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Após ata, mercado passa a considerar elevação de 0,75 ponto na Selic em dezembro

Colegiado mostra estar cada vez mais preocupado com a trajetória da inflação, sugerindo a necessidade de uma política monetária ainda mais contracionista

Por Luana Zanobia Atualizado em 12 nov 2024, 16h30 - Publicado em 12 nov 2024, 15h48
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  • A ata divulgada pelo Copom nesta terça-feira, 12, mostra que o colegiado está cada vez mais preocupado com a trajetória da inflação, sugerindo a necessidade de uma política monetária ainda mais contracionista. Esse alerta ecoa as tensões que pairam sobre a economia brasileira, com pressões vindas do lado fiscal, do mercado de trabalho e do cenário externo, fatores que podem minar os esforços do Banco Central para manter a inflação sob controle.

    Na última semana, o Copom acelerou o ritmo de elevação da taxa Selic, que passou de 10,75% para 11,25% ao ano. “Considerando a necessidade de uma política monetária mais contracionista, o comitê julgou adequado realizar um aumento de maior magnitude na taxa Selic”, diz a ata.

    Esse ajuste reflete as preocupações do colegiado com a elevação das projeções inflacionárias e pela deterioração da confiança nos rumos da política fiscal do governo.  O Boletim focus, relatório semanal do Banco Central, elevou pela sexta semana consecutiva a projeção para a inflação, passando de 4,59% para 4,62%.

    “Em comunicados anteriores, era comum a inclusão de uma frase indicando que a trajetória atual da política monetária seria suficiente para convergir a inflação à meta. Desta vez, essa frase não apareceu, o que abre espaço para uma possível aceleração no ritmo de aumento da taxa de juros”, avalia Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. Segundo Saadia, as probabilidades de um aumento de 0,75 ponto percentual na próxima reunião já se aproximam das chances de um aumento de 0,50 ponto percentual. “O fato de a ata não descartar essa aceleração reforça seu tom mais austero”, diz.

    A opinião é a mesma do economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, que a acredita que o Copom deve intensificar o ritmo de elevação dos juros nas próximas reuniões. “Com a ata de hoje se mostrando ainda mais dura do que o comunicado oficial da semana passada, nossa projeção para o fim do ciclo de aperto subiu, com a taxa terminal passando de 12% para 14%,” afirma Sanchez. Ele destaca que a inclusão na ata do trecho alertando que “uma deterioração adicional das expectativas pode levar a um prolongamento do ciclo de aperto de política monetária” foi o principal fator que motivou a revisão das estimativas.

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    O aumento dos gastos públicos e a sustentabilidade do novo arcabouço fiscal são apontados como elementos centrais que têm impactado diretamente os preços de ativos e as expectativas do mercado.

    “Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz o documento. Com isso, o Copom deixa claro que sem um compromisso com o controle fiscal, o ciclo de aperto monetário pode se prolongar ainda mais do que o esperado.

    A preocupação com o mercado de trabalho também está no radar do Banco Central. O aumento dos salários reais, ou seja, acima da inflação, tem pressionado ainda mais as expectativas de inflação. Embora o fortalecimento dos salários seja, em princípio, uma boa notícia para os trabalhadores, o Copom adverte que essa tendência pode exacerbar a pressão inflacionária, uma vez que os ganhos salariais não têm sido acompanhados por aumentos equivalentes na produtividade. Esse descompasso gera um risco adicional para o controle dos preços.

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    As pressões externas também preocupam. “A ata reconhece que o novo governo americano adota políticas mais inflacionárias, impulsionadas por estímulos, especialmente fiscais, como a redução de impostos, além de pressões inflacionárias devido ao aumento de tarifas. Essa percepção foi incorporada nas decisões e discussões do Banco Central, o que é um ponto relevante”, diz Saadia. Outro aspecto mencionado é o ceticismo em relação aos estímulos fiscais da China e sua efetividade em gerar crescimento sustentável no médio e longo prazo. “Essa questão é significativa, pois afeta a balança comercial brasileira e o comportamento dos preços das commodities”, pontua.

    Com a inflação projetada para encerrar o ano acima da meta de 3%, o Copom vê com preocupação o que chama de “desancoragem das expectativas”. Os agentes de mercado já começam a precificar um cenário de inflação persistentemente alta, influenciado pela percepção de que o governo federal terá dificuldades em cumprir suas metas fiscais. Desde junho de 2023, o Brasil enfrenta um déficit primário acumulado em 12 meses, o que pressiona ainda mais o quadro fiscal do país. O endividamento público, que saltou quase 7% do PIB desde o início do governo Lula, é outro fator que alimenta as incertezas.

    O governo prepara um pacote de cortes de gastos para garantir a execução do arcabouço fiscal, com medidas que devem ser apresentadas ao Congresso até o final desta semana. No entanto, resta saber se essas ações serão suficientes para restaurar a confiança do mercado e, principalmente, conter a espiral inflacionária que ameaça corroer os ganhos econômicos recentes do país.

    Com o cenário fiscal e inflacionário ainda incerto, a expectativa é de que o ciclo de alta de juros possa se estender por mais tempo do que o inicialmente previsto, impondo um desafio significativo ao governo federal. A inflação no Brasil, ao que tudo indica, está longe de ser um problema resolvido.

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