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Economia brasileira caminha para sua pior década perdida

PIB médio anual pode atingir -0,1% de 2011 a 2020, superando a ruim marca dos anos 1980; com economia exaurida, início da próxima década já está contaminado

Por Alessandra Kianek Atualizado em 18 mar 2021, 23h12 - Publicado em 29 Maio 2020, 10h56

A pandemia do coronavírus atingiu de forma drástica a economia do Brasil, que já vinha fragilizada, após um período de recessão, sem forças para engatar um crescimento robusto, e apresentando resultados pífios nos últimos três anos. Os efeitos da crise, que paralisou as atividades econômicas causando desemprego e perda de renda da população, levarão o país a ter mais uma década perdida – podendo ser a pior de sua história. Até então, o mais fraco período econômico de dez anos havia sido o do anos 1980, quando o Brasil foi assolado pela hiperinflação e pela crise da dívida externa. Entre 1981 e 1990, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro subiu, em média, 1,7% ao ano. No período de dez anos que se encerra em 2020, caso a economia atinja uma retração de 7% neste ano, o PIB médio anual será de -0,1% – o que significa que o país encolheu ano após ano na última década. 

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“O Brasil está empobrecendo. Será a primeira década de PIB do Brasil médio negativo em 120 anos, abalada pela recessão de 2015 e 2016 durante o governo Dilma e agora por essa depressão, uma parada súbita, causada pela Covid-19″, afirma Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento. Mas a tragédia não para por aí, sentencia o economista Ernesto Lozardo, professor da Fundação Getulio Vargas: “Vamos entrar na próxima década muito mais fragilizados. E, por isso, podemos ter mais uma outra década perdida. Até meados do período de 2021 a 2030, teremos uma retomada lenta e uma sequência de baixíssimos anos de crescimento econômico”. 

O que poderia mudar essa tragédia anunciada seria o Brasil avançar nas suas agendas estruturantes, como a aprovação das reformas administrativa, que racionaliza a administração pública federal, e tributária, que reduz o custo da produção brasileira. Porém, com tamanha instabilidade política, as reformas não devem avançar neste ano, o que inibe o crescimento da economia brasileira. Sem as reformas, o Brasil não conseguirá atrair investimentos produtivos, sejam internos ou externos. Outro ponto que afasta os investimentos é a instabilidade política, que traz insegurança aos investidores, retardando ainda mais uma possível retomada econômica.

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As projeções dos economistas para o PIB brasileiro de 2021 têm sofrido sucessivos cortes e variam de um crescimento de 1,5% a 3,5% – uma recuperação ainda pequena diante de um tombo esperado da ordem de 7% para 2020. Os motores para impulsionar o PIB brasileiro estão praticamente exauridos. Afetados diretamente pela pandemia, os setores de serviço (que representa 70% da economia) e da indústria estão em forte retração após a interrupção das atividades; a probabilidade de acontecer um financiamento externo dificilmente ocorrerá, porque a crise assola toda a economia global – se o Brasil não conseguiu atrair no ano passado, não será agora num cenário com muito mais aversão ao risco; após as medidas emergenciais, não existe mais espaço para gasto público – mas o governo vai precisar gastar mais. 

A interrupção dos contratos de trabalho e o aumento da taxa de desemprego, que pode subir dos atuais 12,6% para 17%, provocarão uma forte queda da renda. Esse corte do orçamento das famílias levará à retração do consumo, que implica em menor faturamento das empresas e, por fim, volta a estimular mais cortes de postos de trabalho. Além desse ciclo, tem ainda a dívida pública do governo, que deve subir neste ano para algo próximo de 98% do PIB – um índice altíssimo. “Não adianta o governo ficar se endividando, porque esse aumento da dívida não será suficiente. É preciso elevar as receitas, já que as famílias não estão gastando e a arrecadação de impostos está caindo. É inevitável um aumento da carga tributária. Só espero, porém, que não venha pela CPMF, e sim pela cobrança sobre dividendos e sobre lucro dos bancos, e não piore ainda mais o sistema tributário brasileiro”, afirma Lozardo. 

Um dos pontos cruciais para se evitar a catástrofe da economia brasileira que se desenha é a manutenção dos empregos. Em outras crises, a recuperação da atividade econômica ocorreu quando as famílias voltaram a consumir e tiveram uma oferta maior de crédito. E é justamente de crédito também que as pequenas e médias empresas precisam para manterem os seus negócios funcionando. Com a década 2011 a 2020 já considerada perdida, é preciso mais estabilidade política para se evitar um histórico vicênio perdido.

  • Leia também: Economia do Brasil sofre com gestão da pandemia e encolhe diante do mundo
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