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Arezzo e Reserva: os bastidores da fusão que une o útil ao agradável

Sinergias entre as duas companhias podem acelerar o crescimento da Reserva no mercado de moda lifestyle no país; negócio é avaliado em R$ 715 mi

Por Felipe Mendes Atualizado em 24 out 2020, 14h11 - Publicado em 23 out 2020, 17h48
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  • A Arezzo&Co está com fome de expansão. Em entrevista recente a VEJA, Alexandre Birman, CEO do conglomerado de grifes de luxo, admitiu que a empresa não pouparia esforços para crescer sua penetração no mercado de vestuário em um curto espaço de tempo. Dito e feito. A empresa anunciou na manhã desta sexta-feira, 23, a aquisição do grupo Reserva, voltado à moda masculina. O acordo, avaliado em 715 milhões de reais, não foi costurado de uma hora para outra. Na última quarta-feira do mês de abril, período mais delicado da pandemia do novo coronavírus para as varejistas, Birman trocou mensagens por WhatsApp com Rony Meisler, cofundador e CEO da Reserva. Essa conversa provocou a gestação da fusão. Para superar a crise, as duas grifes se uniram. No Dia das Mães, a Reserva vendeu calçados femininos da Schutz, marca da Arezzo&Co. Já, no Dia dos Pais, a situação se inverteu: foi a vez da Schutz comercializar os produtos masculinos da Reserva. A estratégia, mais do que uma jogada de marketing, mostrou as sinergias entre os dois grupos, com inovação, agilidade e, sobretudo, complementariedade de portfólio.

    Na época do anúncio de colaboração, Meisler comemorou a iniciativa. Escreveu, em seu blog e redes sociais, que “no mundo pré-Covid-19, isso só seria possível através de um M&A [fusão e aquisição, na sigla em inglês] ou de um rigoroso contrato descritivo de direitos e deveres entre marcas”, com “meses de trabalho” e “forte tendência a não acontecer”. Finalizou dizendo que a “burocracia matava a inovação”. Mas, graças à pandemia ou não, o negócio aconteceu. O acordo só foi uma mostra de que uma fusão faria sentido para ambos os grupos – desde que Meisler não abandonasse a operação da Reserva. Com a fusão, nasce a AR&Co, uma subsidiária da Arezzo que será o ecossistema para a expansão e criação de novas marcas em vestuário. Rony Meisler será o CEO. Os sócios minoritários Fernando Sigal, Jayme Nigri e José Alberto da Silva também continuarão no dia a dia da empresa.

    Dono das marcas Reserva, Reserva Mini, Oficina Reserva, Eva, Reserva Ink. e Reserva Go, o grupo fundado por Meisler ao lado de Sigal sempre manteve crescimento constante e, quase nunca, dependeu de capital externo para isso. A grande maioria (71%) de suas 110 operações físicas é formada por lojas próprias. Hoje, seu faturamento é acima de 400 milhões de reais. A Arezzo&Co, por sua vez, tem uma expertise considerável com franqueados. Ou seja, será inevitável pensar que a Reserva experimente uma expansão mais acelerada por meio do modelo de franquias daqui para frente. “A Arezzo pode ajudar a Reserva com a expansão de franquias, mas também com o modelo de calçados”, diz Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail. Hoje, a área de calçados, impulsionada com a recém-criada Reserva Go, já representa mais de 10% das vendas da Reserva. “As duas juntas poderão redefinir uma plataforma digital mais robusta, com um marketplace de moda especializado, com portfólio rico de marcas que já fazem parte do grupo e que poderão ser adquiridas num futuro próximo”, completa.

    Por desenvolver métodos bem-sucedidos e insólitos no comércio varejista, a Reserva pode ajudar a Arezzo&Co a “pensar fora da caixa”. Meisler gosta de dizer que sua empresa respira inovação. Para agilizar processos de gerenciamento de estoque, a Reserva aposta em um sistema de gestão de estoques próprio, que a permite trabalhar melhor o mix de produtos de cada loja e, assim, minimizar os riscos operacionais. Antes da pandemia, uma das principais formas de garantir recorrência de vendas era o Reservado, uma sacola de novidades selecionadas de acordo com as preferências de cada cliente. No caso, um motoboy passa na unidade física, retira a sacola e entrega em domicílio. A sacola fica três dias com o cliente, que experimenta as peças e escolhe suas preferidas no momento da retirada. São quase 1 milhão de clientes cadastrados no programa de fidelização.

    Um dos objetivos da Reserva é desbravar o mercado americano, algo que a Arezzo&Co já faz como poucas empresas empresas brasileiras do ramo. Também existem sinergias no mercado interno. Como ambas as grifes trabalham com boa parte da produção em nível nacional, provavelmente haverá um pente-fino no número de fornecedores para ajustar os custos operacionais. O desafio da nova companhia se dará, no entanto, em sua estrutura de governança corporativa. Mas os especialistas acreditam que Birman deverá dar autonomia a Meisler para impor seu ritmo à AR&Co. “A Reserva é uma empresa que, além de inovadora e empreendedora, é ousada. Tem ousadia na estratégia, nos produtos e nos processos. Boa parte de seu sucesso tem a ver com isso”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). “A cultura do modelo de gestão da Reserva deve contaminar positivamente a Arezzo. Mas, sem dúvidas, a arquitetura do modelo de gestão será o maior desafio da nova empresa”, complementa Serrentino. Quando a transação for finalizada, com aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Anderson e Alexandre Birman ficarão com 45,8% de participação acionária na nova companhia, e Rony Meisler com 3,8%.

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