Em meio à crescente pressão sobre as contas públicas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou acalmar os ânimos do mercado financeiro nesta quarta-feira, 30. Segundo o ministro, “o corte de gastos será necessário para que o arcabouço seja cumprido”.
A fala ocorre após o ministro dizer na véspera que não há previsão para o anúncio das medidas de ajuste, anteriormente prometidas para após o segundo turno das eleições municipais. Essa indefinição, somada à divulgação do déficit em transações correntes, que superou 2% do PIB, intensificou as preocupações do mercado, levando o dólar a atingir R$ 5,79, o maior valor em mais de três anos. Por volta das 12h20, a moeda era vendida a R$ 5,78.
Nesta semana, Haddad se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e agora afirma que houve um alinhamento entre a Fazenda e a Casa Civil quanto à necessidade de cumprir o arcabouço fiscal.
Risco fiscal
Desde que o arcabouço fiscal foi aprovado, o desafio tem sido encaixar as despesas obrigatórias dentro dos limites estabelecidos sem comprometer os investimentos e os programas sociais que o governo Lula busca expandir. Segundo Haddad, o objetivo é garantir que o ajuste ocorra de maneira responsável, ainda que isso signifique a necessidade de uma emenda constitucional para solidificar as medidas.
O ministro também não ignorou o fato de que o mercado financeiro tem reagido de maneira impaciente a essas discussões. “Eu espero que o mercado esteja nervoso à toa”, afirmou Haddad. Embora compreenda as especulações que circulam, ele sugere que parte da reação negativa pode ser um exagero, uma percepção que ele espera ver dissipar-se à medida que as propostas forem apresentadas e negociadas no Congresso.
De fato, o mercado tem uma memória curta quando se trata de promessas fiscais no Brasil. A volatilidade cambial e as expectativas de inflação, que estavam relativamente ancoradas após a aprovação do arcabouço, no ano passado, começam a oscilar novamente com as incertezas sobre o futuro das contas públicas. Haddad, no entanto, afirmou que um corte responsável, embora doloroso, em algumas áreas, pode trazer benefícios de longo prazo.
O maior obstáculo, porém, pode estar nas negociações políticas. O Congresso terá de ser convencido de que os cortes são necessários, o que pode resultar em atrasos e ajustes adicionais no cronograma. Haddad parece ciente dessa dinâmica, afirmando que pequenos atrasos podem, na verdade, contribuir para uma proposta mais robusta.
Apesar disso, o ministro tem mantido uma postura otimista, apontando para os resultados positivos que o arcabouço fiscal trouxe em sua primeira fase, como a queda dos juros e a valorização do real. Ele acredita que, uma vez que os ajustes sejam aprovados, a confiança no governo e na economia brasileira será restaurada.
Ainda assim, o caminho adiante é repleto de desafios. No entanto, como o próprio ministro lembrou, ao lidar com finanças públicas, não há espaço para erros.