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“Todos precisamos de um pouco de magia”, diz criadora de ‘Sombra e Ossos’

Americana Leigh Bardugo, autora dos livros que viraram sucesso da Netflix, conta suas inspirações e fala da importância da diversidade nas séries

Por Marcelo Canquerino Atualizado em 9 jun 2021, 17h21 - Publicado em 31 Maio 2021, 10h47
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  • A nova aposta da Netflix na concorrida seara da fantasia foi um tiro certeiro. O universo mágico de Sombra e Ossos rapidamente conquistou o público, especialmente os jovens. A história é baseada nos livros da americana Leigh Bardugo, 46 anos, que em 2012 criou um mundo distópico cheio de criaturas fantásticas, poderes sobrenaturais e tramas políticas.

    Em entrevista a VEJA, a autora, que participou do desenvolvimento da série da Netflix, fala sobre a importância de conceber uma história com representatividade, de suas inspirações para a criação do “Grishaverso” e da alta dos livros de fantasia nos dias de hoje. Confira:

    Qual foi a sensação de ver o universo que você criou ganhando vida em uma série da Netflix? Cada passo foi muito emocionante. Às vezes eu ficava frustrada, às vezes emocionada, ou completamente sobrecarregada pela escala daquilo que estávamos tentando fazer. Mas eu também tenho muito orgulho dessa série e especialmente dos atores que interpretaram lindamente esses personagens que significam tanto para mim. 

    O universo de Sombra e Ossos tem grande inspiração na Rússia czarista. Por que essa escolha? Foi uma forma natural que encontrei para encaixar algumas ideias que queria explorar no livro, como a falha da industrialização, o uso de um exército e o vasto abismo entre ricos e pobres. Meus bisavós são russos e lituanos. Eles fugiram dos pogroms (perseguição dos judeus na Rússia), viram suas casas queimadas e entes queridos assassinados. Eu cresci em um lar que via a Rússia como um lugar de grande beleza, mas também de terrível brutalidade. Talvez fosse inevitável que essas experiências me ajudariam a inspirar um dos meus mundos de fantasia. 

    A série possui um elenco bastante diverso. Nos dias de hoje, qual é a importância de se contar histórias com  representatividade? Como contadores de histórias, é essencial refletirmos o mundo à nossa volta da forma mais honesta e autêntica possível. Não vivo em um mundo apenas com pessoas heterossexuais, brancas, de padrões estritos e não estou interessada em escrever sobre um universo assim. Sombra e Ossos, tanto no livro como na série, é uma pequena parte de uma grande mudança da qual eu espero poder fazer parte. Autores, roteiristas e diretores diversos devem estar na linha de frente. 

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    O BEM CONTRA O MAL - Ben Barnes na pele do manipulador das sombras, e Jessie Mei Li como Alina, a Conjuradora do Sol: eterno conflito -
    O BEM CONTRA O MAL - Ben Barnes na pele do manipulador das sombras, e Jessie Mei Li como Alina, a Conjuradora do Sol: eterno conflito – (./Netflix)

    A adaptação da Netflix uniu duas obras suas que se passam no chamado “Grishaverso”: Sombra e Ossos e Six of Crows: Sangue e Mentiras. Como foi o processo para unir essas duas histórias? Você teve alguma participação nessa junção? Eric Heisserer, o roteirista de Sombra e Ossos, trouxe essa ideia para mim no começo e fui totalmente a favor. Pensei que seria uma ótima maneira de mostrar todo o universo dos livros e criar algo novo para os leitores que continuaram fiéis ao cerne dessas histórias. Nós tivemos que descobrir como essas histórias, de Sombra e Ossos e Six of Crows, funcionariam juntas e isso levou tempo e alguns debates animados. 

    Você tem acompanhado a recepção do público à série, principalmente os fãs dos livros? Sim e não. Eu fiquei meio longe do Twitter alguns meses atrás e não tenho intenção de voltar. Mas eu amo ver os comentários no Instagram, os memes, as lindas fanarts e vídeos. Significa muito para mim os leitores terem abraçado a série. Eles construíram essa casa e teria quebrado meu coração se eles não quisessem morar nela. 

    O gênero de fantasia é um dos que mais está em alta atualmente. Vê algum motivo para isso? Eu acho que Game of Thrones provou que as pessoas que não necessariamente se consideram fãs de fantasia podem ser levadas a um mundo de fantasia. As pessoas querem uma nova noção do possível, uma chance de explorar novos universos. Todos nós precisamos de um pouco de magia nos dias de hoje. 

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    Como vê a eterna expectativa de que uma nova fantasia irá ocupar o lugar de Game of Thrones? Essa expectativa causou algum medo ou angústia durante a adaptação de Sombra e OssosSou grata pelas portas que Game of Thrones abriu para as adaptações de fantasia, mas isso não é algo que me deixa angustiada. Sombra e Ossos é muito diferente, desde o cenário até as tramas políticas e os personagens. Se nós quisermos ver a fantasia crescer, precisa existir espaço para diferentes histórias estabelecerem seus próprios nichos dentro do gênero.  

    No Brasil, durante a pandemia, houve um aumento no número de vendas dos livros de fantasia. Vê algum motivo para essa popularidade nesses tempos difíceis? A coisa mais óbvia que acontece é o escape da realidade. Mas também acho que é sobre o desejo de lutar contra monstros que podemos destruir e travar batalhas que podemos vencer.

    Você tem algum outro plano para estender o ‘Grishaverso’ na literatura e nas telas?  Vamos ver! Todos estamos esperando por uma segunda temporada de Sombra e Ossos na Netflix. Sou muito grata aos fãs brasileiros que tem ajudado a espalhar esse universo e gerado grande entusiasmo para as histórias. Eu lancei há alguns meses Rule of Wolves e vejo esse livro como possibilidade de finalizar o ‘Grishaverso’. Mas existem alguns projetos em andamento e certamente deixei a porta aberta para o caso de querer retornar a Ravka no futuro. Eu só não sei se isso vai ser em seis meses ou seis anos. 

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