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E-commerce no Brasil avançou 10 anos em 10 semanas

Explosão do e-commerce fez ações de varejistas dispararem, fundos de investimentos aplicar bilhões em startups e a dúvida agora é se o movimento persiste

Por Josette Goulart 2 out 2020, 15h04
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  • De uma hora para outra, os CEOs das varejistas pelo Brasil afora reduziram drasticamente a variedade de preocupações em torno dos seus negócios. Com as lojas fechadas, não precisavam mais pensar em coisas como segurança para evitar furtos, projetos de expansão de lojas físicas, manutenção, enfim, todo o barulho do mundo físico. Com uma pandemia pela frente e parte representativa da população entrando em isolamento social, a toda a energia desses CEOs, naquele período mais crítico, se centrou nas lojas virtuais. Quem conta a história desta forma é Geraldo Thomaz, o fundador da Vtex, uma empresa de software especializada em montar sites de e-commerce e que dobrou de tamanho neste ano. Havia uma razão adicional para os executivos que vendem os seus produtos no varejo começarem a prestar mais atenção às lojas virtuais: o consumo explodiu neste canal. Um estudo do Atlantico, um fundo de venture capital, mostra que, em apenas 10 semanas, entre março e maio, a penetração do e-commerce no Brasil dobrou, crescendo no período o mesmo que tinha levado 10 anos para conseguir.

    O efeito nos negócios pôde ser sentido de várias formas. As ações das lojas varejistas dispararam na bolsa. Um símbolo deste momento é a Magazine Luiza, que hoje já figura entre as dez empresas mais valiosas da América Latina. O Mercado Livre foi além e superou a mineradora Vale como a empresa com o maior valor de mercado do continente. As Lojas Americanas captaram R$ 7,8 bilhões em ofertas de ação, a ViaVarejo, dona das Casas Bahia, mesmo com prejuízo, viu sua ação valorizar no ano e se recuperar da queda das bolsas do fim do primeiro trimestre. Outro movimento foi o do dinheiro dos fundos de investimentos para startups, que oferecem soluções para o segmento. A Vtex recebeu um aporte de R$ 1,25 bilhão. A Acesso Digital, que faz autenticação no mundo digital e tem varejistas como clientes, recebeu R$ 580 milhões. O movimento afetou o setor das fintechs. A Stone, que oferece soluções para o varejo, captou mais de R$ 8 bilhões na Nasdaq para ter dinheiro para comprar a Linx, uma empresa de software especializada no segmento. O que dizer então das empresas de delivery. O volume de pedidos no iFood cresceu mais de 30%. E a Amazon que informou que a sua curva de crescimento no Brasil nem é curva, é uma reta na vertical.

    Mas a euforia tem dado espaço para que, nestes últimos meses do ano, investidores e empresas se concentrem no que vai ficar deste período de grande expansão. O próprio estudo da Atlantico revela que, se a penetração do e-commerce chegou a 12,6% em maio, já caiu para 11,2% em junho. O especialista no setor de consumo na Deloitte, Ricardo Balkins, lembra que o crescimento foi exponencial porque as pessoas não tinham mais opção e acabaram migrando para o mundo online. O que as empresas planejavam fazer em 4 anos no mundo digital, fizeram em 4 meses para atender esta demanda. Mas, se é uma demanda sustentável, ainda é uma incógnita. O que Balkins diz é que tudo vai depender da experiência que o cliente teve ao comprar online. Se o produto chegou certo, no prazo, se teve ou não problema para devolver, se chegou rápido, se foi fácil pagar. Tudo isso conta.

    O fundador da Vtex faz suas apostas e acredita que o movimento não tem mais volta. Ele diz que lojas que vendiam 10% de seus produtos na internet passaram a um índice de 90% e o volume total das vendas não mudou muito para algumas lojas. A Vtex não tem do que reclamar. Além de novos clientes, como Carrefour, Motorola e Nissan, ainda conseguiu expandir contratos como o da Ambev que passou a ser um contrato global, e da Samsung que passou a ser um contrato para a América Latina. “Não vai regredir”, diz Thomaz. “Apenas desacelerar”.

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