Três incoerências do último episódio de ‘Game of Thrones’
Em mais de uma vez no capítulo final, roteiro optou por soluções que não fizeram lá muito sentido
Após oito temporadas e 73 episódios, Game of Thrones chegou ao fim na noite do domingo 19. A série termina deixando um grande legado, o que inclui recordes de audiência – média de 43 milhões de espectadores por episódio na oitava temporada, segundo a HBO – e o reconhecimento em premiações de televisão, resultado de uma obra que por muito tempo apresentou uma qualidade excelente de roteiro, direção e atuações. A última temporada, porém, desagradou muitos fãs do seriado ao se mostrar incoerente com a própria história, e no capítulo final isso não foi diferente. Confira abaixo três momentos que não fizeram muito sentido no último episódio:
Tyrion encontra os corpos de Jaime e Cersei
A cena da morte dos gêmeos-amantes no penúltimo capítulo mostrou um violento desmoronamento soterrando a dupla. A força do desabamento foi tamanha que ninguém duvidou do destino de Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) e Cersei Lannister (Lena Headey) – mesmo em uma série que já teve personagens voltando da morte. Além disso, a Fortaleza Vermelha era o alvo principal da fúria de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), que praticamente reduziu toda a cidade a ruínas e cinzas.
Para a surpresa dos fãs, ainda assim Tyrion (Peter Dinklage) foi capaz de entrar no castelo, descer as escadas até o subsolo (quem diria que ainda existiriam escadas por lá?) e encontrar os corpos dos irmãos. E o anão só teve o trabalho de tirar duas ou três pedras de cima dos surpreendentemente bem preservados cadáveres. Na ânsia de dar uma pontuação dramática para a morte da vilã e do anti-herói, a série ignorou o realismo e entregou algo com cara de novelão. A impressão que deu é que, se estivessem alguns passos para o lado, Jaime e Cersei teriam se salvado.
Imaculados e dothrakis poupam Jon
O último capítulo deu um salto no tempo depois que Jon (Kit Harington) matou Daenerys para evitar que a Targaryen governasse o reino como uma tirana. Qual não foi a surpresa de todos quando se viu que os Imaculados e os dothakis, fiéis seguidores da Mãe dos Dragões, se comportaram de forma estranhamente civilizada com o assassino de sua soberana. Jon foi mantido prisioneiro e Verme Cinzento (Jacob Anderson) se mostrou disposto até a negociar os termos de seu encarceramento. No fim, os Imaculados deixaram Westeros e o ex-bastardo foi enviado para a Patrulha da Noite.
Mesmo levando em conta possíveis ameaças dos vassalos dos Stark, difícil aceitar alguma alternativa fora estas duas: 1. Jon mata Daenerys e foge de Porto Real para sobreviver. 2. Jon mata Daenerys e é sumariamente executado pelos seguidores da rainha. Talvez tivesse até sua cabeça exibida nos portões da cidade. A série optou pelo meio termo – e forçou bastante a barra.
Política? Que política?
Com o vácuo de poder em Westeros, os poucos sobreviventes das casas nobres se reuniram para escolher um novo soberano. Todo o amadorismo da situação – Verme Cinzento, quem diria, foi o estopim da nova era ao estimular o arremedo de democracia com um “decidam aí quem é o novo líder” – foi constrangedor para uma série que em outras temporadas brilhou ao colocar as intrigas políticas e os diálogos afiados no centro da trama. Deu saudades de Mindinho (Aidan Gillen), Varys (Conleth Hill) e do antigo Tyrion, antes de ser “emburrecido” pelos roteiristas.
Em uma votação sem alianças, sem artimanhas e sem uma mísera combinação de votos, as famílias nobres – que tinham uma oportunidade única em trezentos anos de colocar sua casa acima das outras – deixaram as diferenças e ambições de lado e elegeram o bom e justo Bran Stark (Isaac Hempstead-Wright) como governante. Para piorar, aceitaram passivamente o anúncio de Sansa (Sophie Turner) de que o Norte era agora independente. Ou seja, a rainha de Winterfell e o rei das outras seis regiões teriam o mesmo sobrenome. Ninguém protestou. Ninguém estranhou. Ninguém quis a própria independência (nem a combativa Yara Greyjoy!). Difícil de engolir.