‘Salve Jorge’: Por que a morte de Jéssica não convenceu
Falta costura para os fatos da trama das nove, o que derruba a credibilidade perante o público
Por Mariana Zylberkan
27 jan 2013, 15h26
Nesta semana foi ao ar em Salve Jorge a tão esperada cena em que Jéssica (Carolina Dieckmann) é assassinada por Lívia (Claudia Raia). Junto com a morte da personagem, o público assistiu a um atentado à tradição nas novelas brasileiras: a de, oferecer sequências de homicídios bem costuradas que marcam épocas. Foi assim quando uma sequência de tiros finalmente calou a famigerada vilania de Odete Roitman em Vale Tudo (1989). A porção policial de Gloria Perez, porém, passou longe. Decepcionou não só pela falta de coerência na forma como Lívia matou Jéssica — com uma seringa letal que mantinha na bolsa -, mas também pelo descuido com a relação entre os fatos da própria trama que, se bem costurados, proporcionam o suspense necessário a esse tipo de cena.
Há muitos capítulos, Jéssica descobriu que o tráfico de pessoas é chefiado por uma mulher depois de ver seus pés calçados em um poderoso par de sapatos exclusivos durante passagem pela boate na Turquia. No desfile onde se deu o assassinato, a vilã estava com os mesmos sapatos e, mesmo agachada ao seu lado, Jessica não reparou neste detalhe, apesar de ter dito para Morena (Nanda Costa) que repararia nos pés de todas as convidadas para, enfim, descobrir a identidade de sua algoz. Só foi reparar nos sapatos mais tarde, no banheiro onde, contra todas as probabilidades, ela e Livia ficaram a sós em um evento de moda lotado.
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Também é difícil de engolir a decisão de Morena e Jéssica terem pedido ajuda justamente para Lívia, uma pessoa que mal conhecem. Se o terror tocado pelos sequestradores as amedronta a ponto de impedi-las de revelar o drama que vivem aos próprios familiares, fica difícil acreditar o que as levaria a procurar a ajuda de uma desconhecida em uma festa onde Wanda (Totia Meireles) e Russo (Adriano Garib) estavam presentes — e poderiam perceber o movimento.
A teledramaturgia dá margem para situações nem sempre condizentes com a realidade. Mesmo assim, as novelas brasileiras reúnem cenas de assassinatos capazes de prender o telespectador. Relembre abaixo as melhores sequências de matanças.
Mais do que a cena em si, o assassinato de Salomão Hayala em O Astro foi marcante por ter inaugurado, em 1977, a tática “quem matou” nas novelas. A autora Janete Clair conseguiu manter o suspense até o último capítulo e causou uma enorme mobilização popular. No remake da novela exibido em 2011, a cena do assassinato foi atualizada e teve efeito de computação gráfica. Após levar uma coronhada na cabeça, o empresário cai pela janela da mansão junto com um botão arrancado da roupa do assassino. A sequência foi acusada de plágio pela enorme semelhança com cena do filme Watchmen.
Nazaré Tedesco (Renata Sorrah) fez escola ao matar seus desafetos empurrando-os do alto da escada em Senhora do Destino (2004). O autor Aguinaldo Silva fez referência ao “método Nazaré Tedesco de assassinato” na novela Fina Estampa (2011). Talvez, ciente de que dificilmente conseguiria superar a diva do mal, Aguinaldo fez a perua Tereza Cristina imitar Nazaré toda vez que precisou matar alguém. Ela jogou o mafioso degraus abaixo em sua mansão, quando ele passou a chantageá-la, e eletrocutou Ferdinand (Carlos Machado) na banheira do motel. Em Senhora do Destino, Nazaré se livrou do seu cúmplice, o taxista Gilmar (Roberto Bomtempo), ao jogar um ventilador ligado na piscina com ele dentro.
A vilã Flora, de João Emanuel Carneiro, podia ter dado umas aulas de psicopatia para Lívia (Claudia Raia), de Salve Jorge. Em A Favorita (2008), ela consegue matar Gonçalo (Mauro Mendonça) de infarto ao forjar o assassinato de sua neta Lara (Mariana Ximenes) e sua mulher Irene (Glória Menezes). A habilidade da vilã em impressionar Gonçalo ganhou ares de filme de terror.
Em Celebridade (2003), a reação do assassinado Lineu Vasconcelos (Hugo Carvana) foi tão crível que quase fez a “cachorra” Laura (Claudia Abreu) se arrepender de ter disparado contra seu peito. A responsável pelo crime foi revelada apenas no fim da novela.
O assassinato de Jorge Tadeu (Fábio Jr.) era para soar como tragédia, mas foi ao ar em tom de comédia em Pedra sobre Pedra (1992). O autor Aguinaldo Silva reservou ao telespectador apenas o som do disparo e substituiu o derrame de sangue pela reação cômica da beata vivida por Miriam Pires. O fotógrafo mulherengo se beneficiou muito da morte e foi um dos poucos personagens mais interessantes mortos do que vivos. Seu espírito satisfazia as muitas amantes que iam a seu túmulo para comer a flor que lá brotava.
O assassinato dos amantes Juca Pirama (Luis Gustavo) e Marlene (Tássia Camargo) foi crucial para Sassá Mutema (Lima Duarte) se tornar o grande herói na novela O Salvador da Pátria (1989). O boia-fria foi culpado pelo crime e preso, já que era marido de Marlene. Ele enfrenta todo o calvário na cadeia e consegue provar sua inocência com a ajuda da professora Clotilde (Maitê Proença). No fim, a integridade de Sassá Mutema vence a corrupção engendrada por Juca Pirama na política da pequena cidade de Tangará.
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