O quadro de recessão econômica, juros elevados e queda do consumo entre os brasileiros tem abalado as perspectivas de administradores e controladores de shopping centers no país. Cerca de 30% das inaugurações de centros comerciais previstas para 2015 foram adiadas. Os analistas apontam que essas suspensões são naturais no curto prazo, mas que a crise econômica pode ter um impacto mais forte sobre empreendimentos planejados para depois de 2018.
No início do ano, a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) projetava a abertura de 26 empreendimentos neste ano, mas o número foi revisado para 18 novos shoppings, o que corresponde a uma baixa de 30,8%. Do total de unidades previstas, dez já estão em funcionamento. Em 2015, foram abertas 25 unidades ante uma projeção inicial de 43.
Segundo o presidente da Abrasce, Glauco Humai, a revisão nas inaugurações é natural e está próxima da média dos últimos anos. “É claro que a situação atual coloca todo mundo em risco. Quem pode segurar um projeto freia um pouco. Mas isso não significa que esses oito projetos de 2015 deixaram de ser inaugurados porque o investidor tirou o pé. É prematuro dizer que projetos de 2015 e 2016 já estão sendo afetados pela crise”, afirmou o executivo. Entre os motivos para o adiamento, Humai citou a demora para se conseguir licenciamentos e dificuldades nas obras.
“Acho que 18 é um bom número para um ano conturbado. Já no ano que vem, devemos ter mais de 30 shoppings. Seguimos uma dinâmica natural. A crise atual deve impactar inaugurações para 2018 e 2019, pois esses empreendimentos estão sendo planejados agora. O investidor pode olhar a situação atual e repensar um projeto com inauguração daqui três ou quatro anos”, afirmou o executivo. De acordo com a Abrasce, estão previstas 36 inaugurações em 2016.
O presidente da entidade ressaltou ainda que o ciclo de um projeto no setor é longo e, por isso, atrasos acabam sendo comuns. No entanto, o executivo alertou que, se a atual crise se prolongar, o número de inaugurações pode ser afetado daqui a alguns anos. “Se não encontrarmos uma saída para o momento do país, os projetos para 2018 e 2019 podem ser reduzidos”.
O peso da dívida – Além da baixa confiança do consumidor e outras dificuldades macroeconômicas, como desemprego e inflação, o aumento do custo da dívida é mais um motivo para a cautela no setor. De acordo com o analista Marcelo Motta, do JPMorgan, as empresas de shoppings têm evitado assumir dívidas para a execução de novos projetos. “Por causa do aumento de custo de dívida, frente aos juros elevados, muitos empreendedores não se sentem confortáveis para seguir em frente com expansões e lançamentos. Há uma espera para ter mais clareza sobre a demanda e a economia antes de lançar ou continuar um projeto”, afirmou o analista.
A cautela com novos empreendimentos também é observada entre os lojistas. Para o presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun, os lojistas estão com menos apetite por novos empreendimentos, o que pode contribuir para uma demora maior até a inauguração. “Se a comercialização não estiver tão bem, pode haver atrasos para se ter o menor prejuízo possível. Numa inauguração com ocupação de 20% a 30% de lojistas, o prejuízo é muito maior, porque a imagem do empreendimento é enfraquecida e para recuperar essa imagem é muito pior”, afirmou o executivo.
Ele lembrou, no entanto, que o processo de construção é “irreversível”, e postergar uma abertura também incide em custos para as empresas. “Quando as obras começam, elas precisam ser entregues mais dia ou menos dia, caso contrário o custo fica muito alto”, acrescentou. Nabil Sahyoun ressaltou que o mercado está se adequando às novas condições. Para ele, shoppings e varejistas continuam em busca de oportunidades, o que pode acelerar o processo de ajuste. “Há bastante resistência sobre novos empreendimentos, no sentido de esperar que o cenário melhore para desengavetar os projetos. Os próximos dois anos vão ser de muita luta e readaptação ao cenário vigente”, afirmou o executivo.
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