O pedido de demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro, estressou o mercado financeiro na manhã desta sexta-feira, 24. Tão logo o pregão teve início, o dólar escalou abruptamente, buscando novos recordes nominais. Nem mesmo a oferta de dois leilões que o Banco Central lançou mão nesta manhã, sendo um de swap cambial e outro de linha, com oferta de 3 bilhões de dólares à vista, fizeram com que a escalada se arrefecesse. Na parte da tarde, já com a demissão de Moro confirmada, o dólar chegou a bater 5,74 reais — maior recorde nominal para o intradia. Às 14h52, a moeda americana era vendida a 5,724 reais.
O Banco Central tem tentado, em vão, controlar a escalada da moeda nos últimos dias, mas o nível de desconfiança e de incerteza do mercado financeiro é tão grande que os investidores preferem não realizar ordens de compra. Até por isso, a oferta de 3 bilhões de dólares à vista não surtiu efeito. Apenas 700 milhões de dólares foram absorvidos pelo mercado. “Os leilões de swap são operações compromissadas, que neste momento não estão surtindo efeito. Os leilões à vista jogam dólar no mercado, o que pode aliviar um pouco, mas nem esse tipo de leilão está sendo digerido. O mercado está bastante tomador, principalmente por causa da nossa taxa de juros, que caminha para mais um corte expressivo”, diz Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da Ourominas.
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Clique e AssineÉ fato que a política tem causado uma forte turbulência no mercado financeiro. A saída do ministro da Justiça, um dos pilares de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e o anúncio do “Plano Marshall” tupiniquim, no qual o ministro da Economia, Paulo Guedes, terá participação nula, injetam mais aversão ao risco do país. “A impressão que se dá é que o presidente está sacrificando uma peça grande [no caso, o Sergio Moro] para tentar cooptar um acordo com o Centrão. Ele está fazendo isso porque ele tem uma rota direta de conflito com o presidente da Câmara, o Rodrigo Maia. A questão é que isso vai custar caro para o presidente neste momento e isso está se refletindo na economia também. O Paulo Guedes, ministro da Economia, acabou de cancelar uma conferência com um grande banco, o que acabou gerando mais estresse no mercado”, diz André Perfeito, economista-chefe da corretora Nécton. Segundo ele, os ruídos da política interna podem fazer o dólar bater os 5,80 reais. Fontes afirmam que Guedes pode ser o próximo a desembarcar do governo Bolsonaro.
Outra pressão sobre o câmbio é o fato de o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ter admitido à imprensa recentemente que a instituição estuda novos cortes na taxa básica de juros, a Selic, que hoje vigora em 3,75% ao ano — o menor nível da história. O mercado financeiro projeta que hoje há mais de 90% de chances para uma redução 0,75 ponto percentual (p.p.) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, marcada para os próximos dias 5 e 6 de maio. A possibilidade de juro real negativo faz com que investidores estrangeiros diminuam o ímpeto de apostar em aplicações de renda fixa no país. O movimento de valorização do dólar, diga-se, não é exclusivamente sobre o real. Moedas de países emergentes, em geral, têm sofrido com a alta volatilidade. Neste ano, a moeda americana avançou 38% perante à brasileira.