Preocupação crescente do consumidor na hora de fazer compras, a inflação continua a ser estimada para cima. De acordo com analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar o ano em 4,35%, acima da projeção anterior de 4,21%. Esta é a 18ª semana consecutiva que o Boletim Focus apresenta alta da inflação e a segunda vez no ano que a projeção fica acima do centro da meta, que é de 4%.
Os dados divulgados nesta segunda-feira, 14, evidenciam a alta dos preços ao consumidor. Há um mês, por exemplo, projeção era de 3,2% e, há dois meses, em 2,12% para o indicador. O valor, apesar de estar acima do centro da meta definida pelo governo, segue dentro da margem de tolerância, que varia entre 2,50% e 5,50%. No entanto, as revisões consecutivas alertam para a pressão inflacionária na retomada da economia.
De acordo com o Ministro da Economia, Paulo Guedes, a pressão inflacionária deve diminuir em 2021 com o fim do auxílio emergencial. O programa que serviu como “colchão” para segurar a queda do PIB estimulou o consumo e o IPCA é um dos termômetros para o consumo. Nesta conta, além do aumento da demanda por alimentos (tanto interna quanto externa), há influência da desvalorização do real na equação.
As revisões consecutivas são reflexo, principalmente, da alta sentida em itens de cesta básica e da inflação ao produtor. Em novembro, o IPCA acelerou 0,89%, maior taxa em cinco anos. nos. Com a retomada do setor de serviços, que até o momento tinha baixa demanda e segurava o bom comportamento da inflação, e a alta no preço da energia elétrica, o indicador tem tendência de seguir pressionado em dezembro. Também houve recorde no Índice de Preços ao Produtor, que acelerou 3,40% em outubro, mostrando que a pressão chega desde a porta da fábrica.
Com a aceleração da inflação, os economistas projetam a taxa básica de juros, a Selic, um pouco mais alta no próximo ano: em 3%. Atualmente, a Selic está em 2% ao ano, a mínima histórica. Na reunião do dia 8, a última do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica em 2%, alegando mais uma vez que a pressão inflacionária é temporária e que para 2021, o IPCA segue projeções controladas, próximo do centro da meta, porém mais baixo.
“As últimas leituras de inflação foram acima do esperado e, em dezembro, apesar do arrefecimento previsto para os preços dos alimentos, a inflação ainda deve se mostrar elevada. Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente”, afirma o comunicado após a reunião. Para 2021, a projeção da inflação segue em 3,34%, em linha com a avaliação do BC.
Retomada
Além da alta projetada para a inflação, analistas do mercado estimam ligeira piora no desenvolvimento da economia. Segundo os analistas consultados pelo Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve fechar o ano em -4,41%, ante a previsão de -4,40% da semana anterior. Com a retomada gradual das atividades, o desafio da economia é o aquecimento e recuperação sustentável pós-pandemia. Na semana passada, o IBGE divulgou o crescimento do PIB no terceiro trimestre: a retomada foi de 7,7% no período entre julho e setembro. A expectativa é que a retomada do setor de serviços no fim de ano ajude na recuperação, mas o aumento dos casos do novo coronavírus pelo país pode minimizar a recuperação no período.
Após meses de revisões para baixo, acompanhando a escalada do novo coronavírus no Brasil, as projeções do PIB que chegaram a -6,54%, passaram por estabilização em junho e as previsões do PIB passaram a melhorar em julho e agosto com a reabertura gradual das atividades. Os dados do Focus não indicam uma recuperação em “V”, jargão econômico para mostrar uma volta rápida, Alguns setores, entretanto, mostram retomada mais rápida, como o comércio, beneficiado diretamente pelo auxílio emergencial.
Vale salientar, porém, que a recessão é significativa e atinge o país no ano em que se esperava uma reação da economia, que dava sinais de recuperação da crise vivida entre 2014 e 2016. No início do ano, a expectativa do mercado financeiro era de que a economia brasileira crescesse 2,3%, acima dos desempenhos de 2017 e 2018 (+1,3%) e 2019 (1,1%, antes da revisão anunciada pelo IBGE na semana passada). A expectativa do mercado, para projetar o crescimento da economia para os próximos anos, é a retomada da agenda reformista. Incertezas sobre o andamento das pautas podem gerar instabilidades. A previsão do PIB para 2021 é de 3,50% e para 2022 de 2,5%.