Os países do Ocidente vêm tentando asfixiar o poderio russo por meio de sanções, mas elas ainda surtiram poucos efeitos na ofensiva militar de Vladimir Putin. Mesmo com a retirada do sistema global de pagamentos Swift – uma das consideradas mais graves – Putin não demonstrou sinais de abalo. A postura arredia e a intensificação do conflito levaram os Estados Unidos a adotar uma estratégia mais agressiva: banir a compra de petróleo russo. Agora, os americanos buscam, ironicamente, socorro na Venezuela para garantir o fornecimento e, estrategicamente, tentar abalar a relação de Nicolás Maduro com Putin.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou a decisão de suspender a compra de petróleo russo, bem como gás natural e outras fontes de energia na terça-feira, 8, levando o preço do barril de petróleo WTI, referência dos Estados Unidos, subir 3,60%, encerrando o dia cotado a 123,70 dólares. Os americanos aguardavam postura semelhante de seus aliados europeus, mas a acabou sendo adotada apenas por Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido.
No ano passado, os Estados Unidos importaram 672 mil barris por dia da Rússia, segundo a Energy Information Administration. Embora o volume de petróleo importado dos russos seja pequeno – cerca de 3% a 8% – uma pequena fração de desabastecimento seria suficiente para acelerar ainda mais os preços dos combustíveis. A média do galão de gasolina no país passou de 3,65 dólares para 4,25 dólares, aumento de 16,4% em uma semana. Segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), cada 1 milhão de barris de demanda não atendida se reflete em um adicional de 14 a 20 dólares no preço do barril.
Joe Biden já falou sobre o uso das reservas do país como uma resposta rápida a essa crise, mas elas não são suficientes no longo prazo. Segundo o IBP, os americanos possuem um estoque de 500 milhões de barris, volume que corresponde a cinco dias de consumo mundial ou 25 dias de consumo americano. Colocando na conta a produção interna de petróleo dos Estados Unidos, o estoque seria suficiente para 70 dias.
Por isso, antes da decisão de banir o petróleo russo, as autoridades do governo americano já articulavam alternativas. No sábado, 5, dias antes do anúncio, membros do governo americano viajaram para a Venezuela, onde estiveram reunidos com o presidente Nicolás Maduro. “Tivemos uma reunião que eu poderia qualificar como respeitosa, cordial, muito diplomática”, disse Maduro sobre o encontro que durou quase duas horas na qual foram tratados sobre “avanços em temas de interesse”. A questão energética foi uma das que esteve na mesa de tratativas entre os países. As negociações para importar petróleo venezuelano foram confirmadas na segunda-feira, 7, pela secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki.
Os Estados Unidos cortaram as relações diplomáticas com a Venezuela em 2019, quando Maduro assumiu o segundo mandato para comandar o país, envolto em uma série de polêmicas que consideravam o resultado “questionável”. Os americanos não reconheceram o resultado e impuseram uma série de sanções ao país para tentar derrubar Maduro. A principal delas tratava da proibição de importar e comercializar petróleo venezuelano, e atingiu em cheio a economia do país. A comercialização de petróleo é responsável por 96% das receitas da Venezuela, e o Estados Unidos era um dos seus principais mercados. Desde então, a Rússia se tornou importante aliado do país, estreitando ainda mais as relações entre Maduro e Vladimir Putin. Mas parece pouco provável que a aproximação dos Estados Unidos e a retirada do embargo ao petróleo venezuelano surta o efeito desejado de deixar Putin ainda mais isolado. Maduro continua enfatizando que “manterá as relações comerciais com a Rússia”.