Seu currículo é forte na fantasia, das séries Heroes e American Horror Story aos filmes da franquia Star Trek. O filão atrai você? Na verdade, essas oportunidades apareceram e eu quis explorá-las. Foi por causa do vilão que interpretei em Heroes que consegui o papel de Spock em Star Trek. Também fiz um personagem vilanesco e brutal em American Horror Story. Foram experiências tão marcantes que hesitei em aceitar mais um homem mau em uma história de fantasia e horror. Mas repensei. Charlie Manx é diferente.
O que o vilão de NOS4A2 tem de diferente? Charlie Manx é um vampiro pouco tradicional. É um vilão complexo, com uma carga emotiva e um código moral — ao sequestrar crianças, ele acha que faz o bem, pois as tira de pais inadequados. Não se trata só de um vampiro com sede de sangue: ele é observador, manipulador. Sabe explorar a vulnerabilidade de suas vítimas e reduz toda a humanidade a duas categorias: os bons e os maus. Seus propósitos são de destruição, mas ele sempre usa o discurso da salvação.
Fazer tantos trabalhos de terror afeta a sanidade? Eu consigo me blindar. Prendo-me ao aspecto técnico da atuação. É preciso manter a mente limpa para não levar o personagem e toda sua carga de horror com você para casa. Charlie Manx passa por diferentes etapas de envelhecimento. Então uso muita maquiagem. Para parecer um homem de mais de 100 anos, ficava cerca de três horas sendo maquiado. Eu ainda raspava a cabeça todos os dias para facilitar o uso da peruca de cabelos brancos. Então, eu me sentia como se usasse uma máscara, o que ajudou a me distanciar do personagem.
Você está no remake de Os Rapazes da Banda, com elenco só de atores gays, entre eles Jim Parsons e Matt Bomer. Qual sua opinião sobre a cobrança, em Hollywood, para que personagens homossexuais somente sejam interpretados por gays? Essa é uma pergunta complicada e não acho que tem uma só resposta para ela. Sempre fui a favor de que atores abertamente gays pudessem interpretar personagens héteros. Mas também acho que as produções devem ser autênticas e comprometidas em dar voz à diversidade, para que possamos ser nós mesmos. Oportunidades criativas começaram a surgir com essa abertura para atores gays serem quem são na ficção. Então defendo a ideia de que esses bons atores sejam recompensados com papéis que lhes interessem, para que possam também contar histórias com as quais eles se identificam.
O que pode contar sobre o próximo filme de Star Trek? Por enquanto, estou na expectativa de que realmente haja mais um filme. Sei que ainda estão negociando para que o quarto longa aconteça. Vamos ver. Quero voltar a interpretar Spock.
Publicado em VEJA de 5 de junho de 2019, edição nº 2637
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