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Como a Cedae virou catalisador de mortes e casos de Covid-19 no Rio

Companhia de saneamento básico fluminense acumula casos de mortes e infecções da enfermidade; segundo sindicato, 11 funcionários da estatal perderam a vida

Por Felipe Mendes Atualizado em 29 Maio 2020, 16h35 - Publicado em 29 Maio 2020, 15h34
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  • Em meio ao processo de concessão à iniciativa privada, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) do Rio de Janeiro convive diariamente com confirmações de casos e até mesmo morte de funcionários pelo novo coronavírus. Segundo a companhia, três óbitos de trabalhadores foram confirmados em decorrência da enfermidade – há, pelo menos, outras seis mortes sendo investigadas no momento. Mas o número pode ser ainda maior. O Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Saneamento e Meio Ambiente do Rio de Janeiro, o Sintsama, contabiliza 11 óbitos de funcionários da estatal por Covid-19, além de outras duas mortes de prestadores de serviços terceirizados. Mais de 200 pessoas foram afastadas do serviço em decorrência do vírus. O clima é de apreensão no corpo técnico da empresa e funcionários da companhia garantem que os números crescem paulatinamente com o passar dos dias.

    A divergência entre a quantidade de mortos se dá, na visão da Cedae, porque o sindicato tem “inflado” os números de vítimas fatais da doença, contabilizando pessoas que não faziam mais parte do quadro. O sindicato, por sua vez, acusa a empresa de ter demorado a propor ações para o combate ao vírus, o que facilitou o contágio, sobretudo, em uma das sedes corporativas da companhia de saneamento. “Os funcionários estão apavorados. Do prédio onde trabalha a diretoria, já morreram quatro. E a doença foi se espalhando para outros setores”, diz Humberto Lemos, presidente do Sintsama. “O trabalhador não visualiza uma linha direta para o caso de faltar um EPI (equipamento de proteção individual), máscara de proteção ou álcool em gel. Os testes ainda não chegaram a 10% da equipe”. A Cedae confirma que 300 trabalhadores foram testados para identificar a presença do vírus. Ao levar em consideração que a empresa detém mais de 5.600 funcionários, o número de testes é pouco superior a 5% em relação ao quadro completo. Nas próximas semanas, um lote de 800 testes deve chegar à companhia.

    Em nota, a Cedae afirma que “lamenta as perdas e está prestando assistência aos familiares neste momento tão doloroso” e que está “tomando todas as medidas para cuidar dos mais de cinco mil empregados da Companhia e, também, está empenhada em garantir o serviço de qualidade nesse momento difícil para todos, pois a empresa sabe do trabalho fundamental para a saúde e a qualidade de vida da população.” Desde março, a companhia afirma ter mudado uma série de rotinas e estabeleceu diversos protocolos para preservar a saúde dos funcionários e clientes, como  distribuição de máscaras para todos os empregados, afastamento provisório de quem apresenta algum sintoma ou teve contato com suspeito de estar com a Covid-19, disponibilização de álcool em gel, entre outras ações.

    A trágica situação que chegou à empresa, reflexo de precariedade, mostra a importância de investimentos no setor de saneamento. Hoje, mais de 35 milhões de brasileiros ainda vivem sem água tratada. Para alguns especialistas, a situação da Cedae é uma mostra do atraso nos investimentos do estado do Rio de Janeiro para melhorias no tratamento de água e esgoto. “O Rio de Janeiro investiu pouco nos últimos anos. Há vários municípios grandes, principalmente na Baixada Fluminense, onde a coleta é muito ruim”, diz Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil.  O presidente da Cedae, Renato Espírito Santo, afirmou numa videoconferência organizada pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) que a empresa passará por um processo de concessão à iniciativa privada. Segundo ele, o quadro de funcionários, hoje de 5,6 mil pessoas, deve ser diminuído em 80%, o que preocupa os trabalhadores da empresa, que convivem com o medo do contágio do coronavírus e da demissão.

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    O processo de concessão, porém, está enroscado. Em abril, o Banco Nacional de Desenvolvimento Social, o BNDES, decidiu adiar para 2021 parte dos leilões de saneamento que inicialmente eram previstos para este ano. A licitação da Cedae, no entanto, segue prevista para novembro. O banco de fomento dividiu o leilão da empresa em quatro blocos e espera atrair 32,5 bilhões de reais em investimentos da iniciativa privada para universalizar do acesso à água no estado em 14 anos e do esgoto em até 20 anos. “Essa modelagem que o BNDES fez está nas mãos do governador Wilson Witzel há bastante tempo. O problema é que, conforme o tempo está passando, as crises vão se sucedendo e as oportunidades são perdidas. A Cedae, do ponto de vista técnico, é uma empresa que precisa de muitos recursos para poder compensar esse histórico de falta de investimentos”, diz Carlos. O BNDES ficou responsável pela modelagem de venda da Cedae como uma das condições estabelecidas ao governo fluminense para ingresso ao Regime de Recuperação Fiscal proposto pela União em 2017.

    No início de abril, o Movimento Baía Viva protocolou junto a diversas autoridades, como o Ministério Público Estadual e a Procuradoria Geral da República, que se tomasse providências para a proteção dos funcionários das estações de tratamento de água e esgoto do estado fluminense. O texto cita uma pesquisa divulgada na revista científica The Lancet, que alerta para os riscos de transmissão do coronavírus via feco-oral – ou seja, por meio de fezes de pessoas infectadas pela enfermidade. “O grupo mais vulnerável é o de trabalhadores de estações de tratamento de esgoto. A nossa recomendação exigia que fosse adotado em regime de urgência um plano de contingência para a segurança ocupacional dos trabalhadores do saneamento básico”, diz Sérgio Ricardo, co-fundador da ONG.

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    No mesmo mês, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Prefeitura de Niterói realizaram um projeto-piloto para monitorar o comportamento do vírus na rede de esgoto da cidade. Embora a presença do vírus tenha sido detectada em algumas localidades, os virologistas ressaltam que não há evidências sobre a possibilidade de transmissão da enfermidade por rota fecal-oral. “Nossas análises detectam a presença de fragmentos de material genético do vírus, indicando que existe presença de casos positivos em determinada localidade. Porém, ainda não há evidências na literatura científica de que, quando excretado nas fezes, o vírus ainda esteja viável para infectar outras pessoas”, esclarece. Até o momento, a via respiratória é o principal modo de transmissão, através de gotículas respiratórias geradas pela tosse ou espirros.

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