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Diversidade avança nas empresas, mas ainda não chega em cargos altos

Trans e não-binários ganham mais atenção em processos de seleção, mas a falta de representatividade em cargos executivos atrapalha objetivos de carreira

Por Felipe Mendes Atualizado em 2 jul 2021, 01h59 - Publicado em 30 jun 2021, 16h49
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  • Depois de se formar em Direito, em 2017, Gabriela Augusto se questionou para quais empresas poderia enviar o seu currículo. Mulher trans e negra, ela enfrentou na pele situações de preconceito durante a sua jornada na universidade e sonhava em fazer parte de uma organização que a recebesse de portas abertas, num ambiente inclusivo, e que fosse exemplo no mundo corporativo. Mas, infelizmente, isso ainda não é lugar-comum nas empresas. Gabriela decidiu, então, ajudar a mudar a cultura organizacional das companhias de fora para dentro. Fundou, em 2017, a Transcendemos, uma consultoria voltada a projetos de inclusão e diversidade que atende a mais de 100 organizações, ajudando a levar oportunidades para grupos que, hoje, são subrepresentados. A falta de representatividade, aliás, não é uma boa escolha econômica para uma organização. Uma pesquisa realizada recentemente pela consultoria McKinsey indica que a diversidade sexual pode fazer com que as empresas sejam 15% mais lucrativas em relação ao impacto na margem de lucro se comparada à média da indústria.

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    Geralmente, essas companhias também são as que têm maior satisfação dos funcionários e os líderes mais admirados do mercado, afirma a pesquisa. A realidade, no entanto, é que ainda há um longo caminho a ser trilhado.  “Recentemente fechamos uma parceria Oracle, onde lançamos um curso de programação para pessoas trans e travestis. Recebemos mais de mil inscrições para as 10 vagas que tínhamos”, conta Gabriela, exemplificando como há busca pela inserção desse capital humano nas organizações.

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    Um outro levantamento, do Grupo Croma, mostra que 75% das pessoas que se reconhecem como parte da comunidade LGBTQIA+ sentem que as empresas têm preconceito na hora de contratar. Tamanha apreensão faz com que muitos candidatos gays, lésbicas e transgêneros desistam de concorrer a vagas. No mês do orgulho LGBTQIA+, uma frase dita pela ativista e advogada Verna Myers simboliza a luta por equidade de gênero e maiores oportunidades para gays, lésbicas e transgênero: “Diversidade é convidar para a festa. Inclusão é chamar para dançar”.

    Inspirado no trabalho de Verna, também Zeni do Vale tenta transformar a cara da Credere, uma startup de crédito para a compra de veículos. Desde o fim de 2020 na empresa, Zeni, que se reconhece como não-binário, tem imprimido uma mudança na rotina da jovem companhia, com o lançamento da liga da diversidade (uma espécie de comitê para discutir políticas de inclusão na empresa) e de um guia de inclusão e linguagem neutra para os funcionários. “A liga é um processo plural, que não foi criado para a comunidade LGBTQIA+, para esse evento de junho, mas uma célula viva, orgânica e autônoma. Minha função é promover um ambiente de respeito”, diz Zeni, agente de diversidade, inclusão e equidade da Credere. “Quando a gente fala em diversidade, inclusão e equidade, não é no sentido de termos grupos subrepresentados na empresa somente por uma questão de participação, mas sim ter esses elementos em diversos níveis da empresa, mostrando que há oportunidades para que as pessoas da comunidade LGBTQIA+ ascendam e assumam cargos de liderança”, explica, sobre sua função.

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    Para a especialista Sofia Esteves, fundadora da Cia dos Talentos, faltam oportunidades no mercado de trabalho, sobretudo, para pessoas trans. Segundo ela, a mudança deve vir na base das instituições, com investimento em capacitação. Por isso, a consultoria lançou neste mês, ao lado da Descomplica e do Instituto Ser+, um programa que selecionará 12 pessoas não-binárias ou trans de baixa renda para receberem uma bolsa de estudos integral para graduação. “Essa ação que tem sido feita por nós e por outras grandes empresas não pode ser vista como um ato de generosidade ou de benemerência, mas sim como uma correção de um problema grave da história do país”, comenta. Segundo ela, o acolhimento desse funcionário é tão importante quanto a contratação em si. “Não adianta contratar e não preparar a organização para receber esse profissional. A capacitação é algo fundamental, uma função que pode ser assumida pelas empresas”, diz.

    Sócia-líder da área de capital humano da consultoria KPMG, Luciene Magalhães acredita que inclusão e diversidade é um tema a ser seguido pelas empresas. “Para a KPMG o tema inclusão e diversidade é uma peça importante da estratégia, portanto uma necessidade e demanda do negócio, além de ser a coisa certa a se fazer”, afirma. Gabriela Augusto, do Transcendemos, porém, acredita que as empresas ainda patinam no trato aos trans. “Acho que as empresas precisam investir, em primeiro lugar, em conscientização e treinamento, promovendo essa mudança de cultura de dentro. Às vezes, quando eu chego numa empresa e apresento meu documento, as pessoas automaticamente começam a me chamar de senhor ou pelo meu nome de registro, quando o ideal é que me perguntem como eu gostaria de ser chamada”, lamenta. “Outras pessoas usam termos como ‘homossexualismo’ e ‘transexualismo’ no dia a dia. São conceitos errados e ultrapassados, pois indicam que essas pessoas seriam doentes por suas opções sexuais ou de gênero. Então, às vezes essa pessoa pode estar praticando preconceito sem sequer saber.”

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