Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, os acionistas de referência da Americanas, se pronunciaram pela primeira vez desde a revelação do rombo contábil de bilhões de reais que levou a empresa a pedir recuperação judicial. Em nota divulgada neste domingo, o trio de investidores disse que não tinha conhecimento das irregularidades e lamentou as perdas sofridas por demais acionistas e credores em um dos maiores escândalos financeiros da história do país.
“Jamais tivemos conhecimento e nunca admitiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia”, diz um dos trechos da nota. Os empresários ressaltam que a auditoria independente da PwC jamais denunciou qualquer movimentação suspeita. “Ela [PwC] fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade.”
O caso veio à tona em 11 de janeiro, quando o presidente da Americanas, Sérgio Rial, e o diretor de relações com investidores, André Covre, anunciaram que deixaram os cargos ao detectar inconsistências contábeis na casa dos 20 bilhões de reais. A gigante varejista informou, dias depois, que tinha uma dívida de 43 bilhões de reais e teve seu pedido de recuperação judicial acatado pela Justiça.
Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que ocupam a lista de homens mais ricos do país, vinham sido criticados pelo silêncio sobre o escândalo. As ações da Americanas caíram de 12 reais para 0,71 reais desde a revelação do rombo.
Confira na íntegra a nota dos acionistas:
No dia 11 de janeiro de 2023, por meio de “fato relevante”, a Americanas S.A. tornou pública a existência de significativas inconsistências em sua contabilidade. Desde então, sempre com transparência e imediatismo, vários esforços vêm sendo feitos para o correto tratamento dos desafios que hoje se colocam à empresa.
Usamos dessa mesma clareza para esclarecer de modo categórico e a bem da verdade que:
1) Jamais tivemos conhecimento e nunca admitiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia. Nossa atuação sempre foi pautada, ao longo de décadas, por rigor ético e legal. Isso foi determinante para a posição que alcançamos em toda uma vida dedicada ao empreendedorismo, gerando empregos, construindo negócios e contribuindo para o desenvolvimento do país.
2) A Americanas é uma empresa centenária e nos últimos 20 anos foi administrada por executivos considerados qualificados e de reputação ilibada.
3) Contávamos com uma das maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo, a PwC. Ela, por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade.
4) Portanto, assim como todos os demais acionistas, credores, clientes e empregados da companhia, acreditávamos firmemente que tudo estava absolutamente correto.
5) O comitê independente da companhia terá todas as condições de apurar os fatos que redundaram nas inconsistências contábeis, bem como de avaliar a eventual quebra de simetria no diálogo entre os auditores e as instituições financeiras.