Apesar do desaquecimento da economia preocupar, o Banco Central decidiu manter sua política contracionista e aumentou a taxa Selic em mais 1,5 ponto percentual em sua primeira reunião do ano, realizada nesta quarta-feira, 2. Assim, a taxa básica de juros chega no início do ano de 2022 fixado no patamar de 10,75% ao ano, como já era previsto pelo mercado e sinalizado pelo próprio BC.
Essa é a oitava alta consecutiva no índice, que passou do menor patamar histórico de 2%, em 2021, para o atual nível de dois dígitos pela primeira vez em quatro anos e meio. A última vez que a Selic superava os 10 pontos percentuais foi em julho de 2017. “O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz o colegiado. Na nota sobre a decisão, o comitê afirmou que pode reduzir o ritmo da alta — que há três reuniões sobe 1,5 ponto percentual. Isso porque os efeitos da alta dos juros são cumulativos e têm como objetivo baixar a inflação para o chamado “horizonte relevante”, ou seja, os anos de 2022 e 2023.
O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) veio mais duro, como era esperado, devido à persistência inflacionária no ambiente doméstico. Segundo Marcus Macedo, executivo-chefe de investimentos do Andbank Brasil, o comportamento do BC ficou dentro do esperado pelo mercado. “A maior preocupação do BC nesse momento ainda é com a ancoragem das expectativas e com a transmissão desse aperto monetário para a economia”, diz.
O BC relata preocupação com o aumento nos preços das commodities internacionais na trajetória inflacionária, com as incertezas fiscais que seguem mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação, e com o cenário externo menos favorável. “A maior persistência inflacionária aumenta o risco de um aperto monetário mais célere nos EUA, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes. Além disso, a nova onda da Covid-19 adiciona incerteza quanto ao ritmo da atividade, ao mesmo tempo que pode postergar a normalização das cadeias globais de produção”, diz o Copom em nota.
Assim como nas atas anteriores, a autoridade monetária voltou a destacar a importância da responsabilidade fiscal no rumo dos juros brasileiros. “Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação e, portanto, a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário de referência.”
Inflação
Mesmo com a taxa de juros alta, a inflação continua acelerando por aqui. A inflação acumula alta de 10,06% em doze meses até janeiro e o índice de preços ao consumidor (IPCA) deve encerrar o ano em 5,38%, indicando novamente estouro da meta, segundo dados projetados por analistas do mercado no último Boletim Focus, na segunda-feira, 31. A meta definida pelo BC é de 3,5%, com margem de tolerância de até 5%.
Segundo Gustavo Sung, economista responsável pelo relatório de macroeconomia da Suno Research, o Copom tem deixado claro que seu objetivo é levar a inflação ao centro da meta no horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023. “A taxa deverá se manter no pico até o fim do ano, com a possibilidade de reduções após as eleições”, prevê Sung.