Em meio à maior alta do dólar desde 2020 e a pressão do mercado financeiro pelo arrocho nas contas públicas, o ministro da Fazenda Fernando Haddad cancelou neste domingo, 3, a viagem que faria pela Europa a partir desta segunda-feira, 4, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo a Agência Brasil, o ministério informou, em nota, que a agenda será retomada em outro momento mais oportuno. Diante do cancelamento, Haddad vai se reunir com o chefe no Palácio do Planalto a partir das 9h desta segunda. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, bem como o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o ministro da Secretária-Geral, Márcio Macêdo, também devem participar do encontro.
Haddad se reuniria com autoridades e investidores durante passagem por Paris (França), Londres (Reino Unido), Berlim (Alemanha) e Bruxelas (Bélgica). No entanto, a viagem era vista como mais um fator de insegurança por especialistas.
“A expectativa de que o pacote fiscal seja adiado até novembro cria um clima de insegurança, especialmente com a viagem de Haddad, e isso se reflete na pressão sobre os ativos brasileiros”, afirmou Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital, para VEJA Negócios.
A última semana foi agitada entre a Fazenda e o mercado financeiro. Na última quarta-feira, 30, a pressão sobre o corte de gastos aumentou após o ministro declarar que não havia previsão para anúncio das medidas para realização dos ajustes, embora houvesse a promessa de que a proposta seria conhecida depois do segundo turno das eleições municipais.
Haddad afirmou que “o corte de gastos será necessário para que o arcabouço seja cumprido”, mas sinalizou que está observando as reações do mercado diante do cenário. “Eu espero que o mercado esteja nervoso à toa”, afirmou.
Na gestão Lula, o cumprimento do arcabouço fiscal implica uma matemática complexa. Será necessário encaixar as despesas obrigatórias dentro dos limites, mas sem afetar os programas sociais e investimentos que são bandeira do governo. O malabarismo inclui ainda costurar as medidas a serem adotadas com o Congresso.
Dólar em disparada
Com esse cenário somado à proximidade das eleições americanas, o dólar comercial disparou na última sexta-feira, 1º, e fechou o dia sendo vendido a R$ 5,87. A moeda americana atingiu o maior patamar desde 13 de maio de 2020, no início da pandemia, quando bateu R$ 5,90.
A desvalorização do real impactou o Ibovespa, principal índice da B3, que caiu 1,23%, aos 128,1 mil pontos.