O conselho da Petrobras aprovou nesta quinta-feira, 26, a indicação de Jean Paul Prates para a presidência da estatal. O nome agora precisa ser aprovado pela análise da Assembleia de Acionistas, o que deve acontecer perto de abril. O ex-senador indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem quatro empresas do setor de óleo e gás e defende mais investimento em refino e em fontes renováveis. A manutenção da política de preços da estatal é a grande preocupação do mercado.
Na quarta-feira, 25, um dia antes da reunião do conselho, a Petrobras reajustou o preço da gasolina, elevando em 5,18%. Esse foi o primeiro aumento nos preços da gasolina desde junho de 2022. A gasolina ainda estaria defasada em 14%, segundo Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), o que indica que haverá pressão para novos reajustes. “Não descartamos novos aumentos, mas a discussão deve ser aprofundada. Integrantes do governo deram a entender durante a campanha e depois da posse que haverá uma nova política de preços para os combustíveis. Acho difícil cravar qual será esta política, mas temos indícios que passam pela criação de um fundo que crie uma espécie de amortização nas oscilações dos preços usando por exemplo os dividendos recebidos pelo governo. Há também a questão da reoneração dos impostos dos combustíveis, cuja discussão também deve afetar esta nova política de preços, importante para o governo reduzir o déficit fiscal, mas que afetará o IPCA deste ano”, diz Ricardo Pompermaier, estrategista-chefe da Davos Investimentos.
Entre 2021 e 2022, a Petrobras fez uma série de ajustes nos preços dos combustíveis em consequência da elevação do preço das commodities no mercado internacional, mas a política de preços da estatal, que acompanha a cotação internacional, foi duramente atacada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. A atual política também não agrada a Lula, que já teceu diversas críticas à “dolarização” dos combustíveis. “Uma das promessas de campanha de Lula foi reaver a política de preços da Petrobras. Essa já era uma expectativa do mercado e que não tem a ver com nome de Jean Paul Prates, mas sim com o novo governo. Como indicado do governo, é esperado que ele venha a fazer essas alterações”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. Por volta de 12h30 dessa quinta, as ações ordinárias da companhia recuavam 2,27%.
Prates já afirmou em entrevistas que pretende fazer alterações na política de preços da companhia, mas descarta qualquer tipo de intervenção e desvinculação com o mercado internacional. “Ainda há muita dúvidas de como essa fórmula vai ser reescrita. De fato, existem pontos a serem melhorados na política, mas o que acaba instaurando cautela é o passado recente que culminou em congelamento de preços”, comenta Abdelmalack.
Na avaliação de Rodrigo Simões, economista e professor da FAC-SP, o viés desenvolvimentista do novo governo acaba gerando maior cautela no mercado pela atuação no controle dos preços, como aconteceu no governo de Dilma Rousseff. Para Pompermaier, o mercado espera que a solução não passe por políticas que prejudiquem a empresa, como as adotadas no passado, com congelamento de preços que afetem os resultados e a capacidade de investimento da empresa e aumentem o seu endividamento.