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Desemprego por longo prazo reduz as chances de recolocação

Total de pessoas sem emprego há mais de dois anos dobrou desde 2015; nas faixas etárias de 18 a 24 anos e 30 a 39 anos, eles já somam 1,5 milhão

Por Da redação
Atualizado em 4 jun 2024, 19h02 - Publicado em 16 jul 2017, 10h00
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  • O número de pessoas desempregadas há mais de dois anos dobrou de 2015 para cá, com o prolongamento da crise econômica. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse grupo já soma quase 3 milhões de pessoas sem emprego fixo e com baixa perspectiva de se recolocar no mercado de trabalho. Para esses trabalhadores, a busca pelo emprego virou uma corrida contra o relógio, já que quanto mais tempo fora do mercado, maior a dificuldade para retornar.

    A situação é mais complicada entre os profissionais com idade entre 18 e 24 anos e 30 e 39 anos. Só nessas duas faixas, o número de pessoas sem emprego há mais de dois anos soma 1,5 milhão. “Em geral, essas pessoas têm menos qualificação. Com o passar do tempo, não conseguem mais entrar no mercado de trabalho”, afirma o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

    Segundo ele, esses profissionais vão começar a sentir ainda mais esse efeito quando a economia voltar a crescer e demandar mão de obra. Além de enfrentar o preconceito das empresas em relação ao tempo sem um emprego fixo, também podem sofrer com as mudanças tecnológicas. Para Barbosa, esse grupo vai merecer atenção especial, caso contrário a crise atual terá efeitos permanentes em sua empregabilidade.

    Se para os jovens a situação é complicada, entre os mais velhos chega a ser dramática. Embora não represente o maior número de pessoas sem trabalho há mais de dois anos, a faixa etária que teve o maior avanço no índice de desemprego desde 2015 foi aquela entre 50 e 59 anos. Esse grupo cresceu 140% e passou a somar 248 mil pessoas. “Uma característica dessa crise é exatamente o fato de que vários chefes de família estão perdendo o emprego”, afirma o economista Renan De Pieri, professor do Insper. “São pessoas mais experientes e que ganham mais.”

    Tecnologia

    Segundo os economistas, alguns fatores explicam a dificuldade para se recolocar depois de um tempo longo sem emprego fixo. Uma delas é a rapidez das mudanças tecnológicas na economia.

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    “Se um profissional que está na ativa já sente a mudança de tecnologia, imagine uma pessoa que fica dois, três ou quatro anos desempregado”, alerta Barbosa. Isso sem contar que, nesse meio tempo, a própria função do trabalhador pode desaparecer. Em algumas áreas, como o setor bancário, por exemplo, a automatização está alterando muito a dinâmica do mercado de trabalho.

    Flexibilidade

    Segundo o diretor executivo da empresa de recrutamento Michael Page, Ricardo Basaglia, depois de uma crise os empregos não voltam com as mesmas características, o que exige dos candidatos maior flexibilidade para se adequar às novas funções. Num primeiro momento, diz ele, o trabalhador se mostra resistente a mudanças e à redução da remuneração. Mas com o passar do tempo e o afastamento do mercado, ele começa a ser mais flexível.

    “Nesse momento, ele terá de responder ao empregador por que está há tanto tempo fora do mercado de trabalho.”

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    De Pieri, do Insper, diz que há preconceito por parte das empresas em relação aos trabalhadores que ficam muito tempo sem emprego fixo. “A justificativa é que esse profissional perde habilidade técnica e de liderança.” Por isso, completa o professor, é importante manter contato com pessoas do mercado para não se distanciar muito da realidade. É o que tem feito o web designer Wado Cravo.

    Sem emprego há mais de dois anos, ele busca os antigos contatos para se manter atualizado e fazer bicos. São os trabalhos esporádicos que têm garantido seu sustento durante esse tempo. Mas o dinheiro só dá para cobrir o básico, diz ele.

    “Tive de cortar quase tudo. Hoje, moro de favor na casa da minha filha.” Apesar de procurar emprego com frequência e mandar currículos para empresas, ele não tem tido sucesso para se recolocar. “Nunca tinha vivido algo nessa magnitude. A crise está matando muitos profissionais dessa área.”

    (Com Estadão Conteúdo)

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