Na noite desta quinta-feira 28, um verdadeiro batalhão de artistas uniu forças a líderes indígenas e cientistas em uma live global em prol dos povos nativos da Amazônia. Nomeado de Artists United for Amazonía: Protecting the Protectors (Artistas Unidos pela Amazônia: Protegendo os Protetores, em tradução livre), o evento foi conduzido pela atriz e ativista Oona Chaplin, e reuniu nomes de peso como Jane Fonda e o fotógrafo Sebastião Salgado, que reivindicaram ações por parte de governo brasileiro.
Uma sucessão de fotos de indígenas clicados por Salgado tomou as telas enquanto o renomado fotógrafo entoava um apelo em tom dramático. “O governo brasileiro relaxou o controle a fazendas e garimpos que estão invadindo as reservas indígenas, esses invasores levam o coronavírus até eles. É urgente que o presidente do Brasil e os líderes do legislativo e do judiciário criem uma força-tarefa para combater invasões ilegais em território indígena e garantir a saúde e bem-estar da população nativa”, cobrou antes de convocar os espectadores a se unirem a ele em um abaixo assinado.
Longe das ruas, Jane Fonda também não deixou de protestar. A atriz e ativista chamou atenção para o avanço da monocultura brasileira em direção a terras indígenas, pediu consumo consciente e criticou as grandes empresas que desmatam a floresta. O cantor Ivan Lins também não vacilou em alfinetar o governo antes de entoar Meu País – segundo ele, uma canção sobre as belezas brasileiras e a dor de ver as coisas dando errado no país. “Nosso governo está usando a situação do coronavírus. Eles não estão protegendo as nossas tribos. O que parece é que eles querem exterminá-los, colocar fogo nos seus territórios. Isso é muito ruim. É um crime, e nós precisamos pará-lo”, disparou sem meias palavras. Wagner Moura, por outro lado, optou por uma abordagem factual: usou seu tempo para apresentar números sobre o desmatamento, em ascensão durante a pandemia, e pedir doações.
Apesar das alfinetadas, o clima geral era quase etéreo. Uma gravação com imagens da floresta e a narração de Morgan Freeman – cuja voz foi alçada a um patamar que beira o divino depois de interpretar Deus em O Todo Poderoso – foi o primeiro a ser ouvido. Oona Chaplin apareceu logo em seguida e deu tom ao que viria adiante: envolta em uma sala repleta de vestimentas coloridos que remetem aos povos nativos e empunhando um bracelete indígena, a atriz fez um discurso zen sobre conexão e convidou os expectadores a embarca em uma viagem ao coração da floresta – materializada por uma benção musical dada pelo líder indígena brasileiro Mapu Huni Kuim.
Nas mais de três horas que se seguiram, apresentações musicais mornas e otimistas à lá Criança Esperança se alternaram à falas informativas de cientistas, que usaram números para mostrar a crescente devastação das florestas. O ponto alto, porém, ficou por conta da participação indígena. Líderes de diversas aldeias ocuparam o espaço para relatar as dificuldades enfrentadas pelos povos nativos durante a pandemia e lançar protestos políticos. “Há uma destruição programada em curso. O governo brasileiro odeia os povos indígenas. Ele quer apagar as nossas histórias o nos exterminar”, disparou Sonia Guajajara, líder indígena e vice na chapa de Guilherme Boulos nas eleições de 2018. Uma série de ativistas jovens alertaram para a falta de leitos e o colapso do sistema de saúde em Manaus em um vídeo que incluiu ainda jovens defensores ambientais de outros países, como a sueca Greta Thunberg. Quase ao final do evento, um cântico nativo entoado por uma indígena trajada em adereços tradicionais e com os olhos marejados assumiu o posto de momento mais emocionante da noite.
O evento foi idealizado para promover o Fundo de Emergência da Amazônia, lançado no mês passado por uma coalizão de organizações indígenas, ONGs e aliados para dar suporte aos povos nativos ameaçados pela Covid-19. A meta da organização é arrecadar 5 milhões de dólares nos próximos 60 dias para atender necessidades imediatas como alimentos e suprimentos médicos, além da proteção e segurança para territórios indígenas.