A corrida pela quinta geração de tecnologia móvel (5G) no Brasil ganhou novos capítulos nesta semana. O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) publicou, no Diário Oficial da União, uma portaria dando aval à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) definir as diretrizes para a licitação das faixas de frequência para implementar a nova tecnologia. A disputa, prevista para o segundo semestre deste ano, envolverá a venda de licenças dos novos serviços nas faixas de 700 megahertz (MHz), 2,3 gigahertz (GHz), 3,5 GHz e 26 GHz.
Segundo o MCTIC, a tecnologia 5G é uma prioridade para o governo federal e as diretrizes estabelecidas têm o intuito de que a chegada da nova geração ocorra de forma segura e sólida. “Essa portaria dá partida a todo o processo de implementação da tecnologia 5G no Brasil”, diz o ministro Marcos Pontes, em nota.
A tecnologia 5G vai mudar a forma como o ser humano se conecta com o mundo e deve se confirmar como o maior salto entre duas gerações já visto. As novas redes prometem velocidades de download de dados até 20 vezes maiores do que o 4G permite atualmente. A tecnologia viabilizará usos para a comunicação móvel em áreas jamais imaginadas – e tudo será controlado pelo celular.
Para se ter exemplo do que a nova geração de tecnologia pode oferecer, sensores incorporados às roupas ou, até mesmo, implantados nas pessoas vão monitorar constantemente a pressão arterial, a frequência cardíaca, glicemia e outras variáveis de interesse médico. Isso fará com que a medicina seja muito mais eficaz e que os médicos consigam monitorar o quadro de saúde dos pacientes diariamente, sem a necessidade de deslocamento para doutores ou pacientes.
Apesar do poderio tecnológico que pode levar o Brasil a um novo nível de conexão e eficiência, há alguns entraves para a entrada do 5G no Brasil que precisam ser resolvidos. Uma das polêmicas é ligada aos riscos de que os serviços na faixa de 3,5 GHz causem interferências no sinal da TV aberta oferecido com antenas parabólicas via satélite (Banda C). Logo, a Anatel será responsável por estabelecer medidas para solucionar possíveis problemas. Hoje, a solução considerada “mais barata” pelo setor é a permanência das parabólicas na Banda C. Isso demandaria, no entanto, a adoção de medidas adicionais, como a instalação de filtros para antenas, para a população de baixa renda.
Algumas emissoras de TV aberta avaliam que a melhor solução para evitar interferências no sinal seria a migração de todo o sistema de parabólicas para a Banda Ku, que conta com equipamentos mais modernos. Apesar disso, ainda não está clara a linha que será adotada pela Anatel e pelo MCTIC. De acordo com Vitor Menezes, secretário de telecomunicações da pasta, a portaria estuda resolver um eventual conflito entre usuários que assistem à TV via parabólicas e a tecnologia 5G. “Nosso ministério está endereçando uma solução, com essa portaria, para que o usuário do serviço de parabólica não seja prejudicado”, afirma.
Segundo o ministério, as empresas de telefonia vencedoras do leilão da faixa de 3,5 GHz deverão arcar com os custos para que usuários que recebem sinais de TV aberta gratuita por meio de antenas parabólicas na Banda C não sejam prejudicados. Uma entidade deverá ser criada para aplicação dos recursos usados na mitigação das interferências.
A portaria do MCTIC ainda estabelece que, para o leilão das faixas para a implementação do 5G, a Anatel deverá considerar o atendimento com banda larga móvel em tecnologia 4G ou superior para cidades, vilas, áreas urbanas isoladas e aglomerados rurais que possuam população superior a 600 habitantes; cobertura de rodovias federais com banda larga móvel e redes de transporte de alta velocidade para municípios ainda não atendidos.
Cidades inteligentes
Além disso, a rede sem fio de quinta geração será fundamental para viabilizar a expansão de veículos autônomos, realidade virtual e cidades inteligentes no Brasil. Em países como China, Coreia do Sul e Estados Unidos, a nova geração da tecnologia móvel já é realidade. A disputa para a implementação do 5G, inclusive, é protagonizada por chineses e americanos. Huawei, Nokia, Qualcomm e Ericsson travam um certame nivelado para a propagação dessa tecnologia. Os Estados Unidos alegam que a tecnologia da Huawei para redes de dados e a proximidade do governo chinês são uma ameaça à segurança nacional das nações que a adotam. Em meio à essa guerra comercial, o Brasil terá de decidir quem será seu aliado. As cartas estão na mesa.