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Vicente Amorim: ‘No Brasil, diretor sério não faz filme de gênero

Cineasta apresenta ‘Motorrad’, misto de terror e ação, no Festival de Toronto

Por Mariane Morisawa, de Toronto
Atualizado em 14 set 2017, 12h50 - Publicado em 14 set 2017, 12h48

O único longa-metragem 100% brasileiro no Festival de Toronto é uma exceção no cenário cinematográfico nacional. Motorrad, de Vicente Amorim (O Caminho das Nuvens, Corações Sujos), é um filme de gênero, que mistura terror, ação e algo de sobrenatural.

O jovem Hugo (Guilherme Prates) quase perde a vida ao tentar roubar peças para sua moto num ferro-velho. Ele se junta a um grupo de amigos que faz motocross numa trilha. Depois de entrar numa área delimitada por um muro, a turma passa a ser perseguida por quatro motoqueiros do apocalipse.

Amorim entrou no projeto a convite de LG Tubaldini Jr., conhecido como Tuba, que produz ao lado de André Skaf. “Tuba me chamou dois anos atrás com a ideia básica do longa. Ele é motoqueiro, faz motocross na Serra da Canastra, que foi onde a gente filmou”, conta “Estava havia 20 anos querendo fazer filme de gênero. Antes de 2000 Nordestes, tinha um projeto de terror, que nunca nenhum produtor quis apostar.”

Tuba, Amorim, o roteirista LG Bayão e o quadrinista Danilo Beyruth desenvolveram os personagens e o roteiro, que foi rodado em quatro apertadas semanas. “Ser selecionado em Toronto, fora da Midnight Session, mostra dedicada a filmes de gênero, prova que o cinema de gênero brasileiro pode estar preparado para dar um salto e encontrar um público maior.”

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Como foi filmar num lugar tão remoto? Eram duas horas de 4×4 todos os dias, para ir e para voltar, mais caminhada. Tinha locação que a gente só chegava fazendo rapel. Foi uma aventura. O making of daria outro filme.

E rodar as cenas de ação? Eu comecei a minha carreira profissional como diretor de segunda unidade de muitos filmes com ação. Comecei dirigindo ação. Meu primeiro trabalho de direção fora da publicidade foi uma série da Globo com direção geral do Daniel Filho, A Justiceira. Nesse projeto, eu era o diretor de segunda unidade, o diretor das cenas de ação e de dois episódios inteiros. Fazer ação não era uma novidade. E mesmo os meus dramas têm momentos de ação, de violência. Queria fazer um filme todo assim. E chegou a hora com Motorrad.

As pessoas estranharam este ser seu próximo projeto? Bastante. A gente ainda enfrenta um preconceito no Brasil que filme de gênero não é uma coisa para diretor sério, que diretor sério tem de fazer drama social, o que é uma grande bobagem. Não é uma coisa da geração mais jovem, mas sim de um pessoal mais velho, que não cresceu vendo esse tipo de filme de gênero. No Brasil, principalmente terror sempre foi visto como algo que não é para cineasta sério. Então, havia uma resistência. Por isso que, quando tentei fazer um filme de terror 20 anos atrás, não consegui. Mas esse preconceito foi só lenha na fogueira, eu adorei.

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Essa dificuldade de fazer filme de terror tem a ver só com preconceito? Tem a ver com preconceito, mas também com as condições tecnológicas do cinema de 6, 7, 10 anos atrás, quando seria tão mais caro que seria proibitivo. O avanço da tecnologia digital permitiu que a produção e a pós-produção ficassem possíveis. Houve também ao longo dos últimos dez anos uma especialização da mão de obra no Brasil que fez com que certos efeitos mecânicos ficassem mais eficientes. E essa coragem de um produtor como o Tuba é fundamental. Porque antes havia receio de investir.

O elenco teve de passar por treinamento? Quando escolhemos o elenco, queríamos caras que não fossem carimbadas da televisão. Na época, o Emilio Dantas, a Carla Salle e o Guilherme Prates tinham feito televisão, mas não muito. De lá para cá, eles estouraram. Mas procuramos caras frescas. Era importante que soubessem andar de moto. Metade não sabia. Uns três meses antes, tiveram aula quase diariamente. Alguns andavam bem, como o Rodrigo Vidigal. Claro que as cenas mais perigosas foram feitas por dublê. Mas em muitas são os atores para valer.

E teve acidente? Não nas cenas perigosas. A Carla Salle torceu o pé caminhando. E a Juliana Lohmann levou um tombo andando numa estrada de asfalto.

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O filme dá a impressão de preparar uma sequência. (Risos) Quem sabe, né? É possível, totalmente.

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