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Copom eleva Selic pela primeira vez desde 2015 e taxa vai a 2,75% ao ano

Mercado estimava alta na taxa básica de juros devido a aceleração dos preços e a lentidão nas reformas, o que pressiona o risco fiscal

Por Larissa Quintino, Luisa Purchio Atualizado em 17 mar 2021, 20h49 - Publicado em 17 mar 2021, 18h49
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  • O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu subir a taxa básica de juros da economia, Selic, em 0,75 ponto porcentual, elevando para 2,75% ao ano. A decisão interrompe o ciclo de baixa da Selic e é a primeira alta desde julho de 2015. O anúncio da elevação, feito nesta quarta-feira, 17, vai em linha com a expectativa do mercado financeiro, que esperava uma sinalização da autoridade monetária devido à inflação acelerada. O patamar, no entanto, surpreendeu boa parte do mercado, que esperava aumento de apenas 0,5 ponto.

    O Copom deixou em aberto, ainda, a possibilidade de elevar a taxa de juros “na mesma magnitude”, ou seja, em 0,75 ponto porcentual na próxima reunião que acontecerá em maio.

    De acordo com o comunicado, o colegiado considerou que era possível tirar os estímulos adicionais, iniciando um processo de “normalização parcial” da taxa de juros. “O PIB encerrou 2020 com crescimento forte na margem, recuperando a maior parte da queda observada no primeiro semestre, e as expectativas de inflação passaram a se situar acima da meta no horizonte relevante de política monetária. Adicionalmente, houve elevação das projeções de inflação para níveis próximos ao limite superior da meta em 2021″, afirmou em nota.  

    O peso maior da inflação voltou a aparecer no país a partir do segundo semestre do ano passado. No mesmo momento em que a atividade econômica voltou a aquecer, a desvalorização do real e a alta das commodities tiveram alto impacto sobre o preço dos alimentos. Segundo o BC, em atas do Copom durante o ano de 2020, o movimento era transitório. Porém, em 2021, a inflação não arrefeceu. Os alimentos continuam subindo, em menor velocidade, e o combustível também passou a acelerar pressionando os preços aos consumidores.

    A equipe econômica de Paulo Guedes, por exemplo, calcula que o pico da inflação chegue a 6,7% neste ano, e depois arrefeça e encerre a 4,4%, acima do centro da meta, mas dentro da margem de segurança.

    No comunicado anterior, o Copom disse que monitorava a pressão inflacionária, mas que decidia pela manutenção dos juros na mínima histórica pelo elevado grau de ociosidade da economia e as necessidades de estímulo. O aumento dos casos do novo coronavírus e as medidas de distanciamento social, que impactam nas atividades, estão ocorrendo. Apesar do aumento da taxa, a Selic ainda se encontra em patamares baixos. Isso significa que investir em renda variável ainda é mais rentável que na renda fixa atrelada à Selic, como é o caso da poupança e os fundos DI.

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    A mudança em si não deverá impactar significativamente nos mercados brasileiros nos próximos dias, tendo em vista que esta alta já foi precificada pelo mercado. “Hoje o Fed falou que manterá o juros baixos, isso deve continuar favorecendo o mercado”, diz Thomás Gibertoni, especialista de investimentos da Portofino Multi Family Office. Nesta quarta-feira, o Ibovespa encerrou em alta de 2,2%, a 116.549 pontos, impulsionado pelo mercado internacional.

    Além da inflação, o Copom e os economistas continuam a alertar sobre o risco fiscal do país. O aumento do endividamento público é um problema anterior à Covid-19, mas que foi exacerbado com os estímulos. Com a pandemia, esse quadro vem se agravando. Com menos arrecadação de impostos devido à desaceleração das atividades econômicas, o déficit fiscal do país entrou ainda mais em sinal de alerta. Na semana passada, ao mesmo tempo que autorizou a retomada do auxílio emergencial, o Congresso aprovou uma série de medidas de ajuste fiscal.

    O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, diz o comunicado do colegiado.

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    O Goldman Sachs chama atenção para o comportamento do real. A moeda tem subido e feito o BC intensificar o câmbio. Esse é um dos pontos que também pode motivar a alteração na política monetária. “As preocupações com as perspectivas fiscais de médio prazo permaneceram altas e o risco político e de política aumentou com uma decisão do Supremo Tribunal que acrescentou curto e significativo risco de médio prazo . No geral, o cenário macro-financeiro doméstico tornou-se mais incerto e com um perfil de risco mais pronunciado”, diz.

    O risco Brasil, por exemplo, pode ser verificado na discrepância entre a taxa básica e os juros longos, que estão atualmente acima de 6% para títulos com vencimento a partir de cinco anos. Tudo isso exige atenção para a retomada da agenda reformista neste ano.

    Histórico

    Após o último aumento, em julho de 2015, a Selic se manteve em 14,25% até outubro de 2016, quando começou o ciclo de cortes da taxa básica. Entre 2018 e 2019, ocorreu mais um período de estabilização, com juros a 6,5% ao ano. A partir daí, houve sequência de cortes, até a chegada aos 2% ao ano, menor patamar  da história, em agosto do ano passado.

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