Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

A mãezona estatal cuida de tudo

Por que ninguém propõe mexer na educação pública?

Por Claudio de Moura Castro
Atualizado em 4 jun 2024, 16h54 - Publicado em 5 out 2018, 07h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Quando dirigia uma unidade de políticas de formação profissional na Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, recebi a visita de um russo, o vice-ministro do Trabalho. Ele estava radiante com a onda de privatizações em seu país. Pretendia entregar o encargo de formar gente às empresas. Retruquei que, se desse certo, seria um duplo e belíssimo sucesso. Aliviaria os orçamentos públicos e promoveria o turismo, pois haveria filas para visitar uma fórmula que não existe em parte alguma do mundo.

    Na cornucópia de propostas dos candidatos à Presidência do Brasil, o Sistema S acaba na mira de alguma ideia salvadora — aliás, isso se repete em períodos de eleição. Por que a ninguém ocorre propor cobrança para a educação básica pública? Na verdade, é coisa bem parecida com formação profissional. Lucra quem a recebe e os benefícios se espalham por toda a sociedade (os economistas chamam isso de Economias Externas). Mesmo nas sociedades mais entusiasmadas com os mercados, há tanto redes de escolas públicas como caríssimos sistemas de formação profissional, nos quais a maioria dos cursos é gratuita. Neste nosso país, que ama ver a mãezona estatal cuidando de tudo, ninguém propõe mexer na educação pública. Sendo assim, focalizemos a preparação da mão de obra, alvo frequente de planos redentores.

    Se não for o Estado, quem pagará as contas? Pela lógica, quem faz os cursos deveria pagar, pois é quem mais lucra com eles. Quando se trata de níveis mais sofisticados, faz sentido. Mas a maioria dos cursos se destina a uma clientela modesta, incapaz de arcar com um tipo de formação que tende a ser cara. E que, além disso, não percebe tão claramente os seus benefícios futuros. Se ela tivesse de pagar, praticamente desapareceria a formação inicial. E, tal como na escola regular, desapareceriam os ganhos de produtividade, bons para toda a sociedade.

    Mas e as empresas que se beneficiam de gente mais preparada? Pagariam? Não nos esqueçamos, a formação inicial tende a ser longa. Como faltam boas fórmulas para obrigar o graduado a permanecer na empresa, financiar tal treinamento é má ideia para ela. Cortar os fundos públicos condenaria a formação inicial à extinção.

    Sendo assim, a única solução que se encontrou é o Estado cobrir aquele treinamento que não é autofinanciável, seja pelas empresas, seja pelos alunos. Nesse sentido, o Sistema S é uma solução muito feliz, pois dispõe de fundos públicos e tem as vantagens de uma gestão privada (pelas federações patronais). Sempre ouvi elogios a essa fórmula brasileira e aos seus resultados, sobretudo por parte dos experts internacionais. De resto, pesquisas mostraram uma ótima relação custo-benefício para o Senai, que ganhou o primeiro prêmio na competição internacional WorldSkills. O Sistema S não é homogêneo, tendo seus cacoetes. Mas, parafraseando Ortega y Gasset, não podemos abandonar o uso pela existência de abusos. Faz mais sentido entender bem como funciona e aparar as arestas.

    Publicado em VEJA de 10 de outubro de 2018, edição nº 2603

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.