da liderança da empresa já é feminina, afirma a gerente-geral, Paula Paschoal. “Em todo processo de contratação de entrevista buscamos sempre ter uma mulher entre as finalistas. Além disso, ter sempre uma mulher entre as entrevistadoras, mesmo que o gestor direto seja homem”, diz a executiva. Para ela, criar um ambiente favorável às mulheres traz inclusive reflexos no faturamento da empresa.

    Segundo as debatedoras, o tema além de social é também econômico. Pesquisa apresentada pela belga An Verhulst-Santos, presidente da L’Oréal Brasil, aponta que companhias com diversidade de gênero têm 15% mais chances de ter uma performance melhor nos negócios. Na empresa, o comitê executivo é composto por 31% de mulheres, o dobro da média global, de 14%.

    A diversidade étnica também é um fator de melhora no desempenho no negócio. Empresas que apostam nisso tem um potencial de performance 35% maior. Os dados são da Korn Ferry Institute e foram divulgados em janeiro de 2016. “É um valor fundamental no crescimento das empresas”, diz Verhulst-Santos.

    Porém, a presença de mulheres negras no cargo mais alto das companhias ainda é irrisório, segundo Rachel Maia, da Pandora.

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    Em vídeo transmitido no evento, ela disse que apenas 0,04% das cadeiras de presidente estão ocupadas por elas. “Ainda sou uma exceção. Mas não por isso eu devo me sentir menos (importante do que as outras). O que me empodera é a educação, o conhecimento”, explica.

    Paula Bellizia, da Microsoft, acredita que a tecnologia tem um papel fundamental na ampliação do conhecimento. “A educação de hoje ainda é parecida com 100, 200 atrás”, diz. “A sociedade será impactada pela inteligência artificial. Como preparar jovens para o futuro imediato? A profissões serão transformadas”, questiona.

    Segundo a executiva, a empresa aposta em projetos de doação de softwares para escolas e capacitação de crianças, num programa que já impactou 13 milhões de jovens no acesso à tecnologia.

    Assédio

    Assunto latente no mercado, o assédio foi abordado por Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, que apresentou uma pesquisa feita com 18 mil colaboradores. “Assédio sexual e moral na nossa empresa é inegociável”, diz Trajano.

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    De acordo com o estudo, a palavra mais usada para conceituar assédio sexual é “brincadeira”. Além disso, muitas pessoas responsabilizam a mulher nesses casos. “Queria fazer um pacto. Vamos tomar cuidado com as nossas brincadeiras, com o humor negro. Na empresa a gente está proibido de fazer brincadeira”, diz Trajano.

    A pesquisa mostra ainda que, no caso de assédio moral, o conceito mais recorrente é o de “exposição indevida”. Cerca de 0,9% não souberam responder perguntas sobre assédio moral e 3% sobre assedio sexual.

    Maternidade

    Outro desafio para as mulheres no mercado de trabalho é conciliar a carreira com maternidade. “Era comum as mulheres anunciarem a gravidez pedindo desculpas”, diz Cosentino.

    Após o nascimento do filho, há também dificuldade para voltar ao mercado. “Eu tinha culpa em deixar minhas filhas sozinhas. Achava também que esta ‘emburrecendo’, porque só trocava fralda. Achava que nunca mais vai ia fazer um plano de negócios”, diz Heloísa Simão, da Zodiac.

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    Ela se emociona ao contar que o marido foi fundamental para que ela pudesse voltar a trabalhar. “Ele me deu uma caneta ponteira para apresentações. Ele disse: ‘Você não vai deixar a sua carreira por medo do que pode acontecer’”, conta. “A igualdade, a paridade, tem que começar dentro de casa.”

    Anna Chaia, da Samsonite, concorda. A executiva conta que era comum ela e o marido fazerem viagens internacionais. Quando isso acontecia, eles sempre revezavam quem iria ficar com uma filho pequeno, mas uma vez não foi possível. “Meu filho teve 40 graus de febre. Liguei para o meu marido e ele disse que voltaria ao Brasil imediatamente, apesar de ele ter uma posição maior do que a minha numa empresa maior do que a minha”, diz.

    ‘Milha extra’

    Depois que as crianças deixam de ser bebês, Fiamma Zarif, do Twitter, estimula a presença dos filhos no ambiente de trabalho. “Queria mostrar para eles como eu era assumindo outros papeis e o que eu fazia quando estava longe da presença deles”, diz. “Queria criar uma visão positiva do trabalho e mostrar que as conquistas são resultado de esforço e dedicação.”

    Para Carla Assumpção, da Swarovski, as mulheres precisam da “milha extra”, aquele esforço adicional para atingir um propósito. “São camadas de complexidade que você vai adicionando a vida”, diz.

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    Os desafios, no entanto, não devem levar a uma “curva do desânimo”, que é um fenômeno que ocorre entre mulheres que desistem do objetivo de chegar aos cargos mais altos da empresas, como explica Claudia Sender, da Latam. “Ela vai perdendo autoconfiança. Tende achar que tem um desafio no trabalho e em casa. E acha que não está conseguindo entregar em nenhuma das dimensões”, explicou em vídeo transmitido no evento.

    “Ambição é aquilo que mobiliza, leva ao progresso. É justo, é legitimo, é legal. Não deixe que digam a vocês que ambição não é coisa de mulher”, diz Ana Paula Padrão, diretora de redação de CLAUDIA, realizadora do evento.

     

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