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Sexo forçado: o lado obscuro da indústria pornô no Japão

Como a indústria do pornô japonesa, que fatura 4,4 bilhões de dólares por ano, alicia e obriga meninas a estrelar filmes eróticos

Por Da redação
Atualizado em 29 Maio 2017, 10h40 - Publicado em 29 Maio 2017, 10h39
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  • Ela tinha 23 anos e sonhava em ser uma estrela da música quando foi abordada por um homem em uma movimentada rua de Tóquio, com a oferta de trabalho como modelo. Ao aceitar, caiu na armadilha de uma rede de coerção que arrasta milhares de jovens do Japão a participar de filmes pornôs todos os anos. Aroma Kurumin, cujas cenas gravadas em 2013 ainda circulam na internet, apesar de seus esforços para tirar as imagens do ar, é uma das vítimas das produtoras de filmes eróticos. Trata-se de um fenômeno antigo, que só agora começou a ser revelado.

    “Pensei que era a oportunidade para realizar o meu sonho”, conta a jovem. O pesadelo começou com uma entrevista e uma sessão de fotos sem roupa — na promessa de que só teria que posar assim uma vez — para uma famosa revista sensacionalista. A “agência de modelos”, então, a convidou para outra sessão de fotos e filmagens em Saipan, no Oceano Pacífico. Lá, Aroma se viu cercada de homens e pressionada a rodar cenas quentes pelas quais depois recebeu um pagamento ínfimo. “Tudo aconteceu muito rápido. Quando me recusava a fazer algo, eles diziam que essa era a melhor forma de começar uma carreira musical e insistiam até eu ceder”, lembrou ela, educada em um país onde a mulher nunca deve dizer “não”, ainda mais quando jovem.

    Aroma Kurumin é o apelido que agora ela usa como youtuber e ativista para conscientizar outras meninas sobre essa situação e evitar que mordam a isca da poderosíssima indústria pornô japonesa, na qual conglomerados que monopolizam redes de TV, gravadoras, editoras de livros, agências de “talentos” e produtoras de filmes são máquinas de sugar aspirantes ao estrelato, que se tornam presas fáceis nas mãos de charlatões.

    “O problema existe há anos, mas só agora começamos a falar dele”, diz a coordenadora e advogada da ONG que apoia vítimas do tráfico sexual Lighthouse, Aiki Segawa, acrescentando que o fenômeno “continua sendo um tabu no Japão”.

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    Com sede na capital, a organização recebeu só neste ano mais de 40 pedidos de ajuda de meninas obrigadas fazer pornô. Em geral, a vítima é mulher, tem entre 18 e 25 anos e o sonho de brilhar em uma carreira no mundo da moda, música ou cinema. Além dos “caça-talentos”, que abordam meninas na rua, a indústria do pornô se vale de anúncios em revistas, na internet e até publicidade em caminhões, prometendo excelentes salários para trabalhar meio expediente como modelo ou comissária de bordo. As interessadas vão a entrevistas onde são convencidas a assinar contratos confusos, e depois chantageadas de diversas formas para participar das filmagens. Algumas são ameaçadas fisicamente e até estupradas. As cenas são gravadas e distribuídas como filmes, segundo Aiki Segawa.

    Em um relatório recente, a ONG Human Rights Now revelou o caso de uma jovem que se matou depois de ver seus vídeos espalhados na rede e não conseguir impedir a distribuição. “As vítimas se sentem muito envergonhadas e assustadas para pedir ajuda ou relatar sua experiência”, afirmando a coordenadora da Lighthouse, destacando que quase sempre elas “se culpam e acreditam ser as responsáveis pela situação”.

    Uma pesquisa feita no início deste ano pelo governo com 2.500 aspirantes ao estrelado revelou que 27% das jovens contratadas por “agências de talentos” foram chamadas para gravar cenas de sexo, e 8% delas aceitaram. Diante disso, foi decidido fazer uma campanha de conscientização.

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    As ONGs exigem leis de trabalho mais rígidas — para prevenir os abusos –, maior controle sobre as “agências de talentos” e que os filmes sejam supervisionados para garantir que todos os atores participam com pleno consentimento. Aiki Segawa, no entanto, admite ser “difícil” controlar a gigantesca indústria do pornô japonês, uma das maiores do mundo, com faturamento de 4,4 bilhões de dólares por ano e uma crescente projeção mundo afora.

    (Com agência EFE)

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