A bolsa de valores de São Paulo, a B3, continua a sofrer com os sintomas do surto de coronavírus. Ao acompanhar o movimento dos mercados globais, cada vez mais erráticos devido à disseminação da doença, o Ibovespa, principal índice da bolsa, caiu 4,1% — aos 97.997 pontos. Foi a primeira vez, desde 8 de outubro de 2019, que o indicador terminou um dia num patamar inferior a 100.000 pontos.
No Brasil, a doença continua a avançar e agora são 13 casos confirmados, além de 768 suspeitas investigadas. Contudo, informações desencontradas sobre a taxa de mortalidade nos Estados Unidos têm levado pânico aos investidores. Lá fora, o índice S&P 500, o mais importante da bolsa americana, afundou 3,05%. Como os investidores estrangeiros têm retirado em volumes recordes dólares do país — só nos dois primeiros meses do ano foram 44,8 bilhões de reais embora —, a queda na bolsa paulista acaba sendo intensificada.
A explicação para tal fuga é o que é chamado no mercado financeiro de “Fly to Quality”, quando investidores sacam os recursos de ativos considerados mais arriscados — que é o caso do Brasil — para injetá-los em outros mais seguros — como títulos americanos. A reação dos países do G7 de cortar as taxas de juros para amenizar o impacto econômico tem aumentado ainda mais a aversão ao risco dos investidores, uma vez que eles entendem que, se os bancos centrais estão tão preocupados assim, “também devemos ficar”.
“Mas opções monetárias e fiscais convencionais, como o recente corte emergencial das taxas pelo Federal Reserve, podem não ser suficientes. Novas abordagens podem ser necessárias para reduzir o impacto do vírus e permitir uma rápida recuperação das perdas econômicas quando o surto desaparecer”, afirmou o economista Adam Slater, da Oxford Economics, em relatório enviado a clientes mais cedo.
Em entrevista a VEJA, o gestor Luís Stuhlberg, da Verde Asset, afirmou que o efeito do coronavírus sobre o Brasil deverá ser limitado. Por isso, ele está otimista. “O ponto principal é que o coronavírus não muda estruturalmente as condições de crescimento do país ao longo dos próximos três anos. Pode ter impacto no fim do primeiro trimestre e um pouco no segundo.” Além disso, diz ele, as ações dos governos de grandes potências também influenciará positivamente a reação da economia mundial. “As maiores economias do planeta estão prontas para agir e se proteger com medidas de estímulos fiscais. Coreia do Sul, Itália e Hong Kong também lançaram medidas. O Fed, o banco central dos Estados Unidos, fez um corte extraordinário dos juros de 0,5 ponto porcentual. Isso mostra que os governos estão atentos e agindo. O PIB global cairá, mas a queda será amenizada com essas medidas.”
Por isso, pouco tem a ver a queda da bolsa com uma perda real de fundamentos das empresas brasileiros. Empresas aéreas, agências de turismo, exportadoras de commodities e montadoras são afetadas de fato pela diminuição do fluxo de comércio. Contudo, a queda está muito mais relacionada a decisões influenciadas pela aversão ao risco dos investidores, algo mais psicológico do que racional.
Nesta semana, VEJA explica como isso acontece e porque a crise atual, que é passageira, deixará poucas sequelas para o crescimento do país.